Hospitais no limite pagam até mil euros a médicos por urgência

Várias unidades, como a de Coimbra, tentam ir buscar médicos dos centros de saúde.
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Há hospitais que estão a tentar contratar médicos de família e a aumentar os pagamentos à hora, que chegam a mil euros por turno, para conseguir preencher ou alargar as escalas de urgência. O Centro Hospitalar do Barreiro/Montijo, por exemplo, que já teve mais de dez horas de espera na urgência, decidiu aumentar o valor para segunda-feira, diz 4, havendo empresas a oferecer 42 euros à hora. Em Coimbra e em Lisboa, há hospitais a tentar contratar médicos de família, que há anos estão dispensados deste serviço. O pagamento chega a ser o triplo do habitual.

Há dois dias, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, admitiu que alguns hospitais "estão a atingir os máximos da sua capacidade de resposta", renovando os apelos para a população não se dirigir aos serviços de urgência (ver segundo texto).

E este aumento da procura está a ocorrer numa fase em que ainda não se atingiu o pico da gripe, que este ano deverá estar mais próximo de fevereiro. Para dar resposta, as unidades têm várias medidas previstas, mas o recurso às empresas de prestação de serviços continua a ser uma delas.

Uma das ofertas que estão a chegar aos profissionais é para a escala de dia 4, pagando-se 42 euros por hora ou cerca de mil euros, caso o médico queira fazer o turno de 24 horas, (das 09.00 às 09.00), segundo o anúncio a que o DN teve acesso. Um dia que terá uma afluência acima do normal, o que é típico das segundas-feiras, e sobretudo porque surge após um fim de semana que se segue à passagem de ano.

O pagamento de 42 euros é acima dos cerca de 30 euros/hora por especialista, mas a empresa explica que este aumento se deveu a uma autorização do hospital no âmbito do plano de contingência para esta época. A unidade pagará mais do que este valor por hora, já que a empresa ainda fica com uma parte. Apesar da tentativa, o hospital não respondeu ao pedido de esclarecimento sobre qual o valor que pagará.

30 euros para médicos de família

As unidades hospitalares estão a tentar também recorrer a médicos de família. Um exemplo é o Centro hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), que oferece 30 euros à hora aos clínicos que queiram fazer turnos de 12 horas à noite, durante a semana, ou ao fim de semana, neste caso de dia ou de noite. A necessidade é urgente, imediata, e prolonga-se até 31 de março.

E o valor é pago sem recurso a empresas, o modelo que o ministro da Saúde pretende desenvolver - em caso de necessidade - mas que ainda está a ser trabalhado.

João Rodrigues, membro do sindicato e presidente da Associação Portuguesa das Unidades de Saúde Familiares (USF-AN), não tem dúvidas de que "haverá sempre gente interessada. O valor compensa. Um especialista ganha 20 euros por hora em média, e se for em início de carreira não passa de 10 euros".

O pedido do hospital foi transmitido a 21 de dezembro pelo diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Baixo Mondego aos centros de saúde da região. O Sindicato dos Médicos da Zona Centro questionou as consequências que estas contratações podem ter para o atendimento nos centros de saúde. Apesar de o DN ter contactado o CHUC na terça-feira, não recebeu resposta.

João Rodrigues acrescenta que "já foi enviado um pedido de esclarecimento ao ministro da Saúde. Quando em 1982 foi criada a carreira dos médicos de família esta trouxe uma grande vitória, que foi permitir que os médicos se dedicassem a 100% ao seu ficheiro de doentes."

Numa altura em que se está a tentar evitar que as pessoas vão as urgências, o responsável considera que estas contratações são um contrassenso. "Se vão tirar os médicos de família, é natural que as pessoas vão lá." E critica que se retirem profissionais a unidades que apenas têm 71 ao todo.

Tal como o comunicado do sindicato, lembra que se os "médicos tiverem direito ao descanso no dia seguinte, não vão fazer o trabalho deles. Se forem podem correr riscos e tratar os doentes com menos qualidade por causa disso".

Este exemplo está "longe de ser único", diz o mesmo médico. E uma fonte da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo confirma. "Quase todos os hospitais estão a tentar captar médicos de família, mas é difícil, especialmente não se garantindo o descanso". O Hospital Amadora-Sintra era um dos que previa recorrer a médicos de família no seu plano de contingência. Nesta altura, dois médicos colombianos que estavam em centros de saúde, também estão a dar apoio a urgências, acrescentou a mesma fonte.

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