INE. Pandemia arrasta inflação portuguesa para 0% em março

Preços devem cair ainda mais embora março já reflita uma forte quebra nos hotéis e passagens aéreas.
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A forte quebra na procura e nos preços do petróleo por causa da pandemia do ​​​​​​​coronavírus e do conflito entre a Rússia e a Arábia Saudita arrastou a inflação portuguesa para 0% em março quando comparado com o nível de preços de igual mês do ano passado, anunciou o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta segunda-feira.

Não é que esta inflação homóloga tenha sido propriamente elevada num passado recente (rondou os 0,3% no ano passado como um todo e tinha sido de apenas 0,4% em fevereiro).

No entanto, o INE refere que os preços devem ficar ainda mais deprimidos daqui para a frente por causa da forte quebra da procura e da paralisação económica na sequência das medidas para deter a pandemia.

Segundo o INE, "a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) foi nula em março de 2020, taxa inferior em 0,4 pontos percentuais (p.p.) à registada no mês anterior".

Esta travagem na evolução dos preços "traduziu sobretudo a variação homóloga de -3,7% do índice relativo aos produtos energéticos (0,9% em fevereiro), refletindo a evolução dos preços nos mercados internacionais associada à redução da procura deste tipo de produtos devido à pandemia e às divergências entre os países produtores de petróleo".

Esta travagem na evolução dos preços "traduziu sobretudo a variação homóloga de -3,7% do índice relativo aos produtos energéticos (0,9% em fevereiro), refletindo a evolução dos preços nos mercados internacionais associada à redução da procura deste tipo de produtos devido à pandemia e às divergências entre os países produtores de petróleo".

Expurgando o efeito da energia e dos alimentos básicos do cabaz dos consumidores, a inflação também foi zero, o que é mais um sinal da anemia económica que começou a alastrar em meados de março, por causa do lockdown (cancelamento das atividades económicas e limitação à mobilidade das pessoas).

Segundo o INE, "o indicador de inflação subjacente (índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos) também registou uma variação homóloga nula, valor inferior em 0,1 p.p. ao registado em fevereiro".

A inflação já deve estar a entrar em território negativo em várias classes de bens e serviços, fenómeno aliás que não é estranho aos portugueses. Por exemplo, a inflação homóloga foi negativa entre julho e setembro do ano passado e nem sequer havia crise pandémica.

Transportes sofrem primeiro embate

O INE alerta que este fenómeno é capaz de se agravar bastante a partir de agora, à medida que for acumulando informação sobre o impacto da crise nos preços.

Para já, o INE nota que já se sente que a quebra de atividade começou a corroer os preços do setor do turismo, nomeadamente da hotelaria e do alojamento bem como do transporte aéreo.

Por tipo de despesa, o INE indica quais os segmentos onde a inflação, já de si negativa, ainda afundou mais. "É de destacar a diminuição da taxa de variação homóloga das classes dos Transportes e do Lazer, recreação e cultura, com variações de -1,6% e -2%, respetivamente (0,9% e -1,6% no mês anterior)".

Mas também existem alguns segmentos onde a inflação, embora negativa, recuperou ligeiramente em março face a igual mês de 2019.

"Em sentido oposto, assinala-se o aumento da taxa de variação homóloga das classes do Vestuário e calçado e dos Bens alimentares e bebidas não alcoólicas com variações de -1,7% e 1,2% (-2,9% e 0,8% em fevereiro)."

"Embora esta informação sobre o mês de março traduza já algum impacto da pandemia Covid-19, nomeadamente na recolha de preços no final do mês para os hotéis e passagens aéreas, é possível que as tendências aqui analisadas se alterem substancialmente", diz o INE.

O instituto refere também que "a informação hoje disponibilizada é útil para estabelecer uma referência para avaliar desenvolvimentos futuros", embora "seja natural alguma perturbação associada ao impacto da pandemia na obtenção de informação primária".

"Por esse motivo apelamos à melhor colaboração das empresas, das famílias e das entidades públicas na resposta às solicitações do INE, utilizando a Internet e o telefone como canais alternativos aos contactos presenciais".

Luís Reis Ribeiro é jornalista Dinheiro Vivo

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