Irlanda castiga partidos da coligação no poder. Sinn Féin cresce

Formações que executaram o programa de resgate da troika falham maioria. Sistema eleitoral complexo faz tardar resultados finais e oficiais
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A coligação no poder na Irlanda, formada pelo Fine Gael e o Labour (conservadores e trabalhistas) não terá conseguido renovar a maioria absoluta de deputados nas eleições legislativas de sexta-feira, revelaram as sondagens à boca das urnas da RTE e do Irish Times. O Fianna Fáil, de centro-esquerda, ficou em segundo lugar no escrutínio e o Sinn Féin duplicou os votos.

A confirmar-se este resultado inconclusivo na Irlanda, o primeiro-ministro, Enda Kenny, não terá convencido o eleitorado com o argumento de que era preciso renovar a confiança na coligação conservadora-trabalhista para que a recuperação económica conseguido no período do pós-resgate não fosse posta em causa. E ainda para que o país não mergulhasse numa crise política ao estilo das registadas na Grécia, Portugal e Espanha.

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Vários cenários começam imediatamente a desenhar-se, mas há dois que são os apresentados como mais prováveis: o de uma grande coligação Fine Gael-Fianna Fáil e o de haver novas legislativas.

"Ou podemos ter novas eleições ou podemos deixá-los estar durante um mês ou assim e deixá-los pensar sobre o impensável. É difícil ver outro tipo de governo que não seja Fine Gael e Fianna Fáil juntos", declarou à Reuters Michael Marsh, professor de Ciência Política da Trinity College Dublin.

Herdeiros dos dois campos que se opuseram durante a guerra civil na Irlanda em 1922 e 1923, Fine Gael e Fianna Fáil não conseguem somar juntos mais de 50% dos votos, a avaliar por aquelas sondagens. A confirmarem-se estes dados, seria a primeira vez que tal aconteceria. Se os dois maiores partidos do país decidissem aliar-se para governar, também isso seria inédito.

Na Irlanda o Fianna Fáil dominou durante muito tempo o poder, mas a crise financeira económica - e o consequente pedido de resgate à troika em novembro de 2010 - fez com que os eleitores preferissem dar a vitória ao Fine Gael de Kenny nas legislativas de 2011. Agora parece ter acontecido o inverso.

O apelidado Tigre Celta, país escolhido por multinacionais como a Google, o Facebook ou a Microsoft para aí instalarem as suas sedes em território europeu, a Irlanda foi o segundo Estado da zona euro a pedir o resgate da troika, em 2010, depois da Grécia e antes de Portugal. Beneficiou de empréstimos no valor de 67,5 mil milhões de euros. Três anos depois, em dezembro 2013, tornou-se o primeiro a sair do resgate. A economia irlandesa cresceu, mas nem todos dizem sentir a retoma.

Questionado ontem na RTE sobre se seria capaz de formar uma grande coligação com o Fine Gael, o líder do Fianna Fáil foi evasivo. "Estou consciente de que as pessoas votaram contra [a permanência] do Fine Gael e do Labour no governo, é preciso ter isso em conta. Eu penso que ainda vai levar algum tempo a resolver isto e isto não ficará solucionado já amanhã. Acho que haverá uma base eleitoral importante ao centro e isso poderá influenciar o tipo de governo a ser formado", declarou Micheál Martin.

Do lado do Fine Gael, Kenny ainda não tinha ontem falado, podendo a sua liderança no partido estar mesmo ameaçada se os maus resultados se confirmarem, escrevia ontem o Irish Independent. Até à hora do fecho desta edição, o primeiro-ministro irlandês ainda não se tinha pronunciado sobre os números que foram postos a circular, preferindo talvez esperar pela divulgação dos resultados finais e oficiais. Na Irlanda a contagem é demorada devido à complexidade do sistema eleitoral de voto único transferível.

Uma grande coligação na Irlanda seria, para a vice-presidente do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, "matéria para pesadelos". Reconvertido em partido antiausteridade, a formação que outrora funcionou como braço político do IRA, cresceu a olhos vistos nestas eleições. Resta saber o que vai fazer com isso.

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