Ivanka e Chelsea: quanto vale uma gravidez na corrida à Casa Branca?
Uma está na mira dos media desde a adolescência, quando o pai chegou à Casa Branca. A outra, filha de uma socialite e do magnata do imobiliário Donald Trump, também está habituada aos flashes dos fotógrafos. Até porque foi modelo, antes de começar a trabalhar nas empresas do pai. Uma é formada em História, a outra em Economia. Mas Chelsea Clinton e Ivanka Trump também têm muita coisa em comum: têm quase a mesma idade - a filha de Hillary e Bill vai fazer 36 anos no dia 27, Ivanka tem 34 -, casaram ambas com um judeu e estão ambas grávidas.
Amigas há muitos anos, Chelsea e Ivanka decidiram fazer uma pausa na sua amizade enquanto os pais disputam as nomeações dos respetivos partidos para as presidenciais de 8 de novembro nos EUA. Passada essa data, ambas até já combinaram uma festa com as crianças - Chelsea dará à luz o segundo filho no verão, Ivanka será mãe pela terceira vez já nas próximas semanas.
Entretanto, ambas têm surgido ao lado dos candidatos na campanha, mostrando orgulhosamente a barriga. Mas quanto vale uma gravidez na corrida à Casa Branca?
No caso de Trump, surgir nas fotos ao lado de uma Ivanka gravidíssima e toda sorrisos no New Hampshire pode não lhe ter valido o essencial para a sua vitória nas primárias, mas mal também não fez. Até porque: "Ajuda à sua imagem de homem de família... um avô... uma pessoa normal, em quem se pode confiar, mesmo sendo milionário", explica Jay Newton-Small, correspondente em Washington da revista Time.
[citacao:Ajuda à sua imagem de homem de família... um avô... uma pessoa normal, em quem se pode confiar]
Conhecido por não ter medo das palavras e pelas declarações polémicas - como quando comparou os imigrantes mexicanos a traficantes e criminosos ou quando propôs banir a entrada de muçulmanos nos EUA -, Trump não costuma falar muito na família. E se no New Hampshire contou com os três filhos mais velhos na campanha, a terceira mulher, Melania, tem-se mantido discreta... e silenciosa.
Tem sido Ivanka quem mais deu a cara e a voz pelo pai. De sobretudo azul-escuro, percorreu as ruas de Manchester, New Hampshire, apesar da gravidez avançada. Bateu a portas, foi à sede de campanha de Trump, onde saudou os apoiantes do milionário. No final, garantia aos jornalistas: "Sinto-me bem! Foi um bom exercício."
A pouca distância dali, andava Chelsea Clinton. Presença constante ao lado da mãe durante a campanha, a mulher que todos os americanos conheceram como a adolescente de aparelho nos dentes de mãos dadas com os pais depois do escândalo Monica Lewinsky é agora uma mãe de família rica e vice-presidente da Fundação Clinton. Bem agasalhada num longo casaco de penas preto, foi com Hillary comer donuts e posou para selfies com apoiantes da ex-primeira-dama. Dias antes, à revista People, Chelsea garantira a sua amizade é com Ivanka e não com o pai dela e que "nunca consideraria alguém responsável por o que um familiar diz".
Tornar Hillary mais próxima
Acusada muitas vezes de não compreender os problemas dos americanos após mais de duas décadas na alta política, com direito a proteção dos serviços secretos, Hillary não se cansa nesta campanha de falar da neta, Charlotte, que no verão vai ganhar um irmão ou irmã. "Ter a neta por perto, falar na gravidez da filha e ser avó torna-a mais próxima para muitas mulheres", garante Newton-Small, autor também do livro Broad Influence: How Women are Changing the Way America Works.
Se Chelsea esteve ao lado da mãe desde o primeiro dia, Bill Clinton foi mantido na retaguarda até ao início deste ano. O ex-presidente, cuja popularidade continua alta, é sem dúvida uma mais-valia para a campanha da mulher. Mas ninguém esqueceu ainda como em 2008 alguns dos seus ataques mais violentos contra Barack Obama acabaram por se virar contra aquela que viria a ser secretária de Estado do rival democrata quando este chegou à presidência. Dias antes das primárias do New Hampshire, Bill não hesitou em criticar Bernie Sanders, acusando o adversário da mulher e os seus apoiantes de "hipocrisia" e "sexismo". Nada que tenha travado a vitória estrondosa do senador do Vermont naquele estado.
[citacao:Já vi [a série] Scandal. Não sou ingénuo, mas quero acreditar que as pessoas não agem assim]
À medida que a campanha aquece, ficando cada vez menos candidatos, o que alguns analistas americanos se interrogam é sobre o timing destas gravidezes e se não se incluirão numa jogada política. "Sou bastante cínica, mas acho que não!", começa por dizer Jennifer Lawless, da Universidade Americana, antes de admitir: "As pessoas adoram crianças. Adoram a ideia de ter filhos. A mulher grávida é muito encantadora, por isso pode ser facilmente usada como instrumento político. Já Newton-Small garante: "Já vi [a série] Scandal. Não sou ingénuo, mas quero acreditar que as pessoas não agem assim."