Ainda não tinham passado 24 horas da eleição da nova presidente do Parlamento da Catalunha, quando os representantes do Junts pel Sí e CUP, os dois partidos independentistas, apresentaram uma proposta de resolução de nove pontos que declara "solenemente o início do processo de criação de um novo Estado que terá a forma de República". Este plano deverá ser votado na próxima semana, num plenário extraordinário..No texto, as duas formações que detêm a maioria no Parlamento - a Junts pel Sí (coligação da Convergência Democrática da Catalunha, Esquerda Republicana e movimentos cívicos) e a CUP (extrema-esquerda antieuropeísta) - justificam a resolução com "o mandato democrático obtido nas eleições de 27 de setembro" e têm como "objetivo que a Catalunha se converta num Estado independente"..O programa do Junts pel Sí, conhecido antes das eleições autonómicas, já contemplava o plano ontem apresentado e o final de um processo de separação da Catalunha no espaço de 18 meses.."É um ato de obediência ao povo da Catalunha. Naquilo que as pessoas votaram", declarou Josep Rull, secretário-geral da Convergência Democrática da Catalunha, o partido do presidente da Generalitat, Artur Mas..O poder do Constitucional.Mariano Rajoy garantiu que usará "todas as medidas políticas e jurídicas" ao seu dispor para defender a soberania do povo espanhol caso o plano do Junts pel Sí e CUP seja aprovado. Esta declaração foi feita depois de o primeiro-ministro ter falado ao telefone com os líderes dos principais partidos da oposição, Pedro Sanchéz, do PSOE, e Albert Rivera, do Ciudadanos..Segundo o El País, os três coincidiram nos "princípios gerais" de que agora é necessário garantir o cumprimento da lei. O mesmo jornal adiantou que Rajoy não falou com Pablo Iglesias, o líder do Podemos..Na sua declaração, o primeiro-ministro considerou que o texto apresentado pelos dois partidos independentistas em que ambos propõem essa via "é um ato de provocação" de quem "pretende ultrapassar a lei porque sabe que a lei não está do seu lado".."O governo garante e garantirá que não vão conseguir os seus objetivos e que a ser aprovada terá como resultado nenhum dos seus efeitos", declarou Rajoy. "Aqueles que querem separar e dividir a Catalunha devem saber que não o vão conseguir. Têm pela frente a lei e um governo disposto a fazê-la valer", acrescentou o primeiro-ministro..Rajoy garantiu que, enquanto estiver à frente do executivo, Espanha seguirá uma "nação de cidadãos livres e iguais" e que a "Justiça prevalecerá sobre a falta de razão". De recordar que as eleições gerais são a 20 de dezembro. "Todos estarão submetidos à lei e às resoluções dos tribunais", acrescentou..Por outro lado, mostrou-se disponível para o diálogo, mas ressalvou que defenderá "com firmeza, determinação e com os instrumentos da lei" a Espanha e os espanhóis, bem como a "democracia e a convivência em harmonia e solidária" entre todos os povos. "Essa é a minha responsabilidade", disse..Sobre as medidas concretas que adotará para fazer cumprir a lei, o líder do governo recordou a última reforma do Tribunal Constitucional que dota a instância dos "meios adequados" para atuar neste tipo de situações. Entre outras medidas, o Constitucional poderá afastar do cargo políticos que não respeitem as suas decisões e sentenças..Ameaças lamentadas.Numa resposta a Mariano Rajoy, quase em tempo real, o governo da Catalunha, através da sua vice-presidente, rejeitou que o plano ontem apresentado seja uma "provocação"e lamentou as "ameaças" usadas pelo líder do executivo. "Estamos em campanha eleitoral, isso é evidente, e provavelmente por isso Rajoy entrou em cena", declarou Neus Munté, que pediu ao governo "respeito pela democracia e pela liberdade de expressão"..Munté não quis, porém, esclarecer o impacto que o plano apresentado ontem terá no atual governo da província. E recusou-se a dizer se a Generalitat está disposta a desobedecer à lei. "A proposta de resolução insta o governo a tramitar uma série de leis cujos trabalhos já foram iniciados, continuaremos a trabalhar para esse objetivo legislativo", afirmou a número dois de Artur Mas.