O líder da aliança Unidas Podemos (UP), Pablo Iglesias, cedeu à pressão de Pedro Sánchez e desistiu de ser ministro no seu futuro governo. A decisão surge depois de o secretário-geral socialista ter rejeitado definitivamente inclui-lo no executivo, acusando-o de não defender a democracia espanhola. Sánchez vai submeter-se ao debate de investidura no dia 22, segunda-feira, e, sem acordo, havia o risco de levar o país para novas eleições, a 10 de novembro. Um cenário que ainda não está totalmente afastado.."Não serei a desculpa do PSOE para que não haja um governo de coligação de esquerdas", escreveu Iglesias nesta sexta-feira no Twitter, numa mensagem acompanhada de um vídeo. Mas também não deu carta-branca a Sánchez: "Estar ou não no Conselho de Ministros não será um problema, sempre que não haja mais vetos e a presença da Unidas Podemos no governo seja proporcional aos votos." O PSOE teve 7,5 milhões, a UP 3,1. "Sem vetos nem imposições podemos chegar a um acordo", indicaram fontes socialistas aos media espanhóis..A cedência de Iglesias surge após uma entrevista de Sánchez ao programa Al Rojo Vivo, da televisão La Sexta. "O principal obstáculo para um acordo é a participação de Iglesias no governo", tinha dito na quinta-feira. "Iglesias fala de presos políticos e eu preciso de um vice-presidente que defenda a democracia espanhola", acrescentou, deixando claro que o desacordo era grave quanto à Catalunha..O socialista não quis revelar que cargos Iglesias tinha pedido, mas fala-se de que era a "vice-presidência social", além do Ministério do Trabalho, do das Finanças e a área de comunicação. A contraproposta de Sánchez foi a de incorporar no executivo membros da UP, que podem até ser da direção dos partidos da aliança, lembrando que um "não" significará o fim de um governo de coligação. Iglesias tem defendido esta solução, que já representa uma cedência do socialista, que preferia a hipótese de um governo minoritário com apoio parlamentar - como a geringonça em Portugal..O socialista insistia que, depois deste debate de investidura, não haveria uma mudança de opinião para um eventual segundo debate, em setembro. Além do Podemos, o PSOE precisa de mais abstenções, sendo certo que os independentistas catalães da Esquerda Republicana da Catalunha estão dispostos a isso caso haja acordo entre Sánchez e Iglesias. Outros partidos mais pequenos também parecem dispostos a votar ao lado do PSOE ou a abster-se, o que deverá permitir a investidura na quinta-feira..Votação interna do Podemos.As declarações do primeiro-ministro não tinham caído bem no Podemos, que criticou os "ataques diretos" de Sánchez a Iglesias. O partido, que consulta regularmente os militantes em relação a decisões políticas, viu ainda na quinta-feira os seus apoiantes darem luz verde ao plano de Iglesias para a investidura: um governo de coligação, sem vetos no que diz respeito a eventuais nomes para o executivo..Na consulta online, 70% dos 138 mil militantes que responderam aceitaram o plano de Iglesias. A outra opção em cima da mesa era "um governo desenhado unicamente pelo PSOE, colaboração a níveis administrativos subordinado ao governo e ao acordo programático". A consulta, lançada ainda em plenas negociações, não agradou a Sánchez, sabendo-se que estes inquéritos no Podemos têm carácter vinculativo para a direção..Um apelo "por Espanha".Antes de Iglesias ceder, o socialista tinha estendido a mão ao Partido Popular e Ciudadanos. "Queremos um governo progressista. O nosso parceiro preferencial é a Unidas Podemos, mas não podemos deixar a investidura nas mãos de forças que não partilham um projeto comum. Por isso, PP e Ciudadanos deveriam abster-se. Não por mim, por Espanha", disse à La Sexta. Tanto Pablo Casado, do PP, como Alberto Rivera, do Ciudadanos, já disseram várias vezes não a Sánchez..Sem acordo com a UP, que terá que ser finalizado no fim de semana, o debate de investidura podia tornar-se o primeiro evento de campanha para a repetição das eleições, a 10 de novembro. O debate será um frente-a-frente entre Sánchez e os diferentes líderes partidários, mas pode ser também a oportunidade de estes medirem forças uns com os outros. Nas sondagens após as eleições de 28 de abril, o PSOE surge com uma intenção de voto superior à que obteve nas urnas, sendo certo que o Podemos era um dos que ficavam a perder..O cenário de repetição eleitoral não é inédito. A 26 de junho de 2016, os espanhóis tiveram de voltar às urnas depois de as eleições de 20 de dezembro de 2015 terem resultado num Congresso igualmente dividido - com a entrada em cena de Podemos e Ciudadanos. A repetição das eleições custou então 174 milhões de euros aos cofres espanhóis, dos quais 130 milhões foram por gastos de organização e os restantes 44 em subvenções pagas aos partidos. As eleições de dezembro já tinham custado 185 milhões..Debate e votação.Segunda-feira, 22 de julho Sánchez expõe o seu plano de governo a partir das 12.00 (11.00 em Lisboa). Não tem tempo-limite, ao contrário dos líderes dos grupos parlamentares, que têm meia hora para responder, mais dez minutos, uma vez ouvida a refutação do socialista, e três minutos finais. O debate vai do maior partido para o menor até às 20.30 (19.30), no máximo..Terça-feira, 23 de julho O debate reinicia-se às 09.00 (08.00 em Lisboa), sendo o PSOE o último a intervir. Segue-se o primeiro voto (em voz alta), em que Sánchez precisa de maioria absoluta, isto é, ouvir o "sim" de 176 deputados..Quinta-feira, 25 de julho Se não passar o primeiro voto, Sánchez terá 48 horas depois uma nova tentativa, precisando de maior simples (mais "sim" do que "não"). Votação é antecedida de um debate final em que terá seis minutos para falar, e os restantes intervenientes, cinco minutos.