Interior
Quem nasce e vive no Interior, por norma está habituado a ouvir falar de Interioridade. Enquanto tema de discussão, a interioridade marcou todas as agendas eleitorais de que tenho memória. Se por um lado quem sente estes problemas continua a sentir dificuldades em diversas situações do quotidiano, por outro, o que se tem feito para contrariar os efeitos da interioridade, ou fica aquém do esperado ou não passam de ações demagógicas que rapidamente são desmascaradas por quem vive o dia a dia nestes territórios. Mais do que falar do Interior é necessário praticar o Interior, uma expressão que não me canso de repetir e que é muito mais do que debitar um conjunto de medidas avulsas para calar aqueles que estão isolados pelo espaço, pelo tempo e pela falta de recursos.
Por exemplo, falemos do acesso aos cuidados de saúde. Os Hospitais Distritais ficam a uma hora e meia de distância de Freixo de Espada à Cinta. O atendimento num Centro de Saúde aberto em caso de urgência durante a noite, e mesmo depois das 22h00, só pode ser alcançado percorrendo 45km, na melhor das hipóteses. Só quem dependa, precise e viva aqui, compreende que a luta que iniciámos pelo alargamento do horário do Centro de Saúde até às 00h00 é muito mais do que um par de horas a mais. Mais do que rácios e tabelas, é preciso ver o quanto ganhamos em qualidade de vida.
Estimular a criação de oportunidades no nosso território, pois é disso que se trata, assegura uma coesão territorial que deve ser implementada com medidas concretas e assertivas.
Não me lembro da última campanha eleitoral para as legislativas em que não se tenha falado de outro tema recorrente, a reabertura da linha ferroviária na Barca D´Alva. É necessário coragem política para colocar em prática todos os estudos, que mais não foram do que consumidores de tempo para adiar essa decisão; é hora de colocar em prática e desbloquear esta situação de uma vez por todas.
Devemos ainda lembrar o PRR que temos em andamento, uma vez que se trata de fundos que podem compensar e alavancar o desenvolvimento e o progresso do nosso território. Uma última palavra ao setor da educação. Não é fácil trabalhar para que o Interior tenha escolas que garantam a mesma qualidade de ensino que existe noutras zonas do país. As infraestruturas são importantes, mas aqueles que ensinam, os melhores profissionais, à semelhança dos que cuidam da nossa saúde, têm que ter condições vantajosas em exercer a sua profissão nestes territórios.
O Interior não é só dificuldades, é também um território de oportunidades, com muita qualidade de vida que deve ser promovida para manter quem cá reside e fixar quem possa acrescentar valor ao mudar-se para estas zonas. Precisamos é de uma coesão mais humana nas relações com os centros de decisão e de trabalhar em prol de medidas urgentes, porque cada dia que passa sem aceitar que o problema existe, é viver em negação com o Interior do país e com quem aqui resiste.
Presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta