Irmãos iraquianos: "perdemos completamente o controlo"

Haider e Ridha contam que agiram por se terem sentido insultados e humilhados após terem sido agredidos pelo outro grupo
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Começou como uma noite de celebração mas acabou com um incidente que deixou um jovem de 15 anos gravemente ferido. Haider e Ridha, de 17 anos, contaram numa entrevista a sua versão do que aconteceu na noite de quarta-feira, dia 18.

"A nossa noite começou no Koppus, um bar/restaurante local", contou Haider à SIC. O jovem iraquiano estava em Ponte de Sor há duas semanas a completar a parte prática do curso de aviação e tinha recebido a visita do irmão, Ridha.

A tensão com o outro grupo de jovens, entre eles Rúben Cavaco, começou neste bar. Haider contou que stava a mostrar as tatuagens que tinha a um colega e que, quando "na brincadeira" baixou as calças para mostrar uma tatuagem na coxa o outro grupo reagiu negativamente.

"Acho que as pessoas na mesa de trás ficaram muito ofendidas por eu ter despido uma das pernas das calças e começaram a ser agressivos", contou Haider. "Abordaram-me e começaram a dizer obscenidades em português".

Aqui terão começado os primeiros confrontos com o outro grupo, onde estava Rúben. "Um dos rapazes agarrou-me na mão, nas duas mãos, e um dos meus colegas interveio e pôs-se no meio de nós para acalmar a situação", continuou Haider.

Os dois irmãos terão saído do bar nesta altura, para evitar mais confusões, mas foi perseguido pelo outro grupo. Haider contou que conseguiu entrar no carro mas o seu irmão, Ridha, foi cercado e espancado pelos seis rapazes.

"Quando dei por mim estava a ser atacado por cinco ou seis pessoas e estavam a passar me entre eles como se fosse uma bola. Não podia fazer grande coisa porque estávamos em minoria", contou Ridha. "Estava a tentar defender-me mas eles eram muitos".

Segundo o estudante de gestão, o grupo fugiu do local após o ter atacado, e deixado com o nariz e um pé fraturado. Haider também apresentava alguns ferimentos.

Pouco tempos depois, os dois irmãos falaram com a GNR, que tinha sido chamado ao local. As autoridades deixaram-nos em casa mas Haider e Ridha voltaram ao bar. Contam que foram recuperar alguns objetos que caíram durante a luta. Foi nessa altura que encontraram Rúben sozinho.

"Ele viu-nos e começou a dizer alguma coisa em português que eu não entendi", explica Ridha. "Era muito evidente que estava a falar num tom agressivo como se estivesse a querer começar outra luta".

Ridha foi falar com o Rúben e os dois voltaram a discutir. "Perguntei-lhe qual é o teu problema? Porque estás a fazer isto? E ele disse outra coisa em português que eu não percebi".

O jovem iraquiano afirma que nesse momento Rúben voltou a agredi-lo, batendo-lhe na cara e no ombro, antes de começar a correr.

"Senti-me extremamente insultado também por causa das agressões anteriores e não podia tolerar mais. Então corri atrás dele e comecei a agredi-lo", conta Ridha. Haider terá ido ajudar o irmão.

Os dois bateram em Rúben até ele cair no chão. Ridha confessa que ainda lhe deu alguns pontapés após Rúben ter caído.

Haider admite que nada justifica a violência nem o estado em deixaram o jovem, que apenas esta terça-feira saiu do coma induzido e dos cuidados intensivos, mas afirma que toda a situação foi uma "receita para o desastre". "Quando temos adolescentes, álcool, mentalidade de grupo, as coisas descontrolam-se", "especialmente com adolescentes, com as hormonas e as emoções muito fortes", acrescenta.

"Perdemos completamente [o controlo] e gostaria de pedir desculpas", continua Haider.

Os dois irmãos admitem que tinham bebido naquela noite. Haider fez um teste de alcoolemia com a GNR que acusou 0,58.

Haider afirmou ainda que várias pessoas já lhe disseram que o grupo com quem Rúben andava costumava causar alguns problemas em Ponte de Sor. "Não sei se pessoalmente o RÚben é má pessoa ou não. Não diria que é, mas diria que é muito influenciado pelos amigos com quem ele estava", continua.

[citacao:Estou preparado para assumir total responsabilidade pelos meus atos]

Os jovens garantem que não se vão esconder sob a proteção diplomática, por serem filhos do embaixador do Iraque em Portugal, e que vão enfrentar a justiça se o tiverem de fazer.

"Não pensamos que estamos acima da lei porque somos filhos de diplomatas", afirma Ridah. "É uma coisa que nem sequer passou pela nossa cabeça".

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Os irmãos afirmam que não invocaram a imunidade política e têm colaborado com as autoridades na investigação, como qualquer outra pessoa.

"O meu pai está destroçado. A minha mãe está muito mal", conta Haider. O incidente teve um impacto profundo nesta família iraquiana. "O meu pai é uma pessoa que serve o seu país há 47 anos.

[citacao:Nós não representamos o nosso pai, nem o governo iraquiano. Não representamos mais ninguém senão nós próprios]

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Rúben Cavaco saiu dos cuidados intensivos esta terça-feira, mas continua internado no Hospital Santa Maria, em Lisboa.

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