Homem que limpava casa de Gantz acusado de espiar a favor do Irão

Suspeito, contratato para trabalhar para o ministro da Defesa apesar do longo cadastro, ofereceu os seus serviços a um grupo de piratas informáticos com alegadas ligações a Teerão.
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Um homem que fazia a limpeza na casa do ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, foi detido pelas autoridades depois de ter oferecido os seus serviços como possível espião ao grupo de piratas informáticos Black Shadow, com alegadas ligações ao Irão. O caso foi detetado antes que qualquer informação pudesse ser passada, mas está a fazer soar os alarmes. É que o suspeito, de 37 anos, já foi preso 14 vezes, condenado cinco vezes entre 2002 e 2013 e cumpriu pena em quatro ocasiões por assaltos a bancos e invasão de propriedade, não se compreendendo como pode ter sido contratado para trabalhar para o ministro.

De acordo com a acusação publicada pelo Ministério da Justiça de Israel, Omri Goren Gorochovsky, residente na cidade de Lod, foi detido no dia 4 de novembro. Segundo um comunicado do Shin Bet (a agência de segurança interna), o suspeito entrou em contacto com "uma figura ligada ao Irão e ofereceu-se para o ajudar, de diferentes formas, tendo em conta o seu acesso à casa do ministro", em Rosh Haayin, nos arredores de Telavive.

Na acusação, a figura é identificada como um representante do grupo Black Shadow, responsável por um ataque informático a vários sites israelitas no mês passado. Terá sido depois desse ataque que Gorochovsky entrou em contacto com o grupo, usando um nome falso, através da aplicação de mensagens Telegram. Nessa altura, ofereceu-se para transferir informação da casa do ministro ou introduzir malware (programa informático malicioso) no computador de Gantz em troca de dinheiro.

"De forma a provar a sua capacidade e sinceridade, Omri tirou fotografias de vários objetos em diferentes partes da casa do ministro", de acordo com o Shin Bet. A secretária, o computador, uma caixa identificada como contendo dados das Forças de Defesa de Israel, um cofre, fotos da família de Gantz e até recibos foram fotografados, com as imagens a serem enviadas pelo Telegram antes de serem apagadas do telemóvel. A própria conversa foi também apagada. O Shin Bet alega que o funcionário não tinha acesso a "material classificado", pelo que não foi possível partilhar qualquer segredo.

Ainda assim, Gorochovsky foi acusado de espionagem e pode ser condenado a dez a 15 anos de prisão. Mas o advogado de defesa, Gal Wolf, disse à rádio pública israelita que a acusação "cresceu em volume e seguiu numa direção que não condiz com as provas", já que o seu cliente não tinha intenção de pôr em causa a segurança do Estado.

O facto de o suspeito ter sido contratado para trabalhar na casa de Gantz, apesar de ter um longo cadastro, está também a levantar questões. Gorochovsky trabalhava há vários anos na área das limpezas, mas não é claro há quanto tempo na casa do ministro. A oposição já pediu para o caso ser debatido na comissão de Assuntos Externos e Defesa do Knesset. O Shin Bet também lançou uma investigação "de forma a reduzir as hipóteses de repetição deste tipo de incidente no futuro".

O grupo de piratas informáticos Black Shadow reivindicou uma série de ataques a sites israelitas. No último teve como alvo os servidores da empresa Cyberserve, tendo sido roubados, entre outros, dados de uma popular aplicação de encontros da comunidade LGBT e informações médicas do Instituto Mor. O grupo exigiu o pagamento de um milhão de dólares para não revelar os dados, exigência que não foi cumprida.

Apesar de se alegar que o grupo tem ligações ao Irão (o grande inimigo de Israel), os especialistas dizem que não há provas. Esta não seria contudo a primeira vez que Gantz, que antes de ser ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro foi chefe do Estado-Maior General de 2011 a 2015, seria alvo de piratas iranianos. Em 2019, o seu telemóvel pessoal foi pirateado.

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