Rendeiro detido este sábado num hotel de cinco estrelas em Durban

Antigo banqueiro será ouvido em tribunal na segunda-feira. Diretor da PJ diz que não foi detetada qualquer ajuda a partir de Portugal, mas que a "fuga foi preparada durante vários meses".
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A PJ anunciou na manhã deste sábado a detenção de João Rendeiro, o antigo homem forte do BPP, que já soma três condenações em tribunal - a penas de 10, 5 e 3 anos e meio de prisão - e estava em paradeiro desconhecido desde que, em setembro, após alguns dias passados no Reino Unido, anunciou publicamente que não tencionava voltar a Portugal. A polícia sul-africana já anunciou, entretanto, que o ex-banqueiro será ouvido em tribunal na segunda-feira.

Esta manhã, em conferência de imprensa, foi o próprio diretor nacional da PJ a contar os pormenores da investigação que conduziu à detenção de Rendeiro na África do Sul. Luís Neves não avançou o local exato da detenção, mas o DN apurou que o ex-banqueiro foi detido no hotel de cinco estrelas Forest Manor Boutique Guesthouse, na cidade sul-africana de Durban

Segundo Luís Neves, Rendeiro saiu do Reino Unido a 14 de setembro e chegou à África do Sul quatro dias depois, a 18 de setembro. O responsável da PJ não adiantou pormenores sobre o percurso feito nesses quatro dias, mas garante que a PJ sabe o que se passou nesse hiato.

Uma vez chegado a Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul, João Rendeiro instalou-se "na zona mais rica", no centro financeiro, em" hotéis de cinco estrelas". Mas "depois teve outros locais por onde deambulou no sentido de dificultar" a investigação sobre o seu paradeiro. Terá também circulado por países circundantes, mas não foram precisados quais.

Não vivendo sob disfarce, Rendeiro mover-se-ia com muitos cuidados e "não circulava livremente", tendo reagido "com surpresa" à detenção - "Não estava à espera".

Durante o tempo em que esteve em fuga à justiça, prosseguiu o diretor nacional da PJ, Rendeiro "utilizou todos os meios, tecnologicamente mais avançados, que custam uma exorbitância", para iludir as autoridades quanto ao seu paradeiro. Exemplo disso foi a entrevista à CNN Portugal, feita "de uma forma encriptada, que não permitia que fosse localizado". São "meios que não estão ao dispor de forma fácil", referiu Luís Neves, apontando este fator como um "grande sinal que, de facto, não pretendia jamais, em tempo algum, apresentar-se às autoridades". "Fez tudo" para ocultar o seu paradeiro, "tentando se calhar algum estatuto que permitisse inviabilizar a extradição" (eventualmente através de investimento no país).

O responsável da PJ diz que não foi detetada qualquer ajuda a partir de Portugal, mas que a "fuga foi preparada durante vários meses".

João Rendeiro será agora presente às autoridades judiciárias sul-africanas, o que deverá suceder nas próximas 48 horas, para que seja decidido o seu futuro imediato, "nomeadamente se será decretada a prisão preventiva ou não". "Iremos reforçar a necessidade de aplicação de uma medida detentiva", sublinhou Luís Neves, "para que a extradição seja acautelada".

"Iremos enfatizar o facto de esta pessoa ter uma grande capacidade económica" capaz de "lhe dar grande mobilidade e de fuga", referiu, sublinhando que o próprio Rendeiro admitiu publicamente que não tem qualquer intenção de se apresentar "às autoridades ou aos tribunais portugueses".

Luís Neves assegurou que tudo será feito para que "a justiça seja materializada nesta parte final". "Se e quando for extraditado, naturalmente será para cumprimento de pena", garante o diretor nacional da PJ, que diz que, apesar da pandemia, há condições para ir buscar Rendeiro à África do Sul.

Segundo disse hoje Luís Neves há muito que a PJ sabe que o antigo líder do BPP estava na África do Sul. Já o sabia há um mês, quando Maria de Jesus Rendeiro foi detida para interrogatório e revelou então a localização do marido.

Segundo avançou, na semana de 20 a 24 de novembro, a PJ reuniu-se com os seus parceiros e com os mais altos dirigentes policiais da República da África do Sul, onde explicou "o quão grave tinham sido os crimes cometidos por esta pessoa" - "Tivemos a pronta resposta do mais alto dirigente desta Polícia Central que nos disse que iria empenhar todos os meios os melhores meios para poder detetar e deter esta pessoa, o que aconteceu hoje às 07 da manhã".

A polícia sul-africana, entretanto, já anunciou que Rendeiro será ouvido em tribunal na segunda-feira.

"Ele já estava sob nossa vigilância e assim que a necessária documentação chegou prendemos este indivíduo, esta manhã, em Umhlanga Rocks, norte de Durban", disse o porta-voz do comissário nacional da polícia sul-africana Vishnu Naidoo, à Lusa.

O porta-voz policial sul-africano adiantou que o ex-banqueiro, sobre quem pendia um mandado de detenção internacional, encontra-se detido numa esquadrada da polícia, em Durban, e comparecerá no Tribunal da Magistratura de Durban na segunda-feira como parte do processo de extradição.

Rendeiro foi condenado em três processos judiciais a penas de 10, 5 e 3 anos e meio de prisão. Entre os crimes de que foi acusado estão falsidade informática, falsificação de documentos, burla qualificada, fraude fiscal. Todos relacionados com a gestão do BPP, banco que foi fundado por João Rendeiro em 1996 e cuja resolução foi decretada em abril de 2010 pelo Banco de Portugal, por não existir viabilidade de recapitalizar e recuperar a instituição.

Com o acumular de condenações o antigo bancário foi interpondo recursos de forma a evitar cumprir as penas de prisão até que no verão passado informou as autoridades portuguesas de que iria passar uns dias a Londres, não tendo, todavia, regressado a Portugal.

Quando em setembro se soube da sua fuga soube-se que se tinha refugiado num país fora da Europa.

Situação que confirmou num texto que publicou no blogue "Arma Crítica". No texto dizia-se injustiçado e que a pena que lhe tinha sido aplicada era "manifestamente desproporcionada" e que não tencionava voltar a Portugal.

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