"Se transformamos o ritual numa operação de marketing para conquistar fiéis, estamos a enveredar por um caminho completamente errado", disse João Duque, que falava à agência Lusa a propósito das próximas Jornadas de Teologia da Universidade Católica do Porto, centradas na procura de respostas para o decréscimo de crentes..Na avaliação do diretor da FT-UCB e um dos oradores das jornadas, o ritual religioso deixa de o ser "se não for algo relativamente estável", pelo que "não é possível a qualquer comunidade religiosa inventá-lo permanentemente". .Ainda assim, João Duque admitiu celebrações diferentes para assembleias diferentes, nomeadamente as juvenis, mas sempre com o cuidado de "não entrar em demagogias demasiado fáceis"..Aludiu, a propósito, ao facto de algumas confissões religiosas optarem por rituais "mais sentimentais, que atraem no momento, mas que também bastante depressa provocam a desilusão, quando se começa a perceber onde é que se quer chegar profundamente"..Referindo-se ao recurso às novas tecnologias como forma alternativa e eventualmente mais aliciante de evangelização, o diretor da FT-UCB admitiu-o sobretudo como "primeiro impulso, de promoção de alguma atratividade pela celebração, mas sempre com o intuito de levar as pessoas à celebração presencial, direta"..Na sua leitura, o "diálogo vivo nunca pode ser abandonado por completo na celebração cristã, pois, de outro modo, não estamos a ser fiéis ao próprio cristianismo quanto à sua perspetiva de encarnação"..João Duque alertou, por outro lado, para a necessidade de a Igreja continuar a assumir o apoio aos mais carenciados como "um nervo" da sua atividade, mas sem utilizar esse serviço "como estratégia para convencer ou conquistar as pessoas e até, eventualmente, para ganhar mais poder"..Afirmar a Igreja Católica passa igualmente por credibilizar todos os seus agentes, o que inclui "continuar a exigir alta vigilância" relacionada com os riscos de posturas pedófilas, sublinhou..Essa vigilância não deve abrandar, mesmo depois de a hierarquia católica ter adotado "uma posição muito clara no sentido de afirmar que isso não pode ser e que não devemos encobrir", realçou.."Se isto é um assunto grave, não nos podemos descuidar", disse ainda..Portugal tem mais de nove milhões de católicos, mas dados dos últimos anos dizem que as igrejas estão progressivamente mais vazias, já que o número de fiéis praticantes não ultrapassa os dois milhões, assinala a organização das Jornadas de Teologia da Universidade Católica do Porto..João Duque referiu a propósito que a fé dos portugueses "mantém-se", embora em moldes diferentes dos de há um século, uma vez que "o leque das ofertas explicitamente religiosas ou parecidas com o religioso é muito mais vasto".