Israel mata quatro jihadistas no primeiro choque com ISIS
"Israel é o único país que o Estado Islâmico teme", garantia há quase um ano Jürgen Todenhöfer ao diário israelita Haaretz. O jornalista alemão, que passara uma dezena de dias com jihadistas do ISIS (sigla usada para designar o Estado Islâmico) na Síria e no Iraque afirmava então que os comandantes do grupo lhe confessaram que "o exército israelita é demasiado forte para nós". Isso talvez explique porque até agora a fronteira entre a Síria e Israel, nos Montes Golã, se mantivera pacífica. Até este fim de semana, quando soldados israelitas responderam a um ataque do ISIS, tendo matado quatro jihadistas.
Uma brigada do exército israelita estava em manobras junto à moshav Nov, nos Montes Golã, um território sírio ocupado por Israel desde 1967, quando ficou sob fogo dos combatentes do ISIS. Os soldados terão respondido à chuva de balas e morteiros, anunciando o exército, mais tarde, ter abatido quatro jihadistas.
"A resposta foi pronta e pretende enviar a mensagem de que estamos na área e estamos determinados a proteger a nossa fronteira", sublinhou aos media um porta-voz do exército israelita. Um claro recado aos jihadistas, apesar de a mesma fonte ter logo sublinhado que Israel "não pretende alimentar uma escalada de violência na região, mas não iremos aceitar uma realidade em que forças adversas abrem fogo na nossa direção".
Na reunião semanal do governo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já deixara uma mensagem semelhante. "Estamos bem preparados na nossa fronteira norte e não permitiremos que elementos do Estado Islâmico ou de qualquer outro grupo hostil aproveitem a guerra na Síria para se estabelecerem junto às nossas fronteiras", afirmou o primeiro-ministro israelita.
Até agora, os incidentes registados nos Montes Golã envolviam sobretudo balas ou morteiros perdidos na troca de fogo entre fações rivais - rebeles e exército do presidente Bashar al-Assad - do lado sírio. E não um ataque deliberado contra militares israelitas. Mas nos últimos dias, os confrontos entre militares sírios e jihadistas subiram de tom. Desde 18 de outubro, a filial dos Montes Golã do ISIS é comandada por Abu Muhammad al-Maqdisi, cujo antecessor foi morto por um carro-bomba.
A ausência de ataques do Estado Islâmico contra Israel é uma questão que se têm colocado vários analistas. O próprio grupo jihadista, que domina um extenso território no Iraque e na Síria, inclusive junto aos Montes Golã, explicou num texto publico no seu semanário al-Naba que "a jihad [guerra santa] na Palestina é igual à jihad em qualquer outro sítio". Apesar disso, o mesmo texto deixa um apelo a todos os muçulmanos do mundo para "atacarem os judeus e os seus aliados onde os encontrarem, matando-os, destruindo as sua propriedade e prejudicando os seus interesses de todas as formas possíveis". E foram vários os judeus vitimas dos atentados reivindicados pelo Estado Islâmico.
Apesar de o ISIS não ter até agora realizado um ataque coordenado contra Israel, algumas células independentes inspiradas pelo grupo já foram detidas pelas forças de segurança israelitas. Há informações de alguns árabes israelitas que se juntaram às fileiras jihadistas. E Nashat Milhem, que matou três pessoas em Telavive em janeiro, disse ter ligações ao ISIS.
Apesar do convívio relativamente pacífico até agora, o Estado Islâmico não deixou de ameaçar Israel. Também no semanário al-Naba o grupo garante que "a guerra a Israel não se vai ser limitada por fronteiras geográficas ou por normas internacionais".
Enquanto militares israelitas abatiam quatro combatentes do Estado Islâmico junto à fronteira com a Síria, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar garantia ontem que os jihadistas podem passar a usar a Faixa de Gaza como "rampa de lançamento" para os seus ataques. Numa entrevista à Reuters a partir de Doha, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani sublinhou que anos de luta entre fações palestinianas (Gaza está sob controlo do grupo integrista Hamas desde 2007, um ano depois de este vencer as eleições e expulsar a rival Fatah após confrontos violentos) e de bloqueio israelita podem tornar o território num terreno fértil para os recrutadores do ISIS.
O Qatar, pequeno emirado do Golfo rico em petróleo e gás, é um dos apoiantes do Hamas. "Se deixarmos [os quase dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza] como estão, o ISIS não terão dificuldade em os recrutar. E podem lançar operações a partir dali", adiantou o chefe da diplomacia qatari.