Iggy Pop conquista Meo Arena. E os Massive Attack apresentam telejornal

Num dos concertos mais aguardados do segundo dia do Super Bock Super Rock, Iggy Pop começou com hinos dos Stooges.
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Com Iggy Pop não há que enganar: ele alimenta-se do rock, o rock alimenta-se dele e nós, os que aqui estamos, assistimos ao banquete de água na boca.

E logo no início do concerto desta noite no meo Arena, no segundo dia do festival Super Bock Super Rock, anunciou ao que vinha, com No Fun e I Wanna Be Your Dog, os hinos dos Stooges, o punk muito antes e depois do seu tempo.

Mas o tempo é um conceito estranho ao norte-americano Iggy Pop e a toda esta gente que o celebra aqui, esta noite. Depois veio The Passenger e Lust for Life. O concerto podia ter acabado, e toda a gente ia para casa feliz, mas ainda estava no início...

Iggy não para, sabe que é, literalmente, um deus rock vivo. E os crentes acreditam na imortalidade. Até entre os veteranos seguranças se veem bateres de pé, palmas, piscares de olhos e sorrisos cúmplices, mal se ouve a entrada de Real Wild Child. Antes já se havia regressado aos Stooges outra vez, com o hino 1969.

Para o novo álbum, o sublime Post Pop Depression, houve pouco tempo - apenas Sunday provocou a esperada reação. Pelo meio ainda houve o tumulto rock de Search and Destroy e Nightclubbing, a música escrita a meias com Bowie, do álbum de redenção The Idiot, o primeiro a solo, de 1977. E foi só isso mesmo que faltou, uma piscadela de olho ao melhor amigo. Ou como alguém gritou nas filas da frente: "E a China Girl?!?"

O calor de DeMarco

Entre Iggy Pop e Massive Attack, a pala do pavilhão de Portugal foi palco de um amor que cresce com a adolescência. Mac DeMarco vai sendo caso sério de popularidade em Portugal, com uma pop que ginga com o calor, que conversa com os corpos e desperta a dança e a pele e os sorrisos - como nos muitos adolescentes que vão respondendo (também eles) calorosamente. E desde o primeiro momento se sentiu a temperatura, com a sequência de abertura The Way You"d Love Her, Salad Days e No Other Heart, ou em momentos como Without Me.

E "foram as notícias": um scratch político

Na barragem sonora grave e pesada criada pelos Massive Attack há um scratching permanente da atualidade política que acompanha as composições do coletivo, que fecharam o dia no palco principal. Numa época em que os telemóveis nos alertam para o horror de Nice ou o golpe em curso (à hora do concerto) na Turquia, os Massive Attack colocaram no ecrã essas notícias carregando nas teclas e na desconstrução do discurso mediático.

Ao brexit e aos atentados, às bandeiras da Turquia ou do Hamas, ao património destruído ao longo dos séculos (e mais ainda nos últimos anos na Síria e na Iraque), também se soube que Kim Kardashian está na capa da Forbes ou Cristiano Ronaldo foi de férias com família. E que Portugal foi campeão europeu de futebol. A euforia é a mesma que acolhe o "je suis Charlie, Paris, Bruxelles, Orlando, Nice, Istambul, Bagdad ou Bangladesh", como se aquele público despejasse likes nas redes sociais ao vídeo de Éder ou às fotos de Nice.

À política, respondeu a música - já se percebeu. Com um inspirado Azekel, logo no início com Ritual Spirit, e uns notáveis Young Fathers em palco a interpretarem Voodoo in My Blood, He Needs Me, Old Rock and Roll e Shame, ou Deborah Miller a lançar o público para territórios mais familiares com Safe From Harm e Unfinished Sympathy, com que se despediu o concerto em grandes aplausos. O ecrã devolvia-nos (em português) a frase "Estamos juntos", com os olhos e os rostos de refugiados a sublinhar aquele "juntos". "Foram as notícias."

[texto atualizado com mais informação sobre os concertos de Iggy Pop, DeMarco e Massive Attack]

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