Vacina contra VIH com resultados muito positivos em humanos
Uma vacina contra o VIH foi testada em cerca de 400 pessoas, de diferentes localizações geográficas, e mostrou-se segura e capaz de ativar o sistema imunológico dos participantes no ensaio clínico. Os resultados "representam uma etapa importante" para a criação de uma vacina que possa vir a ser licenciada no futuro. Esta é a quinta vacina experimental contra o VIH testada em 35 anos.
Apesar do sucesso dos primeiros testes, o responsável pelo ensaio, o virologista Dan Barouch, pediu cautela na avaliação dos resultados, uma vez que não existe garantia de que os próximos sejam igualmente positivos.
No entanto, os dados que já são conhecidos representam um grande avanço na investigação de uma vacina contra o vírus. Até agora, a grande diversidade de estirpes do VIH tem sido o principal obstáculo para o sucesso de todas as vacinas que têm sido testadas, lê-se na revista científica The Lancet, onde o estudo foi publicado.
Em 2016, foram diagnosticados mais de 1,8 milhões de novos casos de infeção em todo o mundo - 160 mil na Europa - e ainda não existe nenhuma vacina profilática licenciada.
Durante o ensaio foram realizados estudos paralelos em humanos e macacos rhesus e os testes mostraram que pode ser utilizada em seres humanos de diferentes regiões geográficas.
Os participantes foram recrutados em 12 clínicas na África Oriental, África do Sul, Tailândia e EUA. Foram incluídos participantes saudáveis, não infetados pelo VIH (com idades entre os 18 e 50 anos) e considerados de baixo risco para a infeção pelo vírus da imunodeficiência humana.
A vacina experimental foi bem tolerada e mostrou-se eficaz tanto para humanos adultos quanto para os macacos rhesus. Além disso, gerou uma resposta forte e sustentada do sistema imunológico de ambos.
"Esses resultados devem ser interpretados com cautela", esclareceu o principal autor do estudo, Dan Barouch, citado pelo El País.
"Os desafios no desenvolvimento de uma vacina contra o VIH não têm precedentes e a capacidade de induzir uma resposta imune específica ao VIH não indica necessariamente que a vacina proteja os seres humanos da infeção", acrescentou.
O ensaio clínico vai agora ser ampliado a 2.600 mulheres na África do Sul em risco de contraírem o vírus e são esperados resultados mais amplos para 2021 ou 2022.
"Necessitamos tanto de uma vacina", disse François Venter da Universidade de Witwatersrand (África do Sul), mas "já conhecemos isto: vacinas experimentais promissoras que não se concretizam", acrescentou, citado pela AFP.
Cerca de 37 milhões de pessoas vivem com o VIH ou com SIDA, segundo a Organização Mundial de Saúde. Desde que foi diagnosticada, nos anos 1980, a doença já matou cerca de 35 milhões dos 80 milhões infetados.
Portugal está entre o restrito grupo de países europeus com mais pessoas com VIH diagnosticadas e com mais doentes em tratamento que deixaram de transmitir a infeção, revelou esta quinta-feira um responsável da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em entrevista à agência Lusa, o coordenador do Programa de Doenças Transmissíveis da OMS, Masoud Dara, saudou a evolução registada nos últimos anos no combate à sida.
"Portugal tem feito um percurso exemplar na prevenção, deteção, tratamento e cuidados dos doentes com VIH", afirmou Masoud Dara, sublinhando que o país atingiu praticamente todos os objetivos estabelecidos no programa das Nações Unidas para o VIH/sida - ONUSIDA, conhecido como 90/90/90.
Portugal já atingiu um desses objetivos - a identificação das pessoas infetadas -- e conseguiu que 89% dos doentes em tratamento atingissem uma carga muito indetetável, acrescentou, por seu turno, o secretário de Estado da Saúde, Fernando Araújo.
"Exemplar" é o adjetivo escolhido por Masoud Dara, que coloca assim Portugal ao lado de países como a Dinamarca, a Islândia, a Suécia, a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte, que já alcançaram a meta dos 90-90-90.
No entanto, a média dos 53 países europeus que participam no programa revelam uma situação preocupante: apenas 69% de doentes estão identificados, a maioria não está em tratamento (58%) e apenas 36% de doentes que estão em tratamento deixaram de ser uma ameaça na transmissão do vírus, segundo dados avançados à Lusa pelo responsável.
Masoud Dara aponta a situação vivida nos países da Europa de Leste como a principal razão para estas percentagens tão baixas, já que naquela região do globo a sida continua a ser um assunto tabu.
"Em 2016, havia 160 mil novos infetados na Europa, dos quais 80% viviam em países de leste", lamentou, explicando que naquela região o número de novos doentes continua a aumentar, em parte por falta de prevenção e limitado acesso a tratamentos.
Resultado: No leste, estão diagnosticados apenas 63% dos doentes, só um em cada quatro (28%) está em tratamento e 88% dos doentes em tratamento continuam a ser um perigo em termos de transmissão do vírus.