JAPÃO.A transformação de um Japão imperialista e destruído numa democracia altamente industrializada, no que se convencionou chamar de milagre económico japonês, foi um processo no qual os Estados Unidos tiveram um papel preponderante. Após a rendição incondicional do Japão, em setembro de 1945, o país que quase quatro anos antes foi arrastado para a Segunda Guerra depois de ter sido atacado pelo exército nipónico nomeou o general Douglas MacArthur comandante supremo das potências aliadas. Começou então uma ocupação, até 1952, que teve um duplo papel: a reconstrução do Japão e o seu alinhamento face a Washington, e o combate ao comunismo..As autoridades investiram na reanimação da economia japonesa enquanto, em paralelo, tratavam de reformar as instituições, punir alguns, poucos, responsáveis pelos crimes de guerra, e concluir um tratado de paz e uma aliança entre os dois países. Como parte desse acordo, os EUA deixaram um imperador, Hirohito, à frente de um não império, com a nova Constituição a canalizar os poderes para o Parlamento. A nova lei fundamental também previu a renúncia ao direito à guerra, o que implicou o desmantelamento das Forças Armadas não defensivas..Entre 1946 e 1952, os EUA investiram 2,2 mil milhões de dólares, o equivalente a preços de hoje a mais de 18 mil milhões. Foi introduzida a reforma agrária e respetiva mecanização e abriu-se a economia para um sistema de mercado livre no qual as grandes empresas deixaram de ter o controlo total da economia. A guerra na Coreia, em 1950, acabou por ser fundamental para a recuperação japonesa. Com a entrada das Nações Unidas no conflito, o Japão foi o principal fornecedor de bens e serviços, enquanto Washington reforçou a importância geopolítica do arquipélago, estabelecendo bases militares..A melhoria na produção agrícola e na qualidade de vida dos japoneses abriu caminho para o êxodo rural e a industrialização, com as melhores tecnologias da altura, o que levou a uma época dourada para a economia, sob o plano do primeiro-ministro Ikeda Hayato, só interrompida em 1973 com o choque petrolífero.. ALEMANHA.Até 1948, a Alemanha, que antes invadira e controlara vários países, ficou ocupada por quatro países. Até lá a população não esperou por um governo central e começou a reconstrução ao nível local. "O Plano Marshall tornou-se um cliché internacional sempre que as cidades são atingidas pela guerra. Mas [o plano] não se aplicou à maior parte da reconstrução na Alemanha. Particulares pediram dinheiro emprestado, muitas vezes a familiares no país, e foi aí que também encontraram materiais de construção. Nunca foi gerido de forma centralizada", explica o historiador Jeffry Diefendorf..O Plano Marshall também não desempenhou um papel tão importante na recuperação económica da Alemanha como se poderia pensar. O máximo que atingiu, em 1948 e 1949, foi menos de 5% do produto nacional alemão nesses anos..O que causou o chamado milagre económico alemão? Para os economistas e historiadores, os dois principais fatores foram a reforma monetária e a eliminação dos controlos de preços, ambos ocorridos ao longo de um período de semanas em 1948. Um outro fator foi a reforma fiscal (com a baixa de impostos) introduzida também nesse ano e no seguinte. Até então, as potências ocupantes mantiveram o controlo de preços e o racionamento..Mas enquanto as autoridades se debatiam com as dificuldades de concretizar a reforma monetária numa economia deprimida, que vivia à base das trocas diretas, eis que Ludwig Erhard, então diretor do conselho económico, decidiu pôr fim ao controlo de preços no mesmo dia em que a nova moeda foi posta em circulação. Ficou famosa a conversa que manteve com o governador militar Lucius Clay. Quando este disse que os conselheiros o advertiram do "erro terrível", Erhard respondeu: "Não ligue. Os meus conselheiros dizem-me o mesmo.".O dinheiro voltou a ter o papel central na economia e no espaço de meio ano a produção industrial subiu mais de 50% num país que, apesar do grau de destruição, manteve uma forte infraestrutura industrial.