O congresso dos trabalhistas, que decorre a partir de hoje e até quarta-feira, em Brighton, tem um programa com 450 atividades para os 13 mil participantes esperados. Poderão ser menos uns quantos. A dias do conclave, o Comité Executivo Nacional do partido decidiu acabar com o órgão representativo da juventude..Várias associações universitárias desfiliaram-se nos últimos meses daquele órgão devido à incapacidade da direção em cumprir a promessa de atribuir um voto a cada militante nas suas eleições. "É uma vitória para a democracia que o órgão corrupto dos Estudantes Trabalhistas esteja por fim a ser reestruturado", disse ao The Guardian uma fonte do movimento Momentum. No entanto, a organização vai continuar como o representante dos estudantes no partido, afirmou a secretária nacional, Rania Ramli..Para Luke Akehurst, secretário nacional dos Estudantes Trabalhistas de 1995 a 1996, esta decisão foi um ajuste de contas entre a fação de "leninistas" como Jon Lansman, líder do Momentum e próximo de Jeremy Corbyn, e os moderados que, como ele, se reveem no New Labour de Tony Blair. "Lansman e o Momentum acreditam que, ao esmagarem os estudantes trabalhistas, podem puxar o tapete dos novos deputados, vereadores e ativistas na ala moderada do partido. Este é o momento de 'Anakin Skywalker a massacrar os jovens no templo Jedi'. De forma mesquinha e vingativa, sabem que isso prejudicará as pessoas que se identificam com os estudantes trabalhistas, e aumentará as hipóteses de esses militantes abandonarem o Labour - mas não se importam", escreveu na Spectator ..A convenção deverá continuar a ser dominada pelo Brexit e também pelo Green New Deal. Sobre este tema, que recebeu o maior número de apoios à moção respetiva, o líder do partido não deve ter problemas em acolher as propostas em prol de uma reforma que transforme a sociedade e combata as alterações climáticas..Já sobre o Brexit, um cartoon de Matt, publicado no Telegraph, resume o sentimento de muitos britânicos. Aproveita o lema da liderança de Corbyn ("Para muitos, não para poucos") e num cartaz lê-se "Labour. Para muitas posições sobre o Brexit, não para poucas". Num artigo publicado no The Guardian , na terça-feira, Corbyn afirmou que um governo trabalhista vai tentar negociar o seu próprio acordo do Brexit, levá-lo a referendo e aplicar o resultado. No entanto, omitiu dizer se iria fazer campanha pela permanência ou pela saída..Durante o congresso, o eurocético Corbyn e a sua direção estarão sujeitos à pressão da maioria dos militantes. Em 90 moções relacionadas com o Brexit, 81 apelam para que o partido adote a posição pró-europeia. "Não há um meio-termo quando se trata de fazer campanha num referendo da União Europeia. Tentámos encobrir a nossa posição antes e falhámos por completo", disse ao Independent a deputada Marsha de Cordova..Em julho, Corbyn assegurou aos militantes que, em caso de ter como cenários uma saída sem acordo, o acordo de Theresa May ou um referendo pela permanência, que faria campanha pela última opção..Extrema impopularidade.A posição dúbia do líder não ajuda o partido e quem está a lucrar são os liberais democratas. Na mais recente sondagem YouGov, os trabalhistas caem para terceiro nas intenções de voto, com 21%, trocando com este partido anti-Brexit, agora com 23%. Os conservadores mantêm-se no topo, com 32%. Noutra questão relacionada, 58% dos eleitores do Labour apoiam a promessa dos liberais democratas de revogar o artigo 50.º de forma unilateral e continuar na UE..O improvável líder dos trabalhistas tem enfrentado várias rebeliões e críticas, mas até agora, aos 70 anos, ninguém se apresentou como alternativa - e não será nestes dias que isso irá acontecer. Se a liderança fosse um concurso de popularidade através de sondagens, o trabalhista da fação mais à esquerda estaria em maus lençóis. Há 70% de opiniões negativas e apenas 21% positivas..O líder trabalhista não retira dividendos da trapalhada do Brexit (e que até levou o conservador Financial Times a advogar que tomasse as rédeas do poder a Boris Johnson num governo de transição). E tem um passado e uma personalidade que geram demasiados anticorpos..Deputado desde 1983, Jeremy Corbyn ganhou notoriedade por recusar usar gravata e por ter convidado a visitar o Parlamento Gerry Adams, o então líder do Sinn Fein, o braço político do IRA, numa altura em que a Irlanda do Norte era sinónimo de violência..Mas Corbyn ultrapassou a onda de críticas e dedicou-se à sua circunscrição. O homem que não queria a Comunidade Económica Europeia nem a NATO, esse "Frankenstein militar", decidiu na Câmara dos Comuns de acordo com os seus princípios socialistas: só contra o próprio partido votou mais de 400 vezes. Esteve quase sempre em oposição a Tony Blair, tendo feito campanha contra a guerra no Iraque, por exemplo..Filho de um engenheiro elétrico e de uma professora de Matemática, militantes do Labour que se conheceram numa ação contra o fascismo em Espanha, Jeremy Corbyn cedo se destacou pelo ativismo enquanto estudante, não só no Labour mas em associações a favor dos direitos dos animais e contra as armas nucleares..A causa da Palestina levou-o a associar-se a pessoas, a associações, a páginas de Facebook com mensagens antissemitas e até a negacionistas do Holocausto. Essa associação alastrou ao partido e, durante o seu consulado, cresceu o número de queixas de antissemitismo -- 673 entre abril de 2018 e janeiro de 2019 --, o que levou a comissão da Igualdade e Direitos Humanos a lançar um inquérito. Corbyn diz que "não há lugar para o antissemitismo nem forma alguma de racismo" no partido..Preparado mas assustado.Na quinta-feira, em entrevista à BBC, Jeremy Corbyn disse estar "totalmente determinado" em levar para o governo o programa para "promover uma melhor justiça social", bem como "metas ambientais" com o objetivo de "gerar esperança, especialmente para os jovens". No entanto, ao responder afirmativamente que estava preparado para ser primeiro-ministro em breve, também se disse "assustado" com esse cenário..Corbyn nunca mostrou ambição para ser líder do partido, muito menos do país. Em 2015 foi o deputado John McDonnell quem o terá convencido a avançar, de que era a vez dele. As expectativas de Corbyn em conseguir obter o apoio de 35 colegas do partido eram tão baixas que não hesitou. Para Jon Lansman, a adesão deveu-se ao facto de ser uma pessoa com princípios..As suas críticas à influência dos EUA e às políticas de austeridade, na sequência da crise financeira de 2008, conquistaram muitos jovens eleitores. O número de membros do Partido Trabalhista aumentou e, em setembro de 2015, Corbyn conquistou a liderança com quase 60% dos votos. Mas a agenda à esquerda da nova direção entrou em choque com vários deputados trabalhistas, em especial os blairistas, e, entre demissões, houve uma movimentação para afastar Corbyn, mas este foi reeleito em 2016 e reforçou a sua posição. Desde então, vários membros mais moderados têm saído do partido..Nos últimos dias, Luciana Berger e Angela Smith, duas deputadas que se desfiliaram do Labour, juntaram-se aos liberais democratas. E o partido dirigido por Jo Swinson, 31 anos mais nova do que Corbyn, recebeu o elogio de Tony Blair.