Imamoglu - o homem que desafia Erdogan e promete uma "nova era" para Istambul

Pouco conhecido fora da maior cidade turca até à campanha para as municipais de março, o ex-futebolista amador, que começou a carreira no negócio de construção da família, tornou-se no improvável maior opositor do presidente Erdogan.
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Quando era aluno do liceu de Trabzon nos anos 80, Ekrem Imamoglu jogava andebol e futebol. A paixão por este último desporto é um dos poucos pontos em comum entre o novo presidente da Câmara de Istambul e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, afastado de uma carreira como futebolista profissional por uma lesão. Ao confirmar a vitória de março, numa repetição das municipais na maior cidade turca, o candidato do Partido Republicano do Povo (CHP, de centro-esquerda) pôs fim a 25 anos de domínio do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, islamita e nacionalista). E tornou-se não só no maior opositor a Erdogan como a esperança de uma nova era na política turca.

Contada a totalidade dos votos, Imamoglu conquistou 54,21% dos votos, enquanto Binali Yildirim, candidato do AKP, teve 44,99%. Assim que os resultados começaram a chegar Yildirim admitiu a derrota e deu os parabéns ao adversário. Erdogan também já o felicitou.

Durante a campanha para as eleições de março, Imamoglu marcou bem a diferença para Yildrim. Enquanto o candidato do AKP ficava na sombra de Erdogan - a verdadeira figura de proa, que não hesitou em participar em mega-comícios -, o candidato do CHP preferia fazer pequenas reuniões pelos bairros de Istambul, para ouvir as preocupações dos residentes.

Com um discurso centrado na necessidade de trabalhar em conjunto para combater a pobreza urbana e condenar a retórica populista, Imamoglu conseguiu chegar aos habitantes da maior cidade turca, historicamente desconfiados de uma CHP laico e de classe média. O candidato soube ainda atrair os votos da minoria curda de Istambul, descontente com as detenções de políticos curdos, bem como da classe média trabalhadora, muito afetada por uma taxa de inflação de 20% e pela subida do desemprego.

Apesar do domínio do AKP nos media, Imamoglu conseguiu uma vitória histórica e simbólica no domingo. Diante dos apoiantes, prometeu "uma nova era" para a maior cidade turca.

Aos 48 anos, este homem nascido na província de Trabzon, junto ao Mar Negro, tem agora sobre os ombros as expectativas dos opositores a Erdogan. Formado em Gestão na Universidade de Istambul, assumiu as rédeas do negócio de construção da família. Casado com Dilek Kaya e pai de três filhos, foi vice-presidente do Trabzonspor B.K. , a equipa de basquete da cidade.

Eleições repetidas

Os eleitores de Istambul voltaram às urnas este domingo para a repetição das municipais, após a anulação do anterior escrutínio, medida muito contestada pela oposição. Esta eleição era considerada um teste decisivo para o AKP de Erdogan que, se se contar com um anterior partido religioso e conservador (Partido do Bem-Estar, depois Partido da Virtude), controla Istambul desde 1994, quando o próprio Erdogan ganhou.

Num duro golpe para Erdogan e o seu AKP - que apesar de tudo continua o maior partido no país, inclusive nas municipais -, Imamoglu, de 49 anos, venceu por uma curta margem (apenas 23 mil votos ou 0,2 pontos percentuais) as eleições locais de 31 de março na capital económica e demográfica da Turquia (15 milhões de habitantes na área metropolitana). Após cerca de duas semanas de recontagem de votos, a autoridade eleitoral turca anulou a votação, revogou o mandato de Imamoglu e ordenou novas eleições, ao referir-se a irregularidades na composição das equipas que supervisionaram o escrutínio. Os críticos acusaram o organismo oficial de atuar sob pressão do partido no poder.

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