Homem matou duas pessoas junto a uma sinagoga na Alemanha e transmitiu ataque. Vídeo tem 35 minutos

Os disparos contra uma sinagoga na cidade alemã de Halle foram transmitidos em direto através de uma plataforma de streaming, usada, sobretudo, por jogadores. Morreram duas pessoas. O Twitch, plataforma da Amazon, já retirou o vídeo do ataque antissemita.
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Em direto para o mundo. Um homem fez vários disparos junto a uma sinagoga na cidade de Halle, a leste da Alemanha. Duas pessoas morreram. Um ataque que teve motivações antissemitas e que foi transmitido em direto através da plataforma Twitch.

O vídeo do ataque tem 35 minutos e mostra o suspeito, que foi detido pela polícia, a disparar depois de ter sido impedido de entrar no templo religioso, onde se estava a celebrava o Yom Kipur, um dos dias mais sagrados do judaísmo, dedicado ao perdão.

A plataforma usada principalmente por jogadores de videojogos, comprada pela Amazon em 2014, retirou o vídeo do ataque que teve motivações antissemitas, afirmaram as autoridades alemãs.

Vídeo do ataque retirado

"Retiramos esse conteúdo o mais rápido possível e suspendemos todas as contas que publicaram ou republicaram as imagens deste ato abominável", disse à France Press Brielle Villablanca, porta-voz da plataforma de streaming, dedicada sobretudo aos videojogos e e-sports.

"O Twitch tem uma política de tolerância zero contra condutas de ódio e qualquer ato de violência é levado a sério", acrescentou a responsável.

O vídeo terá sido visto por apenas cinco pessoas durante o ataque, informou a empresa, e por cerca de 2200 pessoas nos 30 minutos após o ataque e antes de ser retirado pelo Twitch.

"Este vídeo não apareceu em nenhuma recomendação ou diretório", afirmou a plataforma num comunicado divulgado no Twitter. "A nossa investigação sugere que as pessoas estavam a coordenar e a partilhar o vídeo através de outros serviços de mensagens online", reconhece o Twitch.

Apesar de ter sido retirado da plataforma de streaming, o vídeo foi, no entanto, descarregado e partilhado na internet, tendo sido divulgado no Telegram, uma aplicação de mensagens codificadas e usada por extremistas.

O jornal francês Le Monde revela que o autor do ataque filmou e difundiu o atentado em direto através da Internet, sendo que as imagens terão sido filmadas por um telemóvel fixado no capacete que usava.

O vídeo mostra, igualmente, um manifesto do atirador onde explica as suas motivações "com uma retórica violenta antissemita e antifeminista".

Além das duas vítimas mortais, um homem e uma mulher, há a registar dois feridos graves. Mas o balanço deste ataque à sinagoga na cidade alemã de Halle podia ter sido pior.

O homem, fortemente armado, tentou entrar no templo religioso, mas sem sucesso. Disparou contra a porta da sinagoga, tendo até recorrido a explosivos. Não conseguiu entrar e, muito provavelmente, muitas vidas foram poupadas. No interior da sinagoga estavam cerca de 70 a 80 pessoas, que celebravam o dia mais sagrado do calendário judaico, o Yom Kipur, disse Max Privorozki, líder da comunidade judaica de Halle, à revista alemã Der Spiegel.

Dentro do templo religioso, as pessoas ouviram os tiros e explosões. Uma câmara montada na entrada da sinagoga mostrava alguém a tentar entrar, descreveu.

"A porta ficou fechada, Deus protegeu-nos", disse Privorozki. A situação "durou talvez cinco a dez minutos".

O momento a seguir é o que se vê num vídeo divulgado no dia do ataque por vários meios de comunicação. Um indivíduo, junto a um carro, a disparar indiscriminadamente junto à sinagoga.

Ataque a duas mesquitas na Nova Zelândia transmitido ao vivo

Este é já o segundo ataque extremista a ser transmitido ao vivo este ano. A 15 de março, um tiroteio em duas mesquitas de Christchurch, na Nova Zelândia, foi transmitido em direto. O atirador, Brenton Tarrant, um homem de 28 anos nascido na Austrália, matou 51 pessoas, naquele que foi o pior tiroteio de sempre na Nova Zelândia.

Meses depois, em junho, um homem neozelandês foi condenado a 21 meses de prisão por difundir os vídeos do massacre nas duas mesquitas de Christchurch.

O homem transmitiu vídeos do tiroteio em direto no Facebook. Segundo a Radio New Zealand, Philip Arps, de 44 anos, considerou-se culpado de dois crimes de distribuição de material sensível, depois de partilhar cópias do direto com cerca de 30 pessoas.

O governo da Nova Zelândia proibiu a divulgação de vídeos do massacre, que é punível com até 14 anos de prisão.

Transmissão ao vivo é "uma ferramenta de radicalização interativa"

"A transmissão ao vivo permite que extremistas amplifiquem as suas ações, mas ainda mais, levando os seus apoiantes e outros que desejem inspirar na sua caminhada", disse Oren Segal, diretor do Centro de Extremismo da Liga Anti-Difamação, ao The Guardian.

"É uma ferramenta de radicalização interativa que também ajuda a espalhar conteúdo que pode inspirar o próximo atacante", acrescentou Segal.

O jornal britânico teve acesso ao vídeo que o atirador transmitiu enquanto disparava contra a sinagoga de Halle. Começa com o suspeito a falar inglês, identificando-se como Anon. Declarou-se antissemita, antifeminista e um negacionista do Holocauto. Para o especialista, estes criminosos "preparam a sua estratégia nas redes sociais" enquanto usam armas. "Este é o terrorista moderno", classificou Oren Segal.

Tal como aconteceu no ataque às mesquitas na Nova Zelândia, o atirador de Halle também publicou online um manifesto antes do ataque. Partilhou três documentos, nos quais explica as suas motivações, bem como o armamento utilizado. Material que foi partilhado no site Kohlchan, de acordo com o Centro Internacional para o Estudo da Radicalização no King's College London, escreve o The Guardian.

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