Imagem de rapaz adotado pela IURD não pode ser mostrada pela TVI
O Tribunal Cível de Lisboa deu razão à providência cautelar interposta por um rapaz que foi adotado por um bispo da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), cujas imagens foram mostradas na reportagem Segredos dos Deuses, da TVI. A estação de televisão terá de desfocar a imagem e proteger a sua identidade.
"Para o desenvolvimento da reportagem, na perspetiva do "interesse público" (em "denunciar" uma 'rede de adoções ilegais'), é irrelevante que os telespectadores saibam o nome real do A., tal como é irrelevante que vejam imagens suas em criança e/ou em adulto", refere o documento que dá razão ao jovem, cujas imagem em criança foram divulgadas em dois episódios desta série.
O jovem alega também que não autorizou a divulgação de imagens, em adulto ou criança, ou de factos relativos à sua adoção, "nem teve conhecimento prévio do teor das reportagens", avança o Público.
O autor da providência cautelar disse ao tribunal que, por causa da reportagem, "foi identificado por desconhecidos, que o abordavam e queriam falar sobre o tema ("adoção ilegal") acabando (...) por ter de dar explicações a desconhecidos, para esclarecer os factos". Afirma ainda que "acabou por reviver episódios da sua infância que queria esquecer - tendo ficado chocado e consternado com o conteúdo da reportagem, e continua a sentir frustração e impotência por ver a sua imagem diariamente devassada nos conteúdos disponibilizados online, como se vê na decisão a que o DN também teve acesso.
O juiz considera que "não pode, ou não deve, o tribunal proibir a transmissão de uma reportagem na sua totalidade", para proteger a pessoa que faz a queixa do conteúdo. Também não está em causa a liberdade abordar o caso, escrevem os magistrados, mas sim "e apenas", "a forma como a imagem e a identidade" da pessoa que foi adotada por um bispo da IURD.
Os alvos da providência cautelar são os autores da reportagem, Alexandra Borges e Judite França, e a direção da TVI, Sérgio Figueiredo, Judite Sousa, António Prata, Luís Salvador e Pedro Pinto.
Desde que a reportagem Segredo dos Deuses foi para o ar, em dezembro, outros jovens que alegadamente foram adotados por elementos da IURD vieram a público dizer que iriam processar a TVI. O trabalho levanta dúvidas sobre a legalidade, e transparência, do processo de adoção de crianças que estavam à guarda do Estado português por elementos da cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus.
Na sequência da transmissão desta séries de reportagens, a Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu um inquérito à atuação do Ministério Público no caso das adoções da IURD.
O DN contactou o diretor da TVI, Sérgio Figueiredo, que afirmou que a providência cautelar visava "obrigar a retirar trabalho na totalidade", acrescentando que a estação já enfrentou cinco processos semelhantes. "Quatro já foram decididas em tribunal, nenhuma deu razão à IURD", afirmou, numa mensagem escrita enviada ao DN.
(Notícia atualizada com a reação do diretor da TVI, Sérgio Figueiredo)