Inaugurou em 1884, foi declarada instituição (privada) de utilidade pública em 1913. Teve uma das coleções mais diversificadas do mundo graças aos animais vindos do Brasil e de África, mas isso mudou com a descolonização. Sim, mas nos anos 90 começámos a fazer parte da EAZA, Associação Europeia de Zoos e Aquários, que envolve muitos zoos. Passámos a ser um jardim zoológico certificado, o que significa que somos inspecionados de cinco em cinco anos e cumprimos os requisitos para ter o "carimbo" de qualidade, e a fazer trocas de animais. Houve uma renovação nessa década e mais fortemente nos últimos 15 anos..Em Portugal, é o único a ter elefantes, por exemplo. Temos elefantes há mais de 60 anos. A equipa lida há muito tempo com essa espécie ou recebeu formação de pessoas que já cá trabalhavam antes. Cada uma destas espécies tem um trabalho específico, quem trabalha com elefantes não tem necessariamente de saber de primatas. Apesar da polivalência ser boa, a especialização é muito importante..São uma das espécies preferidas dos visitantes? Quais são hoje as mais procuradas? Sobretudo mamíferos e, dentro deles, o gosto depende das pessoas, há quem adore elefantes, pandas-vermelhos, leões... ou suricatas, que são pequenas mas de que os visitantes gostam muito. E algumas aves, quando veem uma águia-real acham interessante, é um animal imponente..Esse interesse especial pelas suricatas terá sido estimulado pelo filme da Disney? Não só mas também. De resto, são grupos de estrutura hierárquica e a forma como trabalham em conjunto dá dinâmica à instalação. Está sempre a acontecer alguma coisa: um a vigiar enquanto outros estão a trabalhar e a alimentar-se, outro a tomar conta das crias. E, como há galerias subterrâneas, passam-se coisas que ninguém vê. Tivemos o cuidado de colocar um tipo de terra que lhes permite escavar túneis alternativos aos que nós criámos. É uma das partes mais interessantes do trabalho no zoo, criar uma boa instalação para uma determinada espécie..Têm tido muitos nascimentos, desde as ditas suricatas a um golfinho-roaz. Qual é o segredo? Temos uma grande vantagem comparando com outros zoos no que toca a espécies de clima quente: enquanto na Alemanha, por exemplo, com um inverno rigoroso, têm belíssimas instalações interiores, nós não precisamos disso e não há nada melhor do que uma instalação exterior. Com elefantes, gorilas, etc. Não conseguem competir connosco porque temos melhores condições climatéricas. E temos know-how, claro, e aplicamos esse conhecimento..Foram o primeiro zoológico europeu a ter coalas. Porquê? Tínhamos uma ligação muito boa e muito forte com o zoo de San Diego, Califórnia, que coordenava o programa de reprodução, e a forma de fazer a instalação adequada. Tem que ver com isso e com o facto de acreditarem em nós. Com os coalas é preciso preencher relatórios diários sobre comportamento, alimentação, etc., ter ambiente controlado, humidade, temperatura. E somos a primeira instalação na Europa a ter uma área exterior para eles, pois o clima permite. Hoje existem em cerca de nove zoos europeus..Também coordenam programas internacionais, designadamente o de reprodução do leopardo-da-pérsia, dirigido por si. Foi caçado até à extinção, em 1950, na Rússia. No Irão, existem alguns em estado selvagem, uma população frágil mas que tem possibilidade de sobrevivência. Para evitar ir lá buscar animais e dado que temos sucesso reprodutivo, fomos contactados pelo IUCN, International Union for Conservation of Nature, através da EAZA, e enviámos um casal, supostamente o melhor da Europa, reprodutor comprovado, para um centro de reprodução em Sochi que nunca tinha tido resultados. E aconteceu o primeiro nascimento, em 50 anos, na Rússia..O objetivo é a reintrodução na natureza? Paralelamente, existe o programa de reintrodução no habitat natural - que é, no fundo, um dos papéis mais importantes dos jardins zoológicos, é-o agora e vai ser cada vez mais. Tem de ser feito com cuidado, pois estamos a falar de um leopardo-da-pérsia que pesa 90 quilos, representa perigo para o homem, não é o mesmo que um lince..Portanto, o papel dos zoos é fundamental, embora nem sempre se tenha noção disso. Quem tem mais conhecimento sobre as espécies são as pessoas que trabalham com elas nos zoos. Hoje em dia, cada espécie é acompanhada por um "manual do utilizador", digamos