JOÃO MARCELINO - A gestão do caso Deco e a falta de opções
Agora que a boa imprensa se abate sobre a selecção, reconhecendo o bom jogo realizado com a Coreia do Norte, é tempo de reflectir, substantivamente, sobre alguns casos e situações verificadas nestes primeiros dias de competição. Deco - Depois do que disse, "não podia" jogar e não jogou. Se isso tivesse acontecido, Queiroz teria fragilizado a sua condição de líder. Agora Deco já expiou parte da sua culpa, e os desabafos pouco profissionais produzidos depois do jogo com a Costa do Marfim, mas só terá valido a pena se "a lesão", como se imagina, tiver feito parte do projecto piedoso de evitar que mais um jogador de qualidade voltasse antes de tempo a casa. A solução neste caso foi boa. Deco percebeu, cá fora também se percebeu, e… siga o Mundial. Com Deco? Sem Deco? Depende de como o jogador tiver reagido internamente. Convém, no entanto, não minimizar um problema concreto: do meio-campo para a frente, o plantel é curto…
Meio-campo - Com o declínio de Deco, não temos agora quem seja capaz de promover devidamente a circulação de bola. Daí que o 4x3x3 seja neste momento preferível ao 4x4x2 porque Raul Meireles e Tiago (e Danny) são jogadores com capacidade para um jogo mais vertical, área a área. Veloso não tem características para isso; Duda, talvez, mas…; Amorim (agora lesionado) era alternativa adequada a "trinco" ou defesa-direito; nas alas só há Simão e Cristiano Ronaldo e o substituto é ainda o mesmo: Danny. Como se percebeu desde o momento da convocação, e sobretudo depois da saída de Nani, está complicado. Até por isso é de admitir que Queiroz possa fazer algumas alterações significativas frente ao Brasil, poupando jogadores fundamentais para os oitavos-de-final praticamente garantidos. Pepe e Duda, por exemplo, podem entrar de início. Deco também.
Tiago - Fantástica exibição! No auge da experiência de uma carreira que nos clubes foi boa (Lyon, sobretudo) mas que na selecção nunca teve o reconhecimento à altura das suas qualidades. Este é momento dele. Tiago não falhou contra a Coreia do Norte e agora tem a responsabilidade de, com Raul Meireles, garantir que a equipa pode preencher, com dinâmica, o longo espaço a percorrer do meio-campo até ao ponta-de--lança. É uma tarefa fisicamente dura, tanto mais quanto Portugal for andando na prova. Não seria de admirar que depois deste enorme contributo ele pudesse ser poupado. Ele e Meireles ou apenas um dos dois.
Outras afirmações - Fábio Coentrão, claro, mas não se esqueça Eduardo. O guarda-redes tem feito tudo bem. Na baliza há sobretudo um jogador de personalidade, com presença, e isso tranquiliza a equipa. De Fábio Coentrão pode dizer-se que parece preencher, com ganho, um lugar vago desde o abandono de Nuno Valente. E tem um enorme potencial.
Três casos sensíveis - Na faixa lateral direita, Paulo Ferreira só defende. Miguel ataca mas é muito vulnerável. Se Amorim tivesse chegado mais cedo, e não se lesionasse, talvez tivesse sido uma grande opção para este período em que se sente bastante a falta de Bosingwa. No meio--campo, Pedro Mendes não tem comprometido, mas Pepe faria a posição com um sentido mais vertical, o que neste sistema seria bem-vindo. E depois existe a suprema das debilidades, que aliás era conhecida: a equipa depende imenso de Cristiano Ronaldo, que fez um último jogo brilhante como homem de equipa. Assim se mantenha, com espírito de capitão, e não tenha azares. A carreira da equipa depende disso.