Nas Caldas da Rainha hoje será um dia especial. O clube joga hoje (20.15, SportTV1) pela primeira vez a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal, na Vila das Aves, contra o Desportivo local (segunda mão é a 18 de abril), e esse ambiente já se vivia ontem na cidade do Oeste. Faziam-se os preparativos para a viagem até ao Norte, onde são esperados 1500 adeptos, mas antes da partida a maioria dos jogadores do Caldas esteve a... trabalhar..Por volta das 14.00 era visível alguma azáfama, com bandeiras do clube em várias varandas, à espera de que os jogadores passassem num autocarro decorado antes da partida para a Vila das Aves. A viagem só foi feita depois do almoço porque a grande maioria dos futebolistas teve de trabalhar. Mesmo entre os adeptos, houve quem tivesse terminado o trabalho mais cedo. Caso de Carlos Machado, dono do café Merlot, que deixou um recado à porta do seu estabelecimento: "Encerramos a 27 à tarde e reabrimos a 29." "É futebol amador, quase todos trabalham e não podem faltar", conta o homem de 48 anos, que acompanhará a equipa à Vila das Aves, "para fazer história", confia o adepto..Dos 23 jogadores do plantel, apenas dois são profissionais. O resto ou "estuda ou trabalha", como o próprio capitão, Rui Almeida. "Hoje [ontem] ainda tive de dar aulas, mas esta é a nossa rotina. O futebol é uma paixão, mas neste