A 75.ª edição da Volta a Espanha começa nesta terça-feira em Irún, no País Basco, precisamente no mesmo dia em que, em Itália, o Giro entra nos últimos e decisivos seis dias de prova, com o português João Almeida a defender a liderança, presa por 15 segundos. Alberto Contador, antigo ciclista vencedor de todas as grandes corridas internacionais e comentador da Vuelta para o Eurosport, olhou para o homem do momento com admiração e esperança, de tal forma que, ao DN, disse que o corredor português "é o presente e o futuro do ciclismo"..Contador, de 37 anos, assume que há um grande lote de favoritos a chegar com a camisola vermelha (símbolo do líder na Vuelta) a Madrid, no dia 8 de novembro, sobretudo devido ao contexto de pandemia, numa prova que se vai realizar em condições climatéricas mais adversas. Chris Froome, Primoz Roglic, Tom Dumoulin, Alejandro Valverde, Richard Carapaz, Marc Soler e Enric Mas, são os nomes que vão estar debaixo do olho por parte do antigo campeão espanhol..Refira-se que nesta que será a última grande Volta do ano, vão ainda participar os portugueses Rui Costa, Ivo Oliveira, Rui Oliveira, Nélson Oliveira e Ricardo Vilela. Quem sabe se entre eles não estará uma surpresa....Temos assistido no Giro a algumas surpresas, nomeadamente João Almeida, que é líder da prova. Qual a sua opinião sobre o ciclista português e julga que é um nome a ter em conta para o futuro? Antes do início do Giro ninguém esperava que o João Almeida fosse o líder da prova durante tantos dias e que o seu grande nível fosse tão evidente. O próprio percurso do Giro está a beneficiá-lo bastante e isso está também a influenciá-lo. Estamos agora a ver o rendimento que pode atingir, mas também como a sua equipa tem trabalhado em conjunto com um único objetivo. Ele vai lutar pelo Giro de Itália, mas também será um homem importante para o presente e o futuro do ciclismo..Mas olhando para a Vuelta que vai começar nesta terça-feira, em sua opinião quem são os favoritos à vitória final? No que diz respeito aos ciclistas internacionais, os favoritos são Primoz Roglic, Tom Dumoulin e Chris Froome, para quem esta é uma corrida muito importante. E também Richard Carapaz, que terá aqui um grande desafio porque no próximo ano vai substituir Froome na INEOS. Entre os espanhóis, temos de incluir Alejandro Valverde, Marc Soler e Enric Mas..Arrate, Laguna Negra, Tourmalet ou Angliru. Qual destas etapas de montanha será a chave na Vuelta deste ano? Cada uma delas será decisiva durante a corrida porque são etapas muito complicadas. Mas entre todas elas o Tourmalet e o Angliru serão as mais importantes e onde eu acho que mais coisas podem acontecer com influência direta na corrida. São duas passagens de montanha muito diferentes e lendárias com percentagens impossíveis e muito difíceis. Os favoritos devem saber que estes são dias muito importantes em que não se pode falhar, porque a corrida mudará após estas duas etapas. Ainda assim, é preciso aproveitar todas as oportunidades porque, na edição deste ano, existem muitos fatores condicionantes e tudo pode acontecer..O Alberto competiu com Chris Froome durante alguns anos. Acredita que ele salvará a temporada da INEOS antes de deixar a equipa? A Vuelta deste ano será muito importante para o Froome. Depois da queda no ano passado, ele não tem conseguido competir ao nível que estávamos habituados e tenho a certeza que ele quer mostrar que, apesar do acidente que teve, continua o mesmo e, como tal, tentará ganhar um pouco mais de confiança..Fabio Aru é um veterano do Grand Tour, que venceu a Vuelta em 2015. Ele pode aspirar à camisola vermelha, após duas temporadas complicadas? A situação de Aru é um pouco semelhante à de Froome. O Fabio está num nível inferior em relação ao que conhecíamos há mais de dois anos. Ele abandonou o Tour de França [nos Pirenéus] numa situação complicada e isso é algo que pode afetá-lo psicologicamente. Agora que procura uma nova equipa vai querer fazer uma grande corrida. Será, por isso, uma incógnita..Qual o ciclista espanhol em melhores condições para brilhar nesta Vuelta? Valverde conhece esta corrida melhor do que Soler e Enric Mas, mas a juventude está lá e, embora Valverde continue sólido, um ciclista como Enric Mas terá menos dificuldades na última semana da corrida. Vimos, por exemplo, no Tour de França como isso afetou a duração da corrida. Para a equipa Movistar, Enric Mas deve ser o principal trunfo, desde que Marc Soler não tenha as mesmas aspirações..A Vuelta 2020 tem três dias a menos doque as edições anteriores, e até ao primeiro dia de descanso há apenas uma etapa plana, quatro montanhas e uma alta montanha, que termina no Tourmalet. É um começo muito difícil para a maioria dos ciclistas? Não acho que seja muito difícil e quando chegar a hora da primeira etapa, todos os participantes estão num bom nível. Este desporto mudou muito porque no passado as primeiras etapas eram usadas para entrar gradualmente no ritmo. Agora não é assim. É preciso dar o máximo desde o início e com uma estratégia que permita ultrapassar a tensão da primeira semana que, por diferentes motivos, sempre acontece. Há sempre um dos favoritos que tem de abandonar a corrida em determinado momento e voltar a casa. As quedas são habituais e modificam o plano das equipas..A Vuelta 2020 realiza-se no outono, com condições climáticas muito diferentes das do verão. Até que ponto a temperatura, a chuva e possivelmente a neve podem afetar o desempenho dos ciclistas? Vai afetar e de uma forma muito importante. Há ciclistas que são influenciados negativamente por essas condições climáticas, enquanto outros podem beneficiar delas. No final será como sempre: calor, frio ou vento são positivos para uns e negativos para outros. Mas tendo em conta o traçado da Vuelta deste ano, o frio pode ter ainda mais importância, seja ela positiva ou negativa, do que noutros anos, porque etapas como o Tourmalet não são habituais nesta corrida e muito menos nesta altura do ano..Os ciclistas que estiveram no Tour de França terão um desempenho melhor do que aqueles que não participaram? Ter um tempo de descanso é sempre positivo. O Tour é muito severo fisicamente e, como tal, é preciso recuperar bem para enfrentar uma corrida como a Vuelta. Quem não foi ao Tour ou ao Giro terá falta de tempo de competição e isso é muito negativo..Venceu três vezes a Vuelta, duas vezes o Giro e outras duas vezes o Tour. Qual delas é mais difícil e porquê? Sem dúvida, o Tour. É a corrida que todos querem vencer desde o primeiro momento em que entram no ciclismo. Todos competem a 100% e ninguém dá nada de graça. É a corrida mais complicada e a que gera mais lucro..Qual é a sua melhor recordação na Vuelta? Escolho o Angliru de 2017, quando me retirei do ciclismo profissional. É a lembrança mais emocionante e especial de todas as vezes que competi na Vuelta. A atmosfera era mágica e foi um momento que nunca esquecerei..Para si quem é o melhor ciclista de todos os tempos e porquê? O Marco Pantani. Nunca vi ninguém como ele. O que ele nos transmitia quando competia era algo de extraordinário. Foi o melhor de sempre para mim..(* as questões a Alberto Contador e as respetivas respostas foram feitas por escrito.)