António Miranda, português há muito a viver em Moçambique, abriu uma fábrica de tratamento de caju em 2002 e hoje dirige quatro fábricas com três mil empregadas, só na província de Nampula. "Talvez não sejamos o maior empregador da província, mas temos uma fatia muito razoável", explica à Lusa no seu escritório, um quinto andar em Nampula, no Norte..No Sul da província, em Angoche, em Namige, em Napaco e em Meconta, ficam as quatro fábricas de caju e as suas linhas de montagem, preparando o fruto para exportar, em quantidades que só são medidas em toneladas..António Miranda é natural da Figueira da Foz mas muito novo seguiu os pais para Angola e depois para Moçambique. A guerra civil apanhou-o ainda em Moçambique, quando fugiu para a África do Sul, onde ficou até ao final da guerra (1992).."Abri a primeira fábrica de caju a 1 de Abril de 2002, em Namige. Comecei com 50 pessoas", conta, acrescentando que está a expandir o negócio para os óleos, de girassol e rícino, financiando plantações no Norte da província.."A fábrica de óleo de Meconta tem capacidade para produzir 15 mil toneladas por ano mas está preparada para ir às 50 mil. E faz qualquer óleo, industrial, de rícino, alimentar...", diz..O projecto de Meconta emprega para já 170 pessoas e custou ao grupo três milhões de euros. E na vizinha província da Zambézia cultiva-se em mais de 200 hectares a macadamia (fruto em forma de noz).."Estamos também a reabilitar o chá, a fazer um bocado de água mineral e também estamos no negócio do gado", diz António Miranda..Mas por agora é o caju o negócio com maior fatia no Grupo Miranda (Industrial, Comercial e Agrícola), que só na fábrica de Angoche emprega 940 pessoas, o maior empregador do distrito, que será visitada pelo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, em Maio..A fábrica de Angoche, ao lado da antiga Companhia Colonial Agrícola, processa três toneladas de caju por dia, destinado à Holanda e EUA, "porque o mercado nacional não absorve", diz Augusto Mota, gerente de produção..Também português, Augusto Mota garante que a fábrica podia processar muitas mais toneladas se houvesse castanha de caju suficiente no mercado, o que, adianta, não acontece por um ciclone ter destruído, no ano passado, grande parte das plantações..Ainda assim a fábrica do grupo Miranda em Angoche é um mundo. De um lado coze-se a castanha, do outro centenas de pessoas procedem ao descasque, mais à frente faz-se a torra numa dezena de fornos sucessivos, segue-se a selecção por cores e no final a embalagem em vácuo..A fábrica ficou meia destruída com o ciclone Jokwé, em Março do ano passado, e serviu até para recolher pessoas que ficaram sem casas, mas, diz Augusto Mota, nunca deixou de funcionar..Miranda tem uma visão muito sua do grupo que dirige: "Não é empresa para me pôr rico." E depois, diz, não tem projectos futuros, só presentes. E amanhã? Mais fábricas, mais empresas? "Andar para a frente, valorizar as pessoas, abrir oportunidades, marcar presença, fazer bem feito".