O futebolista português Sérgio Silva admitiu um "cenário aterrador" e o sentimento de receio vivido após escapar à tragédia no jogo do campeonato indonésio que fez mais de uma centena de mortos e dezenas de feridos..Em entrevista à Lusa, o defesa, de 28 anos, contou que, depois do apito final da derrota (3-2) caseira do Arema FC com o Persebaya, a equipa já nem ia fazer a habitual volta de agradecimento aos adeptos, mas que, ao aproximar-se um pouco mais de uma bancada para pedir desculpa, acabou por ver alguns adeptos a invadir o campo.."Quando começámos a ver que estavam a invadir bastantes adeptos, ficámos com um bocado de receio, porque não sabíamos se nos queriam fazer mal. Fomos a correr para o balneário e barricámo-nos aí, sem saber o que se estava a passar. Ao longo do tempo, fomos obtendo informações do exterior e havia muitos feridos, muito alvoroço, mortos atrás de mortos. Foi um cenário aterrador", disse..Sérgio Silva contou que os jogadores estavam "receosos" por estarem fechados e chegaram a colocar "mesas em frente às portas, sem saber o que se estava a passar e a quantidade de gente que podia arrombar". Só mais tarde, reconheceu, é que se aperceberam de que a agitação era sobretudo para escapar ao gás lacrimogéneo atirado pelas autoridades.."Começámos a perceber que as pessoas estavam em pânico e não era para nos fazerem mal, mas, simplesmente, para terem espaço para circular, porque muitas pessoas morreram por esmagamento e em pânico", relembrou, esclarecendo que a sua família está em Portugal e que só tranquilizou a mulher e o filho quando já tinha saído do estádio em segurança no autocarro do clube, apesar de ainda estar "em choque" com o que tinha acontecido..A cumprir a segunda época naquele país, o futebolista português admitiu ainda que os adeptos do Arema FC - e do futebol na Indonésia - "são bastante fanáticos" e que este "era um jogo de alto risco", mesmo sem a presença de adeptos do clube rival: "Achámos que podíamos demorar mais tempo a sair do estádio até os adeptos ficarem mais calmos, mas nada de mortos nem nada que se parecesse"..Perante o que classificou de "descontrolo total", Sérgio Silva assumiu não saber como vai ser o futuro do futebol na Indonésia, apontando apenas para a semana de paragem do campeonato já decretada pelas autoridades e para a expectativa de mais consequências. Por outro lado, evitou pronunciar-se sobre a atuação da polícia e o impacto da utilização do gás lacrimogéneo.."Não sei se a polícia atuou bem ou mal. Acho que tentou fazer o melhor, certamente morreram pessoas inocentes, mas, se calhar, atingiu uma situação de descontrolo em que a polícia foi obrigada a tomar as medidas que tomou", considerou, sentenciando: "Se vir que corro o mínimo de perigo, serei o primeiro a ir para perto dos meus em Portugal"..As autoridades indonésias disseram inicialmente que os tumultos ocorridos no final do jogo de futebol em Java Oriental provocaram 174 mortos, mas o número oficial foi entretanto revisto para 125..O surto de violência aconteceu depois de cerca de 3.000 adeptos do Arema FC terem invadido o campo após uma derrota (2-3) contra os rivais Persebaya Surabaya e entrarem em confronto com as forças de segurança, que por sua vez utilizaram gás lacrimogéneo, numa tentativa de dispersar a multidão..Segundo o chefe da polícia de Java Oriental, Nico Afinta, a maioria das mortes foram causadas pela debandada de adeptos, muitos dos quais sufocados até à morte enquanto tentavam sair do estádio. Muitas das pessoas morreram espezinhadas no caos da debandada..Nos tumultos, que se estenderam ao exterior do estádio, morreram pelo menos dois agentes da polícia. O campeonato indonésio de futebol foi suspenso e as autoridades ordenaram um inquérito aos incidentes..O incidente da noite passada já é considerado uma das piores tragédias da história recente do futebol mundial.