Irlanda à espera de saber se há ou não crise política
"Sugaram-nos até ao último cêntimo... por isso... gostaria de ver alguma mudança", diz à Reuters Geraldine Carragher, uma professora que acaba de votar no centro de Dublin, a capital da Irlanda, depositando a sua confiança num governo de centro-esquerda. Quer protestar pelos cortes que o governo conservador-trabalhista fez no âmbito do programa de resgate, que terminou no final de 2013.
Geraldine parece, porém, não se lembrar que quem pediu o resgate foi um governo de centro-esquerda. Mas Neil não esquece. "Dado o estado miserável em que a economia estava até acho que estiveram OK", afirma à Reuters o trabalhador da área da construção civil, que votou nos partidos do establishment, também na zona de Dublin.
Estes foram dois dos 3,2 milhões de eleitores irlandeses que ontem foram chamados a votar em eleições legislativas. As primeiras desde que a Irlanda saiu do resgate que tinha pedido à troika em 2010 (no valor de 67,5 mil milhões de euros. A votação decorreu durante o dia de ontem, entre as 07.00 e das 22.00, começando a contagem hoje. O 'Irish Times' falava ontem à noite numa forte afluência às urnas.
Na Irlanda os resultados eleitorais demoram mais tempo a serem conhecidos do que o que é habitual noutros países da UE devido à complexidade do sistema eleitoral. O sistema de voto único transferível possibilita maior escolha porque o eleitor pode votar num candidato de qualquer partido, ordenando-o de acordo com aquela que é a sua preferência. Além disso, tem controlo sobre para quem o seu voto será transferido. Existe, assim, forte probabilidade de um candidato independente vir a ser eleito, já que se pensa mais no candidatodo que no partido na altura de votar.
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Em jogo nestas legislativas estão 166 lugares no Parlamento irlandês, sendo a maioria absoluta de 84. O problema é que nenhum partido deverá conseguir essa maioria e, segundo indicavam as sondagens, nem mesmo a coligação que está no poder (Fine Gael-Labour) deverá conseguir chegar a ela.
O país poderá entrar numa crise política e será preciso negociar. Alguns analistas admitem mesmo que os dois maiores partidos do país, Fine Gael e Fianna Fáil (conservadores e centro-esquerda), poderão ser forçados a negociar uma Grande Coligação.
Tal aliança entre os herdeiros dos entre os herdeiros dos dois lados que se opuseram durante a guerra civil na Irlanda em 1922 e 1923 seria sem precedentes. Quando ontem foi votar na sua circunscrição, o primeiro-ministro irlandês e líder do Fine Gael, Enda Kenny, surgiu de gravata verde - a cor do Fianna Fáil. Um artigo no site da Euronews questionava: Será este o sinal de uma possível Grande Coligação?
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