Igreja de São Cristóvão, em Lisboa, recupera tela do século XVII graças a 'crowdfunding'

A igreja de São Cristóvão, em Lisboa, vai voltar a expor uma tela do século XVII que retrata a Última Ceia, após a obra ter sido restaurada graças a uma campanha de 'crowdfunding', anunciou hoje o pároco.
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"A tela esteve este último ano e meio a ser tratada, porque estava muito estragada", disse à Lusa o padre Edgar Clara, explicando que o restauro da obra só foi possível com os cinco mil euros angariados em 'crowdfunding', através de donativos de mais de uma centena de pessoas, "99% portugueses", no âmbito do projeto "Arte por São Cristóvão".

Para retribuir os donativos arrecadados, os trabalhos finais de restauro da pintura do século XVII vão ser realizados "ao vivo" na igreja de São Cristóvão, a partir de quarta-feira, prevendo-se que a obra esteja "completamente restaurada" na próxima semana.

Na quarta-feira, estão também previstas quatro visitas guiadas à igreja, em diferentes horários: 11:00, 14:00, 16:00 e 20:00.

As iniciativas agendadas para quarta-feira integram o 'Watch Day', apoiado pela World Monuments Fund (WMF), organização internacional que tem como objetivo principal a preservação dos monumentos culturais no mundo, e que, em 2015, considerou a igreja de São Cristóvão como "um dos mais belos monumentos em risco e que merecem ser recuperados".

Na igreja existem várias obras de arte dos finais do século XVII, nomeadamente 35 telas da autoria de Bento Coelho da Silveira (1617-1708), que se encontram "quase ilegíveis", indicou o padre de São Cristóvão, frisando que a Última Ceia "merecia maior cuidado".

Desaparecida desde meados da década de 1950, a tela da Última Ceia foi encontrada há três anos, atrás do altar-mor da igreja de São Cristóvão, lembrou Edgar Clara, referindo que a obra estava bastante danificada.

De acordo com o pároco, a tela tem mais de três metros, mas "cerca de um terço desapareceu completamente".

"Foi feito um estudo de outras telas do mesmo período e chegou-se à conclusão, com a Direção-Geral de Património Cultural, que o melhor é não inventar, ou seja, assumir que desapareceu a parte de baixo da tela", explicou o padre Edgar Clara, acrescentando que para o trabalho de restauro "foi-se buscar a cor para preencher a mancha".

Durante a reparação da tela, os técnicos questionaram-se sobre o verdadeiro autor da obra, que se julgava ser o pintor régio Bento Coelho da Silveira.

"Muito provavelmente não é de Bento Coelho da Silveira", adiantou o pároco, referindo que "há todo um trabalho de investigação" com os historiadores da arte para descobrir o autor da tela.

A investigação dos técnicos que restauraram a tela vai ser apresentada na quarta-feira, às 19:00, numa conferência sobre "Os Segredos da Última Ceia de Bento Coelho da Silveira".

Lançado em abril de 2015, o projeto "Arte por São Cristóvão" tem organizado várias ações para promover e divulgar o património da igreja de São Cristóvão, atualmente degradado, pretendendo-se angariar apoios para reabilitá-lo.

Segundo o padre Edgar Clara, a reabilitação da igreja está a ser feita de forma faseada, uma vez que "a obra no total é de um milhão de euros".

A reparação do telhado é a primeira fase do projeto de reabilitação da igreja de São Cristóvão, que tem um custo de 144 mil euros, valor já angariado, pelo que a obra deverá começar "dentro de um mês".

O projeto "Arte por São Cristóvão" vai continuar a desenvolver iniciativas para custear as restantes intervenções na igreja, nomeadamente a reparação da estrutura elétrica, orçada em cerca de 60 mil euros, o restauro de todas as telas, no valor de 350 mil euros, e o conserto de todos os altares de madeira em talha dourada, no valor de cerca de 200 mil euros.

Questionado sobre o balanço do projeto, o pároco de São Cristóvão disse que tem "superado muito as expectativas" em relação ao apoio de pessoas particulares, indicando que falta a colaboração por parte de empresas.

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