Isto, Putin,aplaudo de pé: "Encore!"
O acontecimento é este: ontem, uma orquestra foi tocar, entre as colunas e o lajedo da arena do teatro romano de Palmyra, onde há menos dum ano 25 homens de joelhos esperaram o tiro na nuca dado por rapazes do Estado Islâmico (há vídeo). À volta, o templo de Bel, o templo de Baal Shamin e o leão de al-Lat, pedras religiosas de deuses antigos, culpadas de não serem do deus único e do profeta, foram reduzidas a pó (há vídeo, com martelo). Em março, os fanáticos foram corridos de Palmyra, daí o concerto de ontem. Como todos os acontecimentos, este tem vários ângulos, que aqui reduzo a dois, sendo um deles o meu. Ontem, a Rússia de Putin fez propaganda enviando a Palmyra os seus amigos Valery Gergiev, maestro, e Sergei Roldugin, violoncelista, mais a orquestra de Mariinsky, de São Petersburgo. Essa, uma versão, verdadeira. A minha, também verdadeira, é que ontem em Palmyra, património dos homens, dos assírios e dos romanos, otomana e síria, tocou uma orquestra que já foi imperial, que já foi soviética (e então chamou-se de Kirov) e que voltou a ser de Mariinsky, quando o comunismo ruiu, e que é um fio condutor da civilização de que ela própria é um exemplo por ter sido conduzida por Berlioz, Tchaikovsky e Mahler, de quem não conheço os amigos, e ontem foi conduzida por Gergiev, que é amigo de Putin. E eu, que não sou amigo deste, sou-lhe emocionado devedor por ter expulsado os bárbaros e levado Prokofiev e Bach a Palmyra.