assim, um guia de cerca de cem páginas que explica o que determinada espécie precisa em termos de instalações, alimentação, maneio, etc., escrito por especialistas de jardim zoológico. Quem trabalha no habitat natural tem acesso muito esporádico às espécies, a gorilas, por exemplo, mas nós temos acesso diário, temos obrigação de saber mais. Por isso é que, cada vez mais, há esta colaboração, a WWF, World Wide Fund for Nature, ou o IUCN procuram-nos, como aconteceu com o leopardo-da-pérsia..Participam em muitos outros projetos. Até há um que envolve um cão... Além do leopardo-da-pérsia, coordenamos programas de reprodução de outras espécies, como niala, tartaruga-espinhosa... E participamos em mais uma centena de programas coordenados por outros zoos. O caso que refere é um projeto de conservação muito interessante, diferente. Trata-se de um pastor da Anatólia, um cão grande usado para defender rebanhos de predadores. Na Namíbia morriam muitas chitas envenenadas por pastores, que perdiam gado, muito valioso - ficar sem um animal pode ser um drama. Esse programa oferece cães aos pastores, evitando que as chitas se aproximem e, assim, não são mortas. Contactámos um criador em Portugal, ele ofereceu o cão e nós assegurámos o transporte..E os zoos também recebem apoio de outros especialistas e entidades. Temos, por exemplo, uma colaboração muito interessante com Marianne Hartmann, especialista em felinos. Veio ajudar nas instalações do leopardo-da-pérsia e foi tudo pensado ao detalhe, por exemplo até que altura eles querem subir, que tipo de barreiras têm de ter... Existe colaboração entre zoos, IUCN e por vezes também com a WWF: unimos esforços, cada um com pontos fortes em áreas diferentes dentro da conservação e conseguimos uma equipa multidisciplinar muito mais forte. Percebeu-se isso há relativamente pouco tempo mas cria uma dinâmica muito interessante..Apesar desses cuidados ao criar as instalações, ainda há quem pense em jardins zoológicos como lugares onde os animais estão "fechados". Temos boas instalações. Como se constrói uma boa instalação? Temos de nos pôr no lugar do animal, e pensar também no visitante, claro. Permitem, por exemplo, que os gorilas se afastem se não quiserem estar perto das pessoas. Algumas instalações estão um pouco protegidas, como a da pantera-nebulosa, com várias camadas de bambu. São animais extremamente tímidos, preferem ver o visitante mas com alguma proteção: quanto mais vegetação houver mais visível estará; se se cortasse o bambu, ela iria para mais longe. Às vezes, as pessoas não percebem isso, é preciso explicar-lhes..Até têm instalações sem qualquer proteção, de rede ou de vidro. Sim, como a do saguim-imperador, com uma cerca elétrica que dá um microchoque. É específica para estes animais e completamente segura, claro. Não há muitos zoos a ter este tipo de instalação e é uma experiência muito interessante para o visitante..Também há quem ainda associe o zoo ao elefante treinado para tocar um sino, memórias que ficaram da infância. Também é uma memória minha, visito o zoo desde os 3 anos. Não fazemos isso, temos obrigação de mostrar ao público comportamentos o mais naturais possível, em ambiente de jardim zoológico, mesmo que os animais não estejam envolvidos em programas de reintrodução, e não vamos dizer que todos estão, mas pela mensagem que passamos aos visitantes. Quanto a treino, se o animal estiver treinado para procedimentos veterinários ou de maneio é muito mais tranquilo para ele e para a equipa. No caso de um elefante, por exemplo, tem de estar preparado para pôr a pata numa janela para se poder cortar unhas, fazer algum tratamento. Isso é feito e é obrigatório..Mencionou animais que gostam de espreitar os visitantes. Durante o recente encerramento, devido à pandemia, ressentiram-se? Como temos uma coleção muito diversa, é difícil dar uma resposta geral, depende das espécies. As suricatas, por exemplo, adoram visitantes, acham interessante o que se passa cá fora. Mas o mais importante para os animais é a presença dos tratadores e não fizemos alteração nenhuma no maneio. Mesmo agora, que estamos a trabalhar em turnos de 14 dias consecutivos, a equipa é a mesma. E somos um zoo sazonal, no verão há mais visitantes do que no inverno, portanto já estão habituados a essa diferença, não é o mesmo do que haver movimento todos os dias do ano.