Jerónimo não vê impedimento em Centeno no Banco de Portugal

Será um sinal de que o PCP vai votar contra a proposta do PAN de impedir que um ex-governante assuma o cargo durante um "período de nojo" de cinco anos?
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O secretário-geral do PC admitiu, em entrevista à TSF, que não concorda com a proposta de um "período de nojo", feita pelo PAN, em relação à ida de ex-governantes para o Banco de Portugal, dando a entender que apoia a nomeação do ex-ministro das Finanças, Mário Centeno, para o cargo.

Na entrevista desta terça-feira, o líder do PCP disse estar de acordo com a existência de um período de espera - proposta é de cinco anos - para banqueiros, mas não para governantes, mas sobretudo não quer ver essa questão a arrastar-se na atualidade política.

Sobre o novo titular da pasta das Finanças, João Leão, afirmou: "Não conheço bem a pessoa em si e não tenho nada contra".

Na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças (COFA), na quarta-fera, ficará claro se tem pernas para andar o projeto de lei do PAN, já aprovado na generalidade, que impede um ministro das Finanças de transitar para chefe máximo da regulação bancária num período até cinco anos depois de deixar o governo.

O projeto do PAN foi aprovado no dia 9 com os votos favoráveis de todos os partidos menos do PS (que votou contra) e do PCP e do PEV (que se abstiveram). Um primeiro revés para os socialistas.

Quem poderá salvar Centeno serão os comunistas, escreveu o DN, e poderá mesmo ser isso que vai acontecer.

O PCP pode mudar o sentido de voto quando se passar à votação final e global e, em vez de se abster, passar mesmo a votar contra, como o PS fez na votação na generalidade. Aí, os 108 votos do PS somados aos dez do PCP criaram uma maioria de 118 votos - ou seja, maioria absoluta dos 230. E o projeto será chumbado.

Dito de outra forma: para os comunistas a absoluta prioridade no setor bancário é mesmo o Estado assumir o controlo público dos bancos. As preocupações do PAN são secundárias.

O secretário-geral do PCP considerou, na mesma e entrevista, "inaceitável e um escândalo" que o Estado continue a "encharcar" o Novo Banco de milhões de euros quando há trabalhadores que "perderam tudo".

Esses portugueses que "perderam tudo", na atual crise causada pela pandemia de covid-19, vão "questionar que se injetem milhões e milhões de euros no banco", afirmou, responsabilizando o Estado e os governos pela situação e "poupando" a Lone Star, embora também tenha criticado o este fundo que apelidou de "abutre".

Este fundo, afirmou, "toda a gente sabia quem era", uma "espécie de abutre que procura apanhar os restos", neste caso, do BES.

O secretário-geral comunista fez ainda um comentário à notícia do Público de hoje, segundo a qual o contrato de compra pela Lone Star "previu que em 'circunstâncias de extrema adversidade', como uma pandemia, o Estado é forçado a injetar automaticamente o dinheiro necessário para manter o banco dentro das metas de solidez definidas".

Jerónimo de Sousa criticou que passe a "ser automático o encharcamento de milhões de euros numa autêntica sangria desatada, tendo em o quadro económico e social" em que o país vive.

"Estas injeções permanentes são mais chocantes na situação em que vivemos", disse.

O líder do PCP voltou a defender a nacionalização ou "o controlo público" do banco, que os comunistas vêm defendendo nos últimos anos, criticando que, neste processo, o Estado seja "um mero pagador e espetador".

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