Jai Hindley é o primeiro australiano a vencer a 'corsa rosa'
Jai Hindley (BORA-hansgrohe) tornou-se este domingo no primeiro australiano a vencer a Volta a Itália, sagrando-se vencedor da 105.ª edição da Volta a Itália em bicicleta, após o contrarrelógio da 21.ª etapa em Verona.
Hindley, de 26 anos, sucede ao colombiano Egan Bernal, que tinha triunfado em 2021, e é o segundo australiano a vencer uma grande Volta, depois de Cadel Evans ter conquistado o Tour2011, acabando 1.18 minutos à frente do equatoriano Richard Carapaz (INEOS), segundo classificado, com o espanhol Mikel Landa (Bahrain Victorious) em terceiro, a 3.24.
O 'crono' final, de 17,4 quilómetros em Verona, foi ganho pelo campeão italiano da especialidade, Matteo Sobrero (BikeExchange-Jayco), com um tempo de 22.24 minutos, à frente de dois neerlandeses, Thymen Arensman (DSM), segundo a 23 segundos, e Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix), terceiro a 40.
Na senda de Cadel Evans, até aqui o único australiano a vencer uma grande Volta, após triunfar no Tour2011, Hindley vingou a frustração de 2020, quando acabou em segundo atrás do britânico Tao Geoghegan Hart, que o superou no 'crono' do último dia, para dar nova alegria à Austrália.
Confiante, o ciclista de Perth, que fez 26 anos um dia antes do arranque da 'corsa rosa' em Budapeste, surpreendeu os jornalistas que o entrevistavam durante o último dia de descanso, a caminho da terceira semana da prova.
"Não estamos cá para calçar meias em centopeias, viemos para ganhar a corrida. Por que não?", atirou, antes de explicar esta expressão típica de 'down under': "Quer dizer que não estamos cá para brincar".
A seriedade que Hindley coloca na estrada contrasta com a abertura que demonstra ao falar dos sucessos e fracassos, nomeadamente no Giro2020, perdido na última etapa, e com paralelos com esta edição - aí, também chegou à 'maglia rosa' na 20.ª e penúltima tirada, apenas para ficar em segundo após o exercício contra o cronómetro.
Nesse ano, na Sunweb, corria ao lado de Wilco Kelderman, a quem 'roubou', não sem polémica, a liderança da geral, antes de acabar em segundo - e o neerlandês, que também se mudou para a BORA-hansgrohe e o tem ajudado na demanda hoje concretizada, em terceiro.
Outro paralelo é a forma como a história se cruza com a de João Almeida, que há dois anos se mostrava ao mundo do ciclismo ao vestir a 'maglia rosa' durante 15 dias: nessa edição, Hindley fez de tudo para 'roubar' a camisola ao português, acabando por alcançar o seu objetivo no Stelvio, com a ajuda de outros rivais - mesmo que o casaco o tenha 'travado' momentaneamente, numa 'luta' que será perpetuada cada vez que o seu perfil for escrito.
Também nesta 105.ª edição, em várias etapas, se juntou ao equatoriano Richard Carapaz (INEOS) e ao espanhol Mikel Landa (Bahrain-Victorious), seus colegas de pódio, para distanciar o luso, superior no contrarrelógio.
Longe dos grandes destaques, das vitórias isoladas e das desgastantes entrevistas e reportagens contínuas, Jai Hindley passou vários a crescer no WorldTour, já depois de fazer 'top 10' na Volta a França do Futuro e no Giro sub-23.
Em 2018, quando passou pela Volta ao Algarve, estreou-se em 'grand tours', na Vuelta, com um 32.º lugar, tendo como líder Wilco Kelderman, que acabou a prova espanhola em 10.º. No ano seguinte, quase vencia a Volta à Polónia -- foi segundo -, já depois de se estrear no Giro, com um 35.º posto, bem longe de Richard Carapaz, nesse ano campeão e neste um adversário destronado.
'Explodiu' em 2020, numa 'corsa rosa' que o revelou, mas também a João Almeida e a Tao Geoghegan Hart, entre vários outros nomes de futuro que 'abrilhantaram' um Giro quase invernal, realizado em outubro devido à pandemia de covid-19.
Em 2021, o ano não lhe correu bem, sem uma única vitória e um abandono na Volta a Itália, gerando dúvidas sobre o que seria realmente capaz de fazer.
Uma mudança da DSM/Sunweb, que representou entre 2018 e 2021, após um ano na Mitchelton-Scott, foi exatamente aquilo de que precisava, juntando-se a uma BORA-hansgrohe que soube correr de feição para o australiano.
Uma vitória com autoridade no Blockhaus, na nona etapa, e uma presença segura, sem fraquezas ao longo de toda a prova, paciente, calculista e cerebral -- uma prestação mais condizente com a nacionalidade (alemã) da sua equipa do que com a afabilidade australiana - e à espera do 'colapso' de Carapaz, acabou por dar frutos.
O campeão olímpico cedeu na 20.ª tirada, após um ataque do australiano, lançado por um colega de equipa, e deu-lhe a margem necessária para encarar o 'crono' com tranquilidade.
"Queria provar a mim mesmo que sou capaz de correr a este nível. Que não foi um golpe de sorte, como as pessoas nas redes sociais pensam", declarou, nesse dia de descanso.
Hoje, confirmou os galões de vencedor de uma grande Volta e encerrou a procura por um novo herói da Austrália, após Evans e o 'fracasso' de Richie Porte.
No sábado, tinha prometido "morrer pela camisola", mas não precisou - a prova de vida está dada, resta saber qual o próximo objetivo do 'sério' Jai Hindley.