Identificadas zonas de preservação "essencial" para espécies que mudam de cor
Um estudo internacional, no qual participaram investigadores do Porto, identificou algumas zonas do planeta cuja preservação é "essencial" para conservar espécies que mudam de cor no inverno e que são ameaçadas pelas alterações climáticas, nomeadamente pela diminuição da neve.
As conclusões do estudo, que deu origem a um artigo publicado na revista científica Science, mostram que, nessas áreas - designadas polimórficas - diferentes espécies de mamíferos e aves que mudam a cor dos pelos ou da plumas no inverno, como as lebres, as doninhas e a raposa do ártico, têm uma maior probabilidade de se adaptarem às alterações ambientais provocadas pelas mudanças climáticas.
"Imaginemos uma sala com bolas brancas de um lado e castanhas do outro. Na área de transição, há bolas das duas cores. No caso destas espécies, que tendem a mudar de cor para branco no inverno, há também zonas onde permanecem castanhas todo o ano e outras onde há animais com as duas cores no inverno. Estas últimas são as polimórficas", explicou o investigador José Melo-Ferreira, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO).
Segundo indicou, os animais que mudam para branco no inverno distribuem-se em zonas do globo com maior cobertura de neve, enquanto os que permanecem castanhos, das mesmas espécies, estão em regiões com neve mais efémera ou inexistente, situação relacionada com a sua capacidade para permanecerem escondidos (camuflagem).
"A localização precisa destas populações varia de espécie para espécie, contudo, cruzando as distribuições das oito espécies estudadas, foi possível identificar regiões do globo onde duas ou mesmo três espécies diferentes têm uma zona polimórfica", referiu.
De acordo com os resultados do estudo, as zonas polimórficas partilhadas por diferentes espécies distribuem-se por grande parte do hemisfério Norte, no entanto, somente 10% das mesmas coincidem com áreas protegidas.
Estas áreas "deverão ser preservadas, uma vez que aí as populações têm maior probabilidade de se manterem perante as alterações climáticas, e mesmo de funcionarem como o reduto de novas populações", referiu o investigador do CIBIO-InBIO Paulo Célio Alves, também envolvido no projeto.