Infantino, o pai do fair-play financeiro, vai mandar na FIFA
Gianni Infantino foi ontem eleito, em Zurique, presidente da FIFA para o triénio 2016-2019. O ítalo-suíço de 45 anos foi o escolhido pelas 207 federações com direito a voto, tendo precisado apenas de duas voltas para bater a concorrência.
O novo presidente da FIFA nasceu na cidade suíça de Brig-Glis, sendo filho de italianos. Formou-se em Direito pela Universidade de Friburgo, tendo posteriormente sido secretário-geral do Centro Internacional de Estudos do Desporto da Universidade de Neuchâtel e chegado à UEFA em 2000, tornando-se secretário-geral em outubro de 2009. Curiosamente, tornou-se famoso por ser o rosto dos sorteios das competições da UEFA, mas foi na sombra do então presidente Michel Platini que fez crescer o seu prestígio no organismo. Aliás, em situações de crise era sempre Infantino a dar a cara, protegendo assim o antigo futebolista francês, que entretanto caiu em desgraça.
Infantino é, na prática, o pai do fair-play financeiro imposto aos clubes europeus pela UEFA e um dos responsáveis pelo triplicar das receitas do organismo. Adepto do Inter Milão por influência do pai e admirador do antigo avançado Alessandro Altobelli, o novo líder da FIFA fala seis idiomas (inglês, italiano, francês, espanhol e português) e ainda percebe árabe, conhecimento que adquiriu por ser casado com uma libanesa.
No seu último discurso como candidato, ontem de manhã, Gianni Infantino afirmou que há cinco meses nunca lhe passou pela cabeça ser presidente da FIFA. O sonho começou a tomar forma logo na primeira votação, ao início da tarde, à qual não se submeteu o sul--africano Tokyo Sexwale, que desistiu da corrida à cadeira do poder.
O antigo secretário-geral da UEFA começou por receber 88 votos, contra 85 do qatari Salman Al--Khalifa, 27 do jordano Ali Al-Hussein e apenas sete do francês Jérôme Champagne. Contudo, como era necessária uma maioria de dois terços, foi necessário recorrer a um novo ato eleitoral, em que bastaria uma maioria simples, de 104 votos, para eleger o sucessor do presidente suspenso Joseph Blatter.
Gianni Infantino conseguiu 115 votos, e os que lhe valeram a maioria foram canalizados pelos apoiantes de Al-Hussein e Champagne. É que, na segunda ronda, o príncipe jordano obteve apenas quatro votos, enquanto o francês não teve nenhum. O grande derrotado acabou por ser Salman Al-Khalifa, que conseguiu apenas mais três votos do que os que havia obtido na primeira ronda.
"Restaurar a boa imagem"
Assim que foi conhecida a vitória, Infantino desdobrou-se em abraços aos seus apoiantes, entre os quais aos representantes da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o diretor-geral Tiago Craveiro e o assessor de imprensa Onofre Costa, que se empenharam na eleição do suíço de origem italiana. Num curto discurso de vitória, o novo presidente da FIFA mostrou-se bastante emocionado, tendo afirmado que "muita gente" merece que o organismo "seja respeitado", fazendo votos para que "seja restaurada a boa imagem da instituição". Nesse sentido, garantiu contar "com todos para melhorar o futuro". "Quero ser o presidente de todos vós, é essa a minha missão", frisou.
Instantes após a eleição, surgiram várias reações, entre as quais de Luís Figo, que utilizou o Twitter para felicitar o novo líder da FIFA. "Parabéns Gianni, finalmente a mudança chegou. É tempo de uma nova era na FIFA", escreveu o antigo futebolista, que abdicou da sua candidatura nas anteriores eleições, podendo agora ser um dos homens de confiança de Infantino.
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Por sua vez, Fernando Gomes, presidente da FPF, destacou o "trabalho extraordinário" de Infantino na UEFA. "Nos últimos meses, vimos como foi capaz de dialogar e construir pontes. Estamos certos de que estará à altura deste que será seguramente o desafio da sua vida", acrescentou, lembrando que "a FIFA necessita de uma liderança forte e credível". Já Pedro Proença, presidente da Liga, afirmou ser "com muita satisfação e entusiasmo" que recebeu a notícia da eleição de Infantino. "Estou certo de que se abrirá uma nova etapa na instituição máxima do futebol mundial, rumo a uma realidade mais transparente, moderna e focada nos grandes desafios que se colocam ao futebol internacional", sublinhou.
Na primeira conferência de imprensa como presidente, Gianni Infantino prometeu "trabalhar duro para colocar a FIFA no lugar onde ela merece estar", reforçando a ideia do seu discurso de vitória: "Começou uma nova era. Vamos resgatar a imagem da FIFA." E nesse sentido prometeu aproveitar e apoiar a sua ação governativa no conjunto de reformas aprovadas ontem de manhã no congresso, que antecedeu o ato eleitoral.