Investigadora defende revisão da história da arte em Portugal

A investigadora Margarida Acciaiuoli defendeu hoje no Porto uma revisão da história da arte em Portugal no século XX para que se atribua uma maior relevância à obra de Amadeo de Souza Cardoso.
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"Embora o estudo da sua obra tenha nas últimas décadas sido feito sem parar, vejam o absurdo, continua a ser pouco relevante o seu contributo na história da arte do século XX", disse a docente do Departamento de Historia de Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa.

Margarida Acciaiuoli proferiu uma palestra sobre "Amadeo e Almada ou a força configuradora da pintura" na abertura do Congresso Internacional Amadeo de Souza Cardoso, no Centenário da exposição de pintura (abstracionismo) do Porto (1916).

"Sabe-se que esse esforço [de aprofundamento na obra de Amadeo] tem trazido à luz do dia aspetos pouco ou nada conhecidos e que hoje é possível, graças a esse esforço, ter uma ideia mais precisa da sua obra e da importância de que ela se revestiu. Como se justifica, então, que o tal trabalho não tenha exigido até ao momento os necessários ajustamentos na historiografia que fez escola no nosso país?", questionou a historiadora.

Margarida Acciaiuoli considerou que "as investigações que se têm realizado pouco efeito terão produzido numa mais do que necessária revisão da história da arte em Portugal no século XX".

"Lanço assim um desafio aos mais jovens investigadores para que se concentrem nessa tarefa que urge fazer, uma vez que a maior parte dos historiadores a julgam impossível ou desnecessária, embora continuem a investigar incessantemente a obra de autores que efetivamente merecem ser estudados, mas cuja informação raramente é integrada num discurso mais abrangente", sublinhou.

A investigadora disse ainda aguardar que esta proposta "se possa traduzir na homenagem derradeira que se há de fazer a Amadeo".

O congresso, a decorrer até sábado, comemora a primeira exposição individual do pintor em Portugal, realizada no Porto em novembro de 1916, que se pretende contextualizar, compreender e analisar e, simultaneamente, a vida e a obra de uma figura ímpar no panorama artístico português.

Oitenta e uma das 114 obras de Amadeo de Souza Cardoso expostas no Porto em 1916, na única exposição individual do artista, compõem a mostra agora patente no Museu Soares dos Reis, onde permanece até ao final do ano, antes de seguir para Lisboa em janeiro.

"As obras que Amadeo decidiu expor [em 1916] estão hoje dispersas por diversas coleções públicas e privadas. Reuni-las, procurando refazer os gestos e as opções do malogrado pintor [que morreria, inesperadamente, em 1918, com 30 anos de idade] é, em primeiro lugar, uma homenagem", indica a descrição da exposição, que conta com curadoria das investigadoras Raquel Henriques da Silva e Marta Soares.

Em declarações à agência Lusa, em agosto, quando do anúncio da mostra, a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, ex-diretora do Museu do Chiado e do antigo Instituto Português de Museus, lembrou que "aquilo que se diz desta exposição é sempre um aspeto anedótico mais castiço, que as pessoas não perceberam nada, que foi um escândalo, que lhe cuspiram para os quadros, que lhe deram pancada", mas há que acrescentar que a exposição de 1916, no Jardim Passos Manuel, no Porto, e na Liga Naval Portuguesa, em Lisboa, levou a um debate sobre o que era arte contemporânea.

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