Jagunço foi eleito vereador no sertão do Brasil

O assassino de aluguer Bira Rocha, preso por "pistolagem", mesmo votando algemado em Catolé do Rocha, no interior do estado da Paraíba, Nordeste Brasileiro, acabou entre os vencedores. Terror da região, terminava o jingle de campanha com o som de uma rajada de balas.
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Chegou à sala de voto no carro da polícia, exerceu o seu dever cívico e regressou à viatura aplaudido por cidadãos a quem agradeceu com os braços em V, de vitória, porque não conseguia fazer o sinal com os dedos por causa das algemas. Horas depois, os resultados: o eleitor e também candidato a vereador de Catolé do Rocha, no sertão paraibano, região carente do Nordeste do Brasil, Ubiraci Rocha, identificado nos boletins por Bira Rocha, foi eleito com 948 dos 17 478 válidos nas eleições municipais de domingo, dia 2, como sexto mais votado à assembleia municipal de uma cidade que, segundo as autoridades, aterroriza há anos.

Bira Rocha, 40 anos, fora notícia quatro meses antes das eleições ao ser detido por suspeita de "pistolagem", segundo o código penal, a ação ou atividade dos pistoleiros, numa agência bancária em Mangabeira, bairro de João Pessoa, capital do estado da Paraíba. "É uma prisão sensível por se tratar de um pistoleiro", disse o delegado titular do Grupo de Operações Especiais Allan Murilo Terruel à imprensa após a detenção. Segundo o delegado, Bira era muito temido e causava terror nos habitantes de Catolé do Rocha, cidade a 411 quilómetros de João Pessoa com perto de 30 mil habitantes, que acabaram por elegê-lo.

O pistoleiro, ou jagunço, como também são chamados os assassinos de aluguer no interior do Brasil, está ligado a assassinatos no sertão paraibano, na tripla qualidade de mandante, articulador ou executor dos crimes. Surpreendido na agência bancária da capital do estado, para onde havia fugido do sertão para despistar as autoridades, Rocha foi detido pelos agentes sem nenhuma reação.

Como um preso preventivo pode votar e concorrer a cargos públicos desde que obtenha autorização judicial, o jagunço entrou na corrida eleitoral, pelo social-democrata Partido Popular Socialista, do atual ministro da Defesa Raul Jungmann, e atingiu o seu objetivo eleitoral. "A justiça eleitoral não foi notificada de nenhuma condenação do candidato em trânsito julgado, por isso, mesmo estando preso por força de mandado de prisão, não perde os direitos políticos", disse ao portal G1 Pedro Henrique Nunes, chefe de um cartório da Paraíba. Segundo um blogue do Jornal da Paraíba, o jingle de campanha do candidato era inspirado na música Metralhadora, do grupo Banda Vingadora, e terminava com o som de uma rajada de balas. Apesar de eleito, o jagunço continua preso no Presídio Padrão Manoel Gomes, em Catolé do Rocha.

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A pequena cidade já havia sido citada na imprensa pela proximidade à ainda menor Brejo dos Santos que em 2013 contabilizou 13 mortos em seis mil habitantes, uma média que dobra o registo nas Honduras, país mais violento do planeta. De 1995 para cá, morreram em Brejo mais de cem pessoas das famílias Oliveira e Veras, desavindas desde uma briga de bar naquele ano.

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