It"s politics,stupid
Cinco dias chegaram para experimentar vários estados de alma em relação ao Brexit e aos britânicos que votaram a favor da saída do Reino Unido da União Europeia. Agora, com a emoção mínima que me é permitida neste processo, terei, ainda assim, de começar com uma convicção. Não sei como, não me perguntem quando, mas acredito que esta separação não será definitiva. Há manifestações de milhares de ingleses, referendos com milhões de assinaturas, uma Escócia furiosa. Haverá a complexidade dos tratados europeus e da alteração de uma série de legislação europeia que vigora no Reino Unido. O Brexit poderá nem sequer chegar a sê-lo. Como disse Obama, isto poderá ser apenas uma pausa no processo de integração europeu, ou um triste mas necessário incidente na continuação da construção europeia. Os próprios apoiantes do Brexit deverão estar, neste momento, angustiados com uma pergunta à volta nas suas cabeças: Oh no, what have I done? Talvez no longo prazo, quando estivermos todos mortos, como diria Keynes, as vantagens do Brexit possam aparecer, mas para já e nos próximos anos vai doer. Vai doer aos britânicos, entregues às más e péssimas alternativas a David Cameron, mas também à União Europeia. Quem irá, em setembro, assumir a liderança do governo do Reino Unido, quem calhará aos desgraçado dos britânicos para os liderar e para executar as inúmeras mudanças implícitas no Brexit? A minha convicção é, assim, a de que isto ainda não ficará por aqui, mesmo que se comece a verificar uma crescente animosidade entre o Reino Unido e alguns dos outros 27. É tudo demasiado penoso. Existem implicações demasiado graves do Brexit para os dois lados. No Reino Unido, uma recessão prolongada começa a ser apontada nas análises pós-referendo. E o que será feito da City londrina, o atual centro financeiro europeu? O que poderá o Reino Unido fazer para a preservar, quando todos os seus agentes estão furiosamente contra a saída britânica? Os potenciais sucessores não fizeram, em poucos dias, quaisquer cerimónias. E mais, será que, após este Brexit, existirá uma propulsão de uma nova vaga de movimentos populistas, nacionalistas, divisionistas e isolacionistas? Onde nos levarão? Quanto à Europa, por mais que custe assumir, este foi um duro golpe na União Europeia tal como ela é. Este pedido de divórcio deve ser interpretado pelos líderes (?) europeus, sem processos de negação, e daí retiradas as devidas lições. A União Europeia não estava bem, mas agora a ausência de coesão e de solidariedade e a Europa a duas velocidades são indiscutíveis. Tal como no Reino Unido, a débil retoma económica que se fazia sentir no espaço europeu poderá evaporar-se, e o euro não será fácil de sustentar neste ambiente. Os choques nos mercados, a volatilidade e a incerteza serão duradouras e dolorosas. Por muito que os bancos centrais estejam prontos para intervir, o seu raio de ação tem limites. Ou seja, o Reino Unido e a União Europeia estão, ambas submersas em problemas políticos, de liderança, pelo que as soluções só poderão ser políticas.