Iraque: 50 mil civis em risco no assalto final a Fallujah

Mais de dois anos depois de o Estado Islâmico ter ficado com o controlo da cidade, está em curso uma ofensiva para a reconquistar. Pelo menos 50 mil civis estarão presos no interior
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Uma semana após o início da ofensiva para reconquistar Fallujah e três dias depois da morte de Maher al-Bilawi, o comandante do Estado Islâmico na cidade, as forças especiais iraquianas começaram o assalto final com o apoio da aviação norte-americana. O grupo terrorista sunita, que controla Fallujah desde janeiro de 2014 e contará com cerca de dois mil combatentes, está a resistir à entrada dos militares iraquianos e as organizações de ajuda humanitária temem que possam usar os 50 mil civis que estão presos na cidade como escudos humanos.

Ahmad Sabih, um pai de família de 40 anos, conseguiu chegar a um campo de refugiados a cerca de 20 quilómetros de Fallujah. "Decidi tentar o tudo por tudo. Ou salvava os meus filhos ou morria com eles", disse à AFP. Desde o início da ofensiva, há uma semana, pelo menos três mil pessoas "exaustas, assustadas e famintas" conseguiram fugir mas estima-se que 50 mil continuam bloqueadas "sem ajuda nem proteção", alertou o Conselho Norueguês para os Refugiados. "Os civis presos têm de ter passagem segura para fora da cidade já. A situação é crítica quando começa o assalto final", escreveu a organização não governamental no Twitter. Desde fevereiro que a cidade - a segunda maior ainda às mãos do Estado Islâmico no Iraque - está cercada.

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"As forças iraquianas entraram em Fallujah com o apoio aéreo da coligação internacional e da aviação iraquianas e o apoio da artilharia e de tanques", disse o tenente-general Abdelwahab al-Saadi, que comanda a operação. "As forças de contraterrorismo, a polícia da província de Anbar e o exército iraquiano começaram a entrar na cidade, vindos de três direções, cerca das 04.00 [02.00 em Lisboa]", acrescentou, dizendo que "há resistência da parte do Daesh", usando a sigla árabe para o grupo terrorista.

Caso a operação tenha sucesso, será a terceira grande cidade recuperada pelas forças iraquianas ao Estado Islâmico - depois de Tikrit e de Ramadi, capital da província de Anbar. Fallujah foi conquistada em janeiro de 2014, seis meses antes do grupo sunita declarar a criação do califado (chegou a deter 40% do território iraquiano, agora terá 14%) e nomear Mossul a sua capital.

A coligação de milícias xiitas, conhecida como Mobilização Popular, liderou vários ataques no ano passado contra o Estado Islâmico, mas prometeu não participar no assalto final à cidade de maioria sunita, de forma a evitar agravar ainda mais a violência confessional.

Atentados em Bagdad

As autoridades acreditam que é desde Fallujah, a cerca de 50 km de Bagdad, que o Estado Islâmico tem lançado os ataques suicidas que têm atingido a capital. O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, anunciou o início da ofensiva contra Fallujah a 22 de maio, após a morte de mais de 150 pessoas numa só semana em Bagdad.

Ontem, dois bombistas suicidas fizeram-se explodir na capital. Pelo menos oito pessoas morreram e 21 ficaram feridas quando um deles fez explodir um veículo junto a um edifício governamental em Tarmiya, um subúrbio de maioria sunita. Outro suicida, um motociclista, acionou o cinto de explosivos em Sadr City (xiita) matando pelo menos três pessoas e ferindo outras nove. Além disso, pelo menos 12 pessoas morreram e 20 ficaram feridas na explosão de um carro armadilhado, no distrito xiita de Shaab.

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