Ian McEwan criticado por comunidade transsexual
Autor premiado de obras intemporais como "Amsterdão" ou "Expiação", Ian McEwan, 67 anos, está agora no meio do fogo cruzado das críticas da comunidade transsexual e ativistas pelos direitos humanos. Tudo porque o escritor vencedor de um Booker Prize questionou o direito das pessoas em mudarem de sexo, durante um discurso que proferiu na Royal Institution, em Londres.
"Alguns homens na plena posse de um pénis andam agora a identificar-se como mulheres e a exigir a entrada em colégios femininos e o direito a mudar de roupa nos balneários femininos", afirmou McEwan, citado pelo jornal The Guardian. Tal como nos seus livros, o escritor britânico não poupou nas palavras e no grafismo linguístico para explicar o que pensa. "Chamem-me antiquado mas eu acho que as pessoas com pénis são homens", respondeu Ian McEwan a uma mulher da assistência que lhe tinha pedido para clarificar os seus comentários ofensivos.
"Mas eu sei que eles entram num mundo difícil quando se tornal transsexuais e nos dizem que são mulheres e que se tornaram mulheres. É interessante quando ouvimos o conflito entre as feministas e as pessoas deste grupo". É um "conflito amargo" chamou-lhe.
E até usou metáforas psicológicas que caberiam em qualquer uma das suas narrativas literárias. "O eu, como um consumidor desejável, pode ser arrancado das prateleiras de um supermercado de identidade pessoal, como um pequeno número preto pronto a usar".
Para McEwan é óbvio que sexo e raça são diferentes "mas também têm uma base biológica. Faz diferença ter um cromossoma X ou Y". O escritor questionou se os fatores biológicos e as normas sociais não limitariam a nossa capacidade de adotar um género diferente daquele com que nascemos.
As críticas vieram dos vários quadrantes liberais. O ativista pelos direitos humanos Peter Tatchell descreveu as afirmações de Ian McEwan sobre género como "autoritarismo ético".
A organização Stonewall, pelos direitos dos homossexuais, lésbicas e transsexuais, condenou as opiniões "não informadas" e "extremamente tristes" do autor. "A complexidade da identidade de género vai para lém da genitália. As pessoas transsexuais necessitam e merecem ter aceitação e igualdade".
Mas McEwan não foi o único intelectual a expressar opiniões polémicas sobre o tema da identidade de género, lembra o The Guardian. Em novembro, a académica e escritora australiana Germaine Greer, 76 anos, prosseguiu com uma leitura na Universidade de Cardiff numa atitude desafiante em relação a uma campanha que a queria calar por causa das suas ideias transfóbicas.
Germaine Greer afirmou que não aceitava a ideia de os homens "operados" ao sexo serem mulheres. "Eu não acredito que uma mulher é apenas um homem sem um pénis", disse a escritora à audiência atenta de Cardiff. "Podem bater-me na cabeça com um bastão de baseball. Ainda assim, não vou mudar de ideias".