O seu percurso como realizador vem da música, da realização de vídeos musicais. Era natural que o seu filme de estreia na ficção fosse sobre uma figura da música brasileira. Escolheu Elis Regina, a cantora que mais influenciou artistas de outras gerações....A Elis é a nossa maior cantora e o Brasil tem grandes cantoras! O seu segredo passava por aliar uma técnica muito grande a uma imensa entrega dramática. Além da grande artista que foi, interessava-me falar do seu papel maior no que toca a um exemplo para as mulheres no Brasil. Ela liberou um movimento feminino! Naqueles anos da ditadura, falava o que pensava e pagou caro por isso. Para este projeto, sempre me interessou captar o arco dramático desta vida. O filme tenta ajudar a que possamos compreender por que razão Elis se fragilizou tanto no final da sua vida, aos 36 anos. As pessoas não sabem que ela apenas se envolveu com drogas nos seus últimos meses de vida. Queria mostrar o que fragilizou este mito e acho que conseguimos captar a essência da Elis. Todos os que conviveram e conheceram Elis Regina aprovaram o filme..[youtube:GbgVYW8pZmg].Elis não evita o episódio onde vemos Elis Regina a atuar para o regime militar....Por alguma razão ela não foi dos artistas presos ou exilados... Muita gente na altura ficou danado com ela, mas Elis não tinha opção... Na verdade, a ditadura teve medo dela! A sua voz era muito importante no Brasil e os militares mantinham uma certa distância. Mesmo assim, houve uma altura em que a pressionaram e obrigaram-na a cantar. Na altura, ficou muito triste por ser acusada de ter vergado perante os militares..A Andréia Horta vinha da televisão e nunca tinha sido protagonista em cinema. O que é certo é que está cheia de "graça de câmara". Perceberam logo isso ou foi em testes de câmara que descobriram?.Apostei nela de caras! Já conhecia o seu trabalho... O que é curioso é que quase não foi possível a Andréia pois tinha no seu calendário um trabalho num filme. Felizmente, devido a compromissos com a Globo, não foi possível... Quando pensava que ela já não iria fazer o nosso filme, obviamente que passei muito tempo a ver outras atrizes, mas, depois, Andréia ficou livre e voltou para nós. O que queria era uma atriz com uma imensa força dramática já que a Elis era uma pessoa muito densa e profunda. Era difícil escalar uma atriz para ser Elis..E acredito que era um papel muito procurado..Todas as atrizes se pelam por encontrar uma personagem tão forte. Digo apenas que fizemos testes com grandes atrizes em São Paulo e no Rio. Muitas queriam fazer esta personagem, mas também atrizes conhecidas diziam logo que não iriam conseguir, que era muito arriscado....Este é um fim da toda-poderosa Globo. Sentiu alguma forma de controlo?.Tive cem por cento de liberdade. Nenhum controlo! Tivemos o Cacá Diegues como conselheiro e a representar a Globo Filmes, mas ele foi sempre muito económico e respeitador, apenas deu algumas indicações muito precisas. Enfim, foi apenas mesmo um conselheiro. A Globo não interferiu nada, deu um belo exemplo de como uma entidade televisiva pode participar numa produção para o cinema, ainda mais com uma personagem tão querida como Elis Regina. Mas eles sabem que têm de confiar no artista que está a fazer o filme..Obviamente era impossível em menos de duas horas o filme evocar todos os períodos musicais de Elis, mas houve algum em particular que o tenha deixado triste em passar ao lado?.Tanta coisa! Tive de deixar tanto de fora, especialmente o período com Milton Nascimento. Tive de me concentrar nas canções e nos factos que levavam o nosso filme adiante. Isto não poderia apenas ser uma homenagem..Já agora, a Maria Rita, a filha de Elis, viu o filme?.Viu, gostou muito e agradeceu. Gostou muito do trabalho do Caco Ciocler, o ator que faz de pai dela e que tem um grande trabalho de composição. Para os filhos de Elis este filme foi difícil... Trata-se da mãe deles. O Marcelo pediu--me para não ser convidado para mais sessões com debate..[youtube:xRqI5R6L7ow]