Israel destrói edifício em Gaza que albergava 'media' internacionais
Um dia depois de ter aproveitado a cobertura mediática do conflito em Gaza para tentar enganar o Hamas, alegando falsamente ter começado uma incursão terrestre, Israel destruiu o edifício que albergava a agência norte-americana AP e a estação de televisão do Qatar Al-Jazeera. Segundo os militares israelitas, o prédio albergava também ativos do Hamas, que usavam os media como "escudos humanos". Apesar de tentativas de negociar um cessar-fogo, continua a escalada de violência entre Israel e o movimento islamita do Hamas.
O edifício de 12 andares, o último dos quais albergava há 15 anos os escritórios da AP, tinha um terraço que era estratégico da cobertura de Gaza. Uma câmara de televisão transmitia em direto, 24 horas, os disparos dos rockets do Hamas contra Israel, assim como os bombardeamentos israelitas ao território palestiniano. O edifício foi evacuado após os militares alertarem para o bombardeamento, não havendo registo de vítimas.
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O presidente e CEO da AP, Gary Pruitt, reagiu num comunicado, falando num "desenvolvimento incrivelmente perturbador" e alegando que foi por pouco que não houve "terríveis perdas de vida". Uma dúzia de jornalistas da agência norte-americana e freelancers estavam no edifício, que foi evacuado depois de o proprietário ter recebido o alerta uma hora antes do ataque. Este ainda tentou ganhar mais tempo, para permitir aos jornalistas retirarem o material, mas sem sucesso. "O mundo vai saber menos sobre o que se passa em Gaza por causa do que aconteceu hoje", afirmou Pruitt.
O edifício albergava ainda a Al-Jazeera, a estação do Qatar, que transmitiu tudo em direto. "Este canal não será silenciado. A Al-Jazeera não será silenciada", disse emocionada a pivot da estação em inglês Halla Mohieddeen. "É óbvio que aqueles que estão a empreender esta guerra não só querem espalhar a destruição e a morte em Gaza, mas também silenciar os media que estão a testemunhar, documentar e relatar a verdade", disse o chefe da delegação de Jerusalém, Walid al-Omari.
Israel alega que o edifício residencial albergava o Hamas. "Depois de fornecer um aviso prévio aos civis e tempo para a evacuação, os caças das Forças de Defesa de Israel atingiram um prédio de vários andares contendo ativos das agências de informação do Hamas", escreveram no Twitter. "O prédio continha escritórios de media, atrás dos quais o Hamas se esconde e usa deliberadamente como escudos humanos", referiram.
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A Casa Branca reagiu através da porta-voz Jen Psaki. "Comunicámos diretamente aos israelitas que garantir a segurança e proteção dos jornalistas e dos media independentes é uma responsabilidade suprema", escreveu no Twitter. O ataque aconteceu no dia em que o subsecretário de Estado dos EUA para Israel e a Palestina Hady Amr, chegou a Jerusalém para tentar negociar um cessar-fogo.
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O próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu telefonou ao presidente dos EUA, Joe Biden, a dar explicações. "Netanyahu enfatizou que Israel está a fazer todo o possível para evitar danos àqueles que não estão envolvidos" no conflito, disse o seu gabinete. "A prova é que os prédios com instalações terroristas são evacuados de pessoas não envolvidas antes de serem atacados", referiu. Biden também falou com o líder da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas.
Antes do ataque, Israel já tinha demonstrado não ter problema em usar os media. Na quinta-feira à noite, emitiu uma mensagem no Twitter a alegar que os seus militares tinham dado início à incursão terrestre em Gaza. Contudo, esta não estava a acontecer. A mentira, que rapidamente foi amplificada pelos media estrangeiros, seria um estratagema para levar os membros do Hamas a esconderem-se nos túneis que usam para se deslocarem e para armazenarem armas, antes de estes serem atingidos pelos ataques aéreos. Horas depois daquela mensagem, os militares alegaram "problemas de comunicação interna" para dizer que afinal não tinham entrado em Gaza.
Segundo o Jerusalem Post, este ataque já estaria a ser preparado há pelo menos três anos, mas não terá atingido todos os objetivos. Alegadamente muitos membros do Hamas não caíram na armadilha, já que consideraram prematura uma incursão terrestre de Israel tão cedo no decurso das operações em Gaza. Ainda assim, segundo o jornal, estima-se que entre 300 e 400 pessoas tenham morrido.
susana.f.salvador@dn.pt