Inês de Medeiros traz Diogo Infante e Alexandra Lencastre ao Trindade

Nos 150 anos do Teatro da Trindade, em Lisboa, a dupla de atores vai fazer "Quem tem medo de Virginia Woolf?". A diretora, Inês de Medeiros, apresenta a programação para 2017.
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Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, o clássico de Albee, vai voltar ao palco do Teatro da Trindade, em Lisboa, em abril deste ano e com uma equipa de luxo: João Perry encena o espetáculo que será interpretado por Diogo Infante e Alexandra Lencastre nos papéis de George e Martha, o casal que se digladia entre copos de whiskey, eternizado por Richard Burton e e Elizabeth Taylor. Este será um dos grandes momentos da programação do Trindade neste ano de 2017, anunciada ontem pela programadora Inês de Medeiros.

A atriz, realizadora e deputada assumiu há quase um ano a vice-presidência do conselho de administração da Fundação Inatel, com o pelouro cultural, ficando igualmente responsável pela programação do Teatro da Trindade. "Muita da programação já estava delineada, mas ainda consegui começar a introduzir uma nova dinâmica no final do ano passado, com a introdução de novas parcerias, outros agentes que à partida não pensavam neste teatro, como a ZDB, o Temps D"Images, o Lisbon & Estoril Film Festival (Leffest)", conta.

2017 já vai ser diferente, com uma programação desenhada "de raiz" pela nova equipa. "O facto mais importante a salientar é que houve uma decisão de haver um maior investimento no Teatro da Trindade (com um orçamento na ordem dos 350 mil euros), também porque faz 150 anos, era preciso dar-lhe outras condições para celebrar condignamente". Era preciso ter produções próprias, isso era óbvio para Inês de Medeiros: "Não fazia sentido que um teatro como este fosse apenas de acolhimento, porque aos poucos a identidade vai-se esboroando, tem que ter uma assinatura." E é isso que vai acontecer já com o primeiro espetáculo, Nós, Trabalhadores, que se estreia hoje. "O espetáculo da abertura é um sinal daquilo que queremos fazer", explica a programadora. Porque é uma produção própria, porque celebra o trabalho e porque retoma uma das tradições daquele espaço que é o teatro musical.

Os 150 anos do Trindade também serão assinalados com uma produção própria: Inês de Medeiros pediu a Marco Martins e a Beatriz Batarda que criassem um espetáculo que celebrasse este teatro e a sua história, partindo de um trabalho de grande proximidade com as comunidades, "daquele a que chamamos o triângulo Inatel em Lisboa, que é desenhado pela Calçada do Combro, a Mouraria e o Chiado". Estreia-se em novembro com o título Todo o Mundo é um Palco.

Ao longo do último ano teve também oportunidade para descobrir o imenso trabalho desenvolvido por todos o país pelos mais de 1800 associados do Inatel na área da cultura - ranchos folclóricos, bandas filarmónicas, grupos teatrais, associações várias. O Trindade é um palco privilegiado para estes agentes, quer em espaços de programação específicos, quer incluídos na programação geral, sempre que tal faça sentido. Entre os novos associados estão por exemplo o Teatro da Terra, a Casa Conveniente de Mónica Calle ou o teatro Griot.

Assim, aproveitando o privilégio de ter um teatro no centro de Lisboa e ainda por cima com uma das melhores acústicas da capital, Inês de Medeiros sublinha uma aposta na música - e vai começar um novo ciclo só com músicos portugueses, programado por António Miguel Guimarães, com o nome "Há Música no Trindade, que vai ter nomes como Frankie Chaves, Mário Laginha, Vitorino, Salvador Sobral ou Dead Combo. "De forma muito imodesta tenho dito que o Trindade poderia ser o Olympia de Lisboa. Mesmo grandes artistas que fazem salas maiores, podem vir aqui fazer projetos mais alternativos", explica Inês de Medeiros. Haverá, por exemplo, homenagens a Zeca Afonso e a Ary dos Santos.

A diversidade da programação permite ter, por um lado, um projeto de teatro radiofónico (em abril), criado por Teresa Sobral, que vai dar vida às figuras de O Bairro, de Gonçalo M. Tavares e que vai contar com atores como Bruno Nogueira, José Raposo ou André Teodósio e, por outro lado, um espetáculo da Força de Produção, com encenação de Rui Melo, que junta atores e marionetas intitulado intitulado Avenida Q e que vai "fazer o retrato da geração que cresceu a ver a Rua Sésamo e dos problemas e desafios com que se confronta hoje" (estreia-se a 7 de fevereiro). Há também a intenção de apostar no teatro para a infância: ainda este mês, estreia-se o espetáculo Vanessa Vai à Luta, com texto de Luísa Costa Gomes e encenação de António Pires (coprodução com o Teatro do Bairro); depois, em abril a Plano 6 irá trazer A Fada Juju e a Floresta Encantada, um espetáculo que aborda as questões da inclusão.

"Ainda estamos a começar", diz Inês de Medeiros, sublinhando que há muitos projetos que ainda estão a ganhar forma nos bastidores. Mas não esconde o orgulho que sente não só na programação que agora apresenta como no teatro onde trabalha. Mostra-nos as remodelações feitas nos camarins, o chão brilhante no átrio da entrada, fala dos projetos com a paixão de quem está prestes a abrir as portas de sua casa. Ela que já tinha programado ciclos de cinema e outras iniciativas culturais descobriu que programar um teatro "é simultaneamente fascinante e aterrador", mas confessa que tem gostado da experiência. "É uma imensa alegria voltar ao teatro. Eu fui muito feliz, até quando fui infeliz, na Assembleia da República, mas é bom voltar ao terreno." Não a interpretem mal: "Não estou a dizer que estava farta, gostei imenso da atividade parlamentar. Ganhei imenso respeito pela atividade política, mesmo quando não partilho de todo as opiniões, e tenho a profunda convicção de que devíamos voltamos a olhar a política (não forçosamente a militância partidária) como algo de essencial para a construção de um bem comum", diz, um pouco na linha do que ainda há dias disse Obama no seu discurso de despedida da presidência dos Estados Unidos da América. Inês de Medeiros diz que não viu o discurso de Obama, os últimos dias têm sido de muito trabalho, mas como ele afirma: "A política somos nós e os políticos que temos somos nós que escolhemos e se não gostam envolvam-se."

Neste voltar ao terreno, a ex-deputada pôde constatar aquilo que já sabia: que os agentes culturais enfrentaram grandes dificuldades nos últimos anos, com a política de austeridade Passos Coelho: "Eu já sabia mas agora vejo de perto, aquilo que foi a coragem, a resiliência, a resistência mesmo do setor cultural nestes últimos quatro anos. Tenho profunda admiração pelas pessoas que conseguiram resistir e continuar a lutar. Não tenho dúvidas que se todo o país fosse tão resistente quanto os nossos agentes culturais estávamos ótimos."

Mais pormenores sobre a programação no site do Teatro da Trindade.

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