Foi um balde de água fria para os mais otimistas. Funcionários britânicos e da UE trabalharam longas horas na semana passada com o objetivo de conseguir uma solução global. No domingo, o Politico chegou a anunciar um acordo. Mas a questão da Irlanda acabou por resultar intransponível..As fronteiras vão regressar à Irlanda?.Ninguém deseja o regresso das fronteiras físicas entre a província britânica e a república irlandesa. Em 1998, o acordo da Sexta-Feira Santa pôs fim à luta entre unionistas e republicanos e acabou com 30 anos de violência na Irlanda do Norte. Esta, sob jurisdição britânica, mas na UE, como a República da Irlanda, viu desaparecer os controlos ao longo da fronteira terrestre de 500 km, que conta com cerca de 275 travessias, mais do dobro do que as existentes na fronteira oriental da UE (entre a Finlândia e a Grécia). Porém, com a saída do mercado único e da união aduaneira, há que encontrar uma fórmula para controlos de bens e mercadorias. A República da Irlanda não pertence ao espaço Schengen..O que propõe Theresa May?.Para Londres tem sido uma questão de princípio não ceder num tratamento diferenciado em relação à Irlanda do Norte. O governo de May, dependente do apoio parlamentar do partido unionista irlandês DUP rejeita quaisquer barreiras na Irlanda, bem como uma fronteira marítima entre a Grã-Bretanha e a Irlanda. Ao mecanismo de salvaguarda proposto pela UE - em caso de não haver acordo, as fronteiras permanecem inalteradas e a Irlanda do Norte permanece no mercado comum e na união alfandegária - a primeira-ministra Theresa May quer estender esse mecanismo a todo o Reino Unido..Esse acordo especial alfandegário e comercial com a UE garantiria fronteiras abertas entre todo o Reino Unido e a UE até dezembro de 2021. Ou seja, sem necessidade de controlos sobre mercadorias na fronteira irlandesa.. Como é que Bruxelas recebeu a proposta?. Bruxelas denuncia esta ideia como uma forma de exportar mercadorias britânicas para o mercado único através de espécie de porta dos fundos. Por outro lado, a UE deseja uma "salvaguarda da salvaguarda", como denuncia o governo britânico. Isto é, caso as futuras negociações comerciais não cheguem a bom porto, Bruxelas exige a garantia de que se aplica a cláusula de salvaguarda que a UE propôs em primeiro lugar. O negociador-chefe da UE Michel Barnier propôs que, se não fosse encontrada uma melhor solução envolvendo o Reino Unido antes do final do período de transição em 2020, a Irlanda do Norte permaneceria no espaço económico da UE..Que disse May aos deputados?.Theresa May justificou a sua presença na Câmara dos Comuns na segunda-feira para pôr termo à especulação sobre o ponto da situação das negociações..Numa declaração que não primou pela clareza, afirmou que se registam progressos, que um acordo está mais perto e deixou no ar a hipótese de ceder a um compromisso relativo à cláusula de salvaguarda, mas insistiu não ceder na questão da Irlanda..Nas reações à intervenção de May, vários comentadores e políticos notaram que até os mais próximos da primeira-ministra se mostraram distantes.."Honestamente não creio que um único deputado tenha mostrado apoio à estratégia das negociações do brexit da primeira-ministra na sua declaração de hoje. Nem um", escreveu o deputado trabalhista Jonathan Reynolds..Sinn Féin quer referendo em caso de não haver acordo.O partido republicano irlandês Sinn Féin vai exigir um referendo sobre o futuro da Irlanda do Norte caso não exista um acordo sobre o brexit. A líder do partido, Mary Lou McDonald, lembrou que nesse cenário as regras da Organização Mundial do Comércio iriam entrar em vigor e uma fronteira física teria de existir, pondo em causa o acordo da Sexta-Feira Santa..O princípio da autodeterminação e uma consequente consulta popular está previsto no acordo assinado há 20 anos, caso haja provas de que uma maioria aprova a reunificação..O governo britânico reafirmou não estar interessado em fazer controlos alfandegários, mas, em caso de não haver acordo, Londres não pode manter uma relação comercial diferente com a República da Irlanda em relação aos outros países da UE.