Iniciativa Liberal. "Popularizar" será a chave para saída de Cotrim e avanço de Rui Rocha

Rui Rocha, deputado, é ainda o único candidato à presidência da IL e já colhe o apoio de parte da bancada parlamentar. Mas há uma outra deputada, Carla Castro, que está a ser incentivada a avançar. O modelo de crescimento do partido dita a saída de Cotrim Figueiredo.
Publicado a
Atualizado a

O deputado liberal Rui Rocha anunciou ontem a candidatura à liderança da Iniciativa Liberal, meia hora depois de João Cotrim Figueiredo ter feito saber que não se recandidataria a novo mandato, e já começou a convidar pessoas para a sua lista, apurou o DN. Sendo que o seu diretor de campanha também já está escolhido, o deputado Bernardo Blanco.

E foi ainda no domingo, ainda sob a surpresa dos anúncios liberais, que Cotrim Figueiredo anunciou na televisão que o seu candidato é mesmo Rui Rocha. O que revela que estiveram sintonizados para esta nova etapa da vida do partido, que terá a sua convenção eletiva no final do ano.

Numa bancada de oito deputados - sob a liderança de Cotrim Figueiredo passou de um deputado para os oito nas últimas legislativas -, Rui Rocha já tem o apoio público de quatro membros do grupo parlamentar, além do ainda líder do partido e de Bernardo Blanco, o de Joana Cordeiro, deputada por Setúbal, e o de Patrícia Gilvaz, eleita pelo Porto.

Facebookfacebookhttps://www.facebook.com/joanarcordeiro/posts/pfbid02gjNQgV2sNvBQNCLpLYeWYZ8eA6QqHiLQgyQUpMSxD1xi7aYneGc5knCeEcDYmkQUl

O líder parlamentar Rodrigo Saraiva mantém-se neutral para já, até porque ainda há a possibilidade de outra deputada se abalançar a uma candidatura a liderança da IL, no caso Carla Castro, eleita por Lisboa e que está a ser incentiva nas redes sociais a avançar. "Para já" a deputada não quer falar sobre o assunto.

Fontes da IL afirmam que são os setores críticos e mais conservadores do partido que estão nessa tentativa de ter um candidato alternativo a Rui Rocha, que também é membro da Comissão Executiva da IL. "Mas com quatro colegas de bancada já do lado de Rui Rocha começa a ser difícil de Carla Castro acabe por protagonizar uma candidatura à liderança, mas tem de se esperar para ver", diz a mesma fonte.

Fora da corrida - "não quer mesmo" asseguram-nos - estará Carlos Guimarães Pinto, o segundo presidente da IL ( o primeiro foi Miguel Jesus Ferreira) e que é deputado nesta legislatura.

No Instagram, Bernardo Blanco sintetizou os motivos de apoio a Rui Rocha para a sucessão de Cotrim Figueiredo e que são verbalizados por outros setores daquela força política: "O Rui é uma pessoa íntegra, de trabalho combativo e com a capacidade de popularizar o Liberalismo pelo país". Sublinham ainda o facto de ter "uma forte presença nas redes sociais".

"Vejo nele todas as qualidades que eu acho serem as necessárias nesta fase do partido", afirmou João Cotrim Figueiredo na noite de domingo na SIC Notícias. Destacou ainda as qualidades do deputado como "inteligência", "sentido político" e "capacidade de comunicar", além de uma "velocidade de reação às matérias muitíssimo grande".

Quando questionado sobre a ainda falta de notoriedade pública de Rui Rocha, condição sine qua non para liderar um partido, Cotrim Figueiredo admitiu o grau de risco da sua saída num momento em que o partido cresceu.

"Não fugimos desse risco e da necessidade de tomar decisões corajosas, agora gostaríamos que esta decisão também fosse vista como uma forma de desligar a qualidade das ideias que estão no espaço público da popularidade dos protagonistas que lhes dão voz", disse.

Ainda sem rival na corrida à liderança, Rui Rocha terá mesmo que se bater pela "popularidade" já que um estreante deputado da bancada liberal. Com 52 anos, nascido em Luanda mas a residir em Braga desde 1978, é casado e pai de dois filhos. Licenciou-se em Direito e exerceu ainda advocacia e foi assistente convidado no Ensino Superior.

Mas Rui Rocha desenvolveu a sua carreira no setor privado como gestor de Recursos Humanos em diferentes áreas, como a banca, indústria, construção civil, automóvel, logística ou retalho. Atualmente na Assembleia da República é membro efetivo da Comissão de Agricultura e Pescas e da Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão.

"Popularizar o liberalismo" e os calendários eleitorais parecem ser mesmo a chave para descodificar a algo inesperada saída de João Cotrim Figueiredo, ainda que dentro da Il recordem que o ainda líder assegurou que não se queria manter no cargo mais de quatro anos, o que aconteceria em 2013, já que foi eleito em dezembro de 2019.

Fontes da IL garantem ao DN que a explicação dada por Cotrim Figueiredo não tem mesmo segundas leituras, que se trata de apenas de uma "análise sobre o que é melhor para o futuro do partido".

"Achei que era esta a altura, a única altura aliás, onde conseguia resolver os dois problemas porque encurtando o mandato da comissão executiva resolvia o problema da sincronização dos mandatos dos órgãos internos e antecipando a não recandidatura acabo por dar à nova liderança que vier a seguir destas eleições de dezembro mais tempo para se preparar, para se tornar notada, para se tornar notória e portanto poder fazer as ideias liberais ir mais longe possível", afirmou Cotrim Figueiredo na SIC Notícias.

E se os calendários eleitorais e a necessidade de dar espaço para a afirmação de outra liderança são razão, não é menor a de substância e que também foi assumida pelo presidente da Iniciativa Liberal. Cotrim Figueiredo, que se manterá como deputado, assumiu que "não é a pessoa ideal para fazer determinado tipo de abordagens políticas à oposição, mais combativas, mais populares, mais abrangentes a nível nacional. "Reconheço as minhas limitações e portanto acho que há pessoas no partido com mais capacidade de o fazer" .

"Popularizar o liberalismo" parece ser tarefa para o próximo líder liberal, para "sobretudo fazer crescer o partido nos meios suburbanos e rurais", diz ao DN uma fonte da IL.

António Costa aproveitou ontem a ideia da "popularização" da IL em seu benefício. Acusou partido de estar a "competir com o Chega no estilo de turbulência e má-educação democrática como intervém no debate público". E rematou em tom irónico: "Percebo que o doutor João Cotrim Figueiredo não se sentisse à vontade nesse estilo de luta livre no meio do lamaçal."

Carlos Guimarães Pinto

Nascido em Paramos, Espinho, Carlos Guimarães Pinto foi o segundo presidente da Iniciativa Liberal, cargo assumiu em outubro de 2018 e que deixou em dezembro de 2019, quando o partido conseguiu eleger pela primeira vez um deputado. pelo círculo de Lisboa. No caso João Cotrim Figueiredo, que viria a assumir a liderança desde então. Não foi à primeira mas à segunda, nas legislativas de janeiro de 2022, que Guimarães Pinto foi eleito deputado, numa bancada que cresceu para oito mandatos. Doutorado em Economia, foi consultor de estratégia na área das telecomunicações e digital para empresas em mais de 20 países. Tornou-se conhecido através das suas crónicas em jornais de economia, nomeadamente no site ECO e no blogue O Insurgente. Em 2021, juntamente com Adolfo Mesquita Nunes (ex-CDS) e Carlos Moreira da Silva, criou o Think Tank MaisLiberdade, que se dedica à partilha de informações e dados sobre políticas liberais ao redor do mundo.

João Cotrim Figueiredo

O atual líder da IL, nascido em 1961, estudou na Escola Alemã de Lisboa e graduou-se em Economia na London School of Economics. João Cotrim Figueiredo esteve largos anos ligado ao setor privado. Foi administrador da Compal entre 2000 e 2006 e, simultaneamente, da Nutricafés entre 2003 e 2006. Seguiu-se a Privado Holding, dona do BPP, onde após a saída de João Rendeiro atingiu o cargo de presidente executivo, no ano de 2009. Seguiu para a área da televisão, para o cargo de director-geral da TVI de 2010 a 2011. Foi presidente do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal entre 2013 e 2016 e em 2015 foi eleito vice-presidente da European Travel Commission. Em 2019 é eleito deputado e assume o mandato na Assembleia da República, para pouco depois vir a ser eleito o terceiro presidente da IL. Sob o seu comando o partido cresceu em número de militantes e de eleitos, tendo conseguido nas eleições legislativas de janeiro deste ano eleger oito deputados. O que tornou a IL a 4.ª força política em Portugal.

paulasa@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt