"Deve o Reino Unido permanecer como membro da União Europeia ou deve sair da União Europeia?".É esta a pergunta a que milhões de eleitores britânicos vão ser chamados a responder no dia 23 de junho. Terão de optar por uma de duas respostas: permanecer ou sair..De acordo com um estudo de uma empresa de pesquisas britânica, a média das últimas seis sondagens revela que 45% dos eleitores defendem o brexit (a saída da Grã-Bretanha da União Europeia) enquanto 55% preferem continuar na União. Uma diferença demasiado pequena para garantir segurança a qualquer uma das campanhas..Ainda assim, apesar da tendência pró-europeia, para a Câmara de Comércio Luso-Britânica, a incerteza quanto ao futuro fora da União Europeia é o que mais preocupa os empresários portugueses com negócios no Reino Unido..[artigo:5064075]."Nós sabemos o que é a União Europeia. Trabalhamos dentro da União Europeia, entendemos como funciona a União Europeia e portanto, se os eleitores britânicos decidirem continuar na UE, para nós isso não será novidade, não haverá surpresas", disse ao DN Bernardo Ivo Cruz, presidente da entidade..Mas caso a opção seja pela saída da UE, o caso muda de figura. "Nós não sabemos o que poderá ser a relação do Reino Unido com o resto da Europa no caso do não [sair] ganhar. Não sabemos nós e não sabe ninguém, porque as posições que até agora têm sido tomadas publicamente pelos apoiantes da saída não esclarecem o que se espera ou o que eles esperam que aconteça ao Reino Unido", explica o empresário..[citacao:Nós não sabemos o que poderá ser a relação do Reino Unido com o resto da Europa no caso do 'sair' ganhar].Augusto Nunes é um dos gerentes de uma cadeia de restaurantes, supermercados e cafés em Londres. É com orgulho que diz que só a sua fábrica de pastelaria "produz mais de 20 mil pastéis de nata por dia." O Madeira é um dos mais antigos grupos empresariais portugueses no Reino Unido e muito do que produz e vende depende do que importa de Portugal. Talvez por isso a preocupação deste emigrante seja sobretudo eventuais alterações às políticas fiscais.."A única coisa será nos bens essenciais, nos géneros alimentícios, que irão ser taxados depois. Atualmente, tudo o que se refere a géneros alimentícios não paga IVA em Portugal [...] mas pagamos aqui depois na venda. Haverá também a parte da burocracia. Depois [de uma eventual saída da UE] haverá mais documentos para preencher", disse ao DN o empresário português, a viver há 30 anos no Reino Unido..Emprego e livre circulação.Já Paulo Costa, informático a viver em Londres há quatro anos, confessa que o que mais o preocupa são dois assuntos que considera essenciais: emprego e liberdade de movimentos. Ao DN, este lisboeta explicou que os seus receios se baseiam na possibilidade de "um certo número de empresas mais tecnológicas, mais móveis, começarem a pensar duas vezes sobre se é bom ficar aqui ou se será melhor ir para outro país europeu como a Holanda... ou até Portugal", explica..Por outro lado, Paulo teme que os seus filhos, que hoje têm a possibilidade de "vir trabalhar para cá", deixem de o poder fazer com a mesma facilidade. Se o Reino Unido sair da UE, o informático teme que lhes aconteça "o que aconteceu da primeira vez que eu vim para cá, que é precisar de um visto. Na altura, Portugal já fazia parte da Comunidade Europeia mas ainda estávamos num período de transição e por isso era preciso uma justificação para que nos dessem um visto que era sempre temporário", explica..Preocupação semelhante tem Fernanda Correia, que em relação aos "novos emigrantes" diz temer que a situação "volte ao que era antes, em que provavelmente vão ter de ter vistos." No entanto, esta gestora natural de Mirandela acredita que "em relação às pessoas que estão cá e já a viver há muitos anos, que estão a trabalhar e com contratos de trabalho, as suas condições continuarão como eram antes.".A viver no Reino Unido há 26 anos, Fernanda Correia assegura que a informação que existe não chega e é de difícil compreensão para muitos imigrantes portugueses, sobretudo para os que têm dificuldade com a língua inglesa. "As pessoas não têm informação suficiente. Nem eu própria tenho, mesmo estando constantemente a ler informação acerca disso, mas não é claro ainda exatamente o que é que vai acontecer se o Reino Unido sair da união.".[citacao:As pessoas não têm informação suficiente]."Há muitas pessoas que por falta de informação pensam que se amanhã o Reino Unido sair da UE nós somos mandados de volta para Portugal. Há muita gente que pensa isso e está preocupada com isso [...], principalmente quem tem possibilidades socioeconómicas mais limitadas", esclarece a gestora..Crise na Escócia.A eventual saída do Reino Unido da União Europeia pode causar um grave problema interno. A Escócia e o governo liderado pelo Partido Nacionalista Escocês exige a permanência na União. A primeira-ministra Nicola Sturgeon já garantiu mesmo que, havendo um brexit, haverá também um novo referendo sobre a independência, permitindo que uma Escócia independente adira à União..Tiago Botelho é professor universitário, viveu quatro anos na Escócia, onde deu aulas na Universidade de Glasgow. Hoje vive em Inglaterra, em Norwich, mas continua a acompanhar o que se passa mais a norte. "Isto é visto por grande parte dos independentistas como uma janela de oportunidade para poderem pensar no que fazer a seguir. A maioria da população não quer sair da União Europeia e como tal isto é visto como uma oportunidade única de se conseguir algo mais. Se se confirmar um brexit vão existir pressões internas para que a Escócia saia do Reino Unido e que entre para UE", disse..[citacao:Se se confirmar um brexit vão existir pressões internas para que a Escócia saia do Reino Unido e que entre para UE].Esta não será a primeira vez que o Reino Unido vota sobre a permanência na União Europeia. Em 1975, os britânicos pronunciaram-se sobre o mesmo assunto. Na altura, 67% dos eleitores decidiram que o país deveria manter-se como membro da então Comunidade Económica Europeia, à qual tinha aderido apenas dois anos antes..Mas a Grã-Bretanha quase sempre olhou de soslaio para o Velho Continente. Nunca aderiu ao espaço Schengen nem ao euro - David Cameron prometeu que nunca aderirá - e muitos dos seus cidadãos referem-se aos restantes países europeus como " a Europa", como se eles fizessem parte de um outro qualquer continente ou união de países..Divórcio.O referendo à permanência do Reino Unido na UE é por isso o culminar de uma espécie de longo relacionamento amoroso minado pela desconfiança e sensação de injustiça. A promessa de "divórcio" surgiu em 2013, quando os partidos políticos britânicos já começavam a aquecer os motores para as legislativas de 2015..Na altura, a oposição socialista de imediato acusou Cameron de ceder ao jogo dos nacionalistas do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) que tem como principal bandeira precisamente a saída da União Europeia..O então líder socialista Ed Miliband acusava o primeiro-ministro de estar com "medo do UKIP", depois de várias sondagens darem sinais de um considerável aumento do número de apoiantes do partido de Nigel Farage..No entanto, desde a primeira hora que Cameron clarificou que seria a favor da manutenção na União, desde que alcançado um novo acordo que permitisse ao Reino Unido a conquista de um "estatuto especial" na Europa. E assim foi. No passado dia 20 de fevereiro, o chefe do governo conservador anunciou ter alcançado um acordo com Bruxelas que considera vantajoso para o Reino Unido e marcou o referendo para o dia 23 de junho..David Cameron esclareceu também que faria campanha pela permanência na União, apesar dos seus opositores - muitos dos quais dentro do próprio governo e do Partido Conservador - esperarem mais por considerarem que o acordo alcançado "peca por defeito" porque continua a não garantir a soberania do Reino Unido..Em Londres