O que é a Comissão NAT, a que preside a partir de hoje, e quais são as áreas de trabalho? O Comité das Regiões é um órgão da União Europeia com seis comissões, uma delas é a NAT [formada por elementos dos 27 estados-membros da UE], que é a dos recursos naturais. Ou seja, a agricultura, pescas, florestas, proteção civil, saúde, turismo. São áreas extremamente importantes, sobretudo na fase que estamos a viver, em que, como todos sabemos, as alterações climáticas são uma grande preocupação. Todas têm muito a ver com as alterações climáticas e as suas consequências..Um dos pontos que menciona é a agricultura e o impacto que sofre devido às alterações climáticas. O que se está a fazer na Europa para minimizar essa situação? Todos sabemos que um dos grandes problemas com que nos confrontamos neste momento é com a seca. A falta de água vai obrigar-nos a repensar a agricultura que podemos ter no futuro. Vamos ter uma reunião, dentro de um mês, onde se discutirá a agricultura do futuro e, naturalmente, vamos acompanhar aquilo que vai ser a PAC (Política Agrícola Comum). Fala-se em agricultura de baixo carbono e outras metodologias que possam reduzir os efeitos nefastos sobre o ambiente. Nessa reunião chegaremos a uma conclusão: o nosso modelo agrícola tem mesmo de ser repensado. Aliás, este ano estima-se que, por exemplo, as colheitas de cereais sejam menores em 50% e a produção de azeitona em 40%. Portanto há aqui áreas que, de facto, têm de ser repensadas e vamos repensar os 27, em conjunto, para chegar a uma conclusão sobre o que podemos e devemos fazer..Os movimentos migratórios dentro dos países também têm de ser analisados... Neste momento confrontamo-nos com o despovoamento das zonas rurais. É preciso revigorar estas zonas, garantindo nomeadamente os investimentos em Serviços Públicos, pois ninguém quer viver no Interior se não tiver respostas em Educação, Transportes, Saúde. Por exemplo, em Portugal vivemos num país inclinado para o mar. As pessoas afastam-se das zonas do Interior e vêm viver para as zonas do Litoral. É preciso criar condições para que possam ficar no Interior. E é por isso que hoje falamos tanto em coesão territorial. Isso é fundamental. E essa também deverá ser uma discussão que nós vamos ter..Para se conseguir essa mudança é preciso mudar mentalidades... Estamos numa fase em que temos de mudar o paradigma, temos de repensar o futuro e reposicionar aquilo que era feito até agora, pois já constatámos que não pode continuar como tem sido até este momento. Portanto, se não quisermos ter problemas ainda mais complicados, vamos ter de tomar medidas por forma a evitar males maiores para o futuro e para que não nos possamos arrepender daquilo que não fizemos..Há outras áreas a exigir mudanças de atitude a nível europeu? Há uma outra área que acho ser extremamente importante e que tem a ver com a proteção civil. Nós estamos num momento de grandes alterações climáticas, sofremos com os incêndios durante este verão, nomeadamente em Portugal, mas não só. Se numas zonas eram incêndios, noutras eram inundações. Ora, o mecanismo europeu de proteção civil tem de estar devidamente dotado e potenciado para que consiga dar respostas ao nível europeu. Naturalmente que nenhum país é capaz de estar 100% preparado para dar respostas a todos estes fenómenos. É preciso que haja uma resposta europeia, uma resposta à altura daquilo que possam ser estes fenómenos que nos estão a atingir um pouco por toda a Europa..Outro dos temas que fazem parte do portfólio da NAT é o turismo. Quais as políticas prioritárias a esse nível? O turismo tem de ser sustentável e de qualidade. Temos de diversificar a oferta: por exemplo, por que não fazer turismo gastronómico, cultural, de saúde. Há diversas áreas que temos de desenvolver por forma a que este turismo não se concentre todo no Litoral, que não seja só um turismo de praia e sol, mas que seja também um turismo diferente. Há imensas áreas no turismo que podemos diversificar e que podemos oferecer..A Europa tem de melhorar as relações internas? Verificámos durante a covid-19 a importância das medidas tomadas pela Europa e que ajudaram os países a resolver imensos problemas. Posso dizer-lhe que, neste momento, está a ser criado a nível da Comissão Europeia um mecanismo de saúde que pretende ir mais além e antecipar-se aos problemas com que nos podemos vir a confrontar. Temos de ser, inclusivamente, pró-ativos e não reativos e é isso que se pretende numa Europa sustentável. Que sejamos pró-ativos. É isso que vou defender..A Comissão NAT é consultiva. Que poderes tem e o que pode fazer? Primeiro, é com orgulho que posso dizer que sou a primeira mulher portuguesa a presidir a uma comissão do Comité das Regiões, sendo que anteriormente já tivemos dois presidentes nacionais: António Costa [atual primeiro-ministro] e José Luís Carneiro [atual ministro da Administração Interna]. Além disso faço parte do Bureau [presidido por Vasco Cordeiro], que é um órgão executivo do Comité das Regiões. É aí que se tomam as decisões. A comissão é consultiva, mas também pode apresentar propostas autónomas. O Comité das Regiões é o órgão europeu onde estão representados os municípios e as regiões. Somos nós que temos um conhecimento mais próximo daquilo que afeta os cidadãos e das melhores soluções e somos nós que podemos transportar essa informação para a Europa. Damos parecer sobre todas as decisões que vão afetar as regiões e os municípios, mas também podemos autonomamente apresentar propostas..O mandato é de dois anos e meio. Que metas tem para esse período? Trabalhar todas as áreas de que falei com um único objetivo: que sejamos capazes de ter um desenvolvimento de forma mais sustentável e que a Europa se torne mais resiliente. É a melhor garantia que temos de que os nossos filhos e netos possam ter uma qualidade de vida assegurada em termos de futuro..cferro@dn.pt