Na decisão de fazer um filme como Amor Impossível, até que ponto pesou o facto de ser uma história inspirada em acontecimentos verídicos?.Não pesou especialmente. Assim como Os Imortais (2003) é a única adaptação literária que fiz, este filme é o único em que recebi do argumentista, Tiago R. Santos, uma história já tratada - no caso de Aqui D"El-Rei (1992), foi o Vasco Pulido Valente que me trouxe a história, mas ainda não havia um argumento. Tinha sido escrita para o Jorge Queiroga, mas ele não teve subsídio para filmar. O Tiago perguntou, então, ao Jorge se ele aceitava que fosse eu a fazer o filme - e estou-lhe muito grato por ter dito que sim. Depois, naturalmente, trabalhámos e alterámos a história. Em qualquer caso, era, de facto, uma história de amor muito violenta sobre a qual me lembrava de ter lido alguma coisa..[youtube:mTOu5VD6GB4].Como se passa de uma história inicial para a estrutura de um filme?.Quando falo de qualquer coisa que pode ser identificada pelos espectadores, de temas que, de alguma maneira, interessam à sociedade, faço sempre uma enorme investigação. Por exemplo, a exploração do trabalho infantil, que está em Jaime (1999), levou-me ao Vale do Ave para conhecer as respetivas condições; o regresso dos heróis em Os Imortais (2003) passou por contactos com comandos que tiveram a experiência da guerra; a abordagem da pequena delinquência, em Os Gatos Não Têm Vertigens (2013), motivou muitas conversas com pessoas que lidam com jovens marginais. Informo-me sempre para, depois, criar a minha própria história. Não são experiências minhas: nunca fui sujeito a trabalho infantil, não vivi como um jovem marginal delinquente, não tive a experiência da guerra. Por isso, são filmes diferentes dos primeiros - Perdido por Cem (1973), Oxalá (1981) e O Lugar do Morto (1984) -, deixei de olhar para dentro, passei a olhar para fora..Desde Call Girl (2007), esse trabalho tem passado pela colaboração com Tiago R. Santos..Como antes passou pelo Carlos Saboga. Em equipa que ganha não se mexe... Dou-me muito bem com o Tiago, ele é um fantástico argumentista e também dialoguista. A condição de dialoguista é, aliás, fundamental num argumentista, até porque o respetivo trabalho pode ser muito ingrato: a partir do momento em que o filme está feito, desaparece, não é como uma peça de teatro - onde fica a marca do argumentista é nos diálogos. Talvez por sermos de gerações diferentes, por termos maneiras de ver e gostos diferentes, completamo-nos muito bem..Leia mais na edição impressa ou no e-paper do DN