João Bénard da Costa- Outros Amarão as Coisas que Amei

O filme de Manuel Mozos chega aos cinemas. Leia as críticas de inês Lourenço e Rui Pedro Tendinha
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RUI PEDRO TENDINHA (4/5)

A morte, a morte...essa coisa de cinema

A vida de João Bénard da Costa não "dá" um filme. O seu amor pelo cinema e pelas artes já "dá". E que filme! Nas mãos de Manuel Mozos, filmar o legado intelectual do antigo diretor da Cinemateca e um dos mais relevantes pensadores do cinema em Portugal, é uma demanda pelos mistérios da própria Sétima Arte. Na verdade, João Bénard da Costa- Outros Amarão as Coisas que Amei não quer ser um doc biopic sobre o retratado, prefere ir antes atrás da quimera da cinefilia. Um filme sobre o cinema e os seus esplendores? Dir-se-ia que é sobretudo uma procura quântica sobre as benesses do amor pelas imagens. Mozos filma as palavras, os lugares e os filmes de João Bénard da Costa. Mas está também a filmar o sagrado, o contrato entre o espectador e o ecrã prateado. Com um espectro de morte sempre presente, é também um documentário que celebra uma ideia de vida. O plano "roubado" a Espelho Mágico, de Oliveira, onde vemos Bénard da Costa em Veneza, é a prova de que o cinema, o cinema maior, é sempre um combate entre morte e vida. Um documentário lindíssimo. Se é demasiado cinéfilo? Não importa, está do lado da vida.

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INÊS LOURENÇO (5/5)

Ensinando o amor à arte

Estreia finalmente o documentário de Manuel Mozos que encheu a sala principal do Cinema São Jorge, na última edição do Festival Doclisboa. João Bénard da Costa é a figura incontornável deste labor memorialista, que não obedece em demasia a uma conotação biográfica. Além da afluência de espectadores, o que pairou no final dessa sessão foi qualquer coisa de inefável. Como o era, aliás, tudo o que o gosto arrebatado e poético de Bénard da Costa nomeava.

Seguindo por alguns dos seus escritos, lidos em voz off - peças de estilo inconfundível, que criavam literatura em torno de um filme ou de um quadro - Manuel Mozos vai intercalando memórias, lugares e imagens de algumas das obras que João Bénard da Costa confundia com a própria vida. Como se a beleza se tornasse uma propriedade concreta daquilo que o programador e diretor da Cinemateca (por 18 anos) tinha em alta estima. Daí que o verso de Sophia de Mello Breyner Andresen traduza de maneira singular do que trata este magnífico filme: "Outros amarão as coisas que eu amei". Somos compelidos aqui, quase sem nos apercebermos, a fazê-lo.

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