Irlanda realiza hoje referendo histórico sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo
Há quase um ano Mark Govern trocou a Irlanda pela Austrália, tornando-se um dos 180 mil irlandeses que emigraram durante os anos da crise económica. Agora está de volta ao país natal. Motivo? Votar no referendo sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que hoje é realizado na Irlanda. O país, com forte ligação à Igreja Católica, poderá fazer história e tornar-se o primeiro em todo o mundo a aprovar este tipo de união por via de uma consulta popular.
"É uma oportunidade numa geração e eu senti que se o sim não ganhasse e eu não tivesse regressado a casa para, de alguma forma, dar o meu contributo, iria lamentá-lo nos próximos 30 anos", afirmou, à Reuters Mark Govern, um homossexual irlandês de 31 anos. Com a esperança de ajudar a Irlanda a fazer história, pediu uma licença no trabalho e esvaziou a conta bancária para comprar a passagem de avião. A Irlanda é dos poucos países da União Europeia que não permitem aos emigrantes votar por correio ou nas embaixadas. Quem está fora há menos de 18 meses continua a ser elegível para exercer o direito de voto, mas só se no dia do escrutínio aparecer numa assembleia de voto local.
O referendo de hoje marca uma revolução tranquila numa Irlanda que foi o último país da Europa Ocidental a descriminalizar a homossexualidade em 1993. Durante muito tempo foi indiscutível a influência da Igreja Católica na sociedade irlandesa. Em 2009, um relatório da comissão de inquérito sobre abusos de crianças em instituições geridas por religiosos deixou o país em choque, com as conclusões que trouxe à luz do dia: 30 mil crianças foram submetidas a abusos sexuais ou agressões nessas instituições no século XX.
Hoje, apesar de 85% da população da República da Irlanda (4,5 milhões de pessoas) se identificar como católica, as resistências à realização de uma consulta popular como a de hoje foram diminuindo ao longo do tempo. Em 166 deputados do Parlamento irlandês só dois se opuseram ao referendo. E até o primeiro-ministro da Irlanda, Enda Kenny, católico, líder do partido de centro-direita Fine Gael, visitou bares gay e defendeu a vitória do sim na votação de hoje.