Inscrição recusada e Adrien fica em risco de só jogar em janeiro
Adrien Silva viu a sua inscrição como jogador do Leicester ser recusada pela FIFA, apurou o DN junto de fonte bem colocada no processo, e agora arrisca não jogar até janeiro. O negócio não está em causa, porque a redação do contrato de transferência entre as partes salvaguarda a consumação do negócio. Ou seja, o Sporting vai receber a verba correspondente e acordada com o Leicester, ao passo que o clube inglês fica privado do médio até ao início de 2018 e o futebolista adiará a estreia na Premier League até janeiro.
Entretanto, o clube inglês, questionado pelo DN, garantiu que estava em diálogo com o Sporting e com o jogador. "Estamos a trabalhar com o Adrien e o Sporting para superar algumas questões relacionadas com o registo do jogador e explorar todas as opções para encontrar uma resolução", disse ao DN fonte oficial do emblema britânico
Bernardo Morais Palmeiro, advogado especialista no tema e antigo membro do departamento jurídico da FIFA, garante que não está "a ver" como os dois clubes podem estar a trabalhar em conjunto numa solução, até porque "Adrien é jogador do Leicester, o negócio está fechado e ninguém coloca isso em causa". O advogado vê em campeonatos com mercados ainda por fechar, como a Turquia, uma possibilidade: "Pode haver algumas soluções que não são fáceis de concretizar. Por época um jogador pode ser registado em três clubes mas só pode jogar por dois e esta é uma regra clara e sem exceções. Assim, o que se podia tentar era emprestá-lo a um clube de um mercado em que ainda estivesse aberto, como a Turquia. Não sei se a FIFA aceitaria porque não está previsto nos regulamentos. O certificado internacional ainda está em Portugal, o que o Leicester teria de fazer era requerer à FIFA que excecionalmente o certificado fosse para Inglaterra para ser emitido de imediato, depois, por exemplo, para a Turquia. Mas isso impedi-lo-ia de representar o Leicester esta época desportiva."
Para que o futebolista integre ainda o clube inglês nos próximos dias seria necessária uma decisão inédita: "Em tese a FIFA começará por comunicar que não se encontra em posição de intervir e validar o pedido de certificado internacional através de carta administrativa. O que o Leicester pode fazer é pedir uma decisão formal à Comissão do Estatuto do Jogador que então se pronunciaria formalmente e depois recorrer para o TAS contra essa decisão. Mas não há memória de uma decisão contra a FIFA."
Para Bernardo Morais Palmeiro, todos os dados indicam que houve algum excesso de confiança por parte do campeão inglês em 2016. "A regra é clara, o Leicester jogou um bocadinho com a venda do Drinkwater, solicitou uma extensão a nível nacional mas que não é permitida a nível internacional."
O que tramou Adrien foi a hora registada no Transfer Matching System (TMS) e que foi para além da hora limite. Esse prazo foi concedido pela Premier League, que aceitou a inscrição do português. Aliás, a luz verde dada pela Premier League pensava-se que era um argumento de peso a favor de Adrien e do Leicester. Mas a FIFA, como o jurista Paulo Relógio esclareceu ao DN a 2 de setembro, não se sobrepôs ao TMS e muito menos desacreditou um sistema informático implementado pela própria FIFA. A hora registada pelo TMS prevaleceu, com a agravante de um dos últimos documentos anexado ser de crucial importância para a inscrição do futebolista.
No meio disto tudo, o Sporting é a parte menos incomodada com a posição da FIFA, pois, como escrevemos na edição de ontem, nenhuma das cláusulas do acordo entre os dois clubes previa o retrocesso do negócio caso a FIFA reprovasse a inscrição imediata de Adrien, o que veio a acontecer.
Mais. O Leicester já avançou com uma parcela importante do valor total da transferência e na redação do contrato de transferência o clube inglês não fez valer a inscrição como uma condição para a consumação do negócio. No fundo, o que a FIFA estava a apreciar era a inscrição de Adrien e não a transferência. Por isso para o Sporting é como se nada fosse, talvez por isso os leões não tenham sido notificados até ao fecho desta edição, não sendo crível que tivessem de o ser.
Bruno de Carvalho (ver página ao lado) realçou que Adrien neste defeso "teve um comportamento exemplar". E mostrou estar solidário com o clube inglês: "Espero que o Leicester, com os recursos, consiga fazer a inscrição. Um jogador com a qualidade do Adrien merece estar a jogar. Quando o Leicester vende o Drinkwater, é a contar com o Adrien. As negociações têm os seus timings e introduzir as documentações no TMS por vezes trazem estes dissabores. O Sporting entregou documentos a tempo. O último documento entrou segundos depois, tenho pena que isso tenha acontecido ao Adrien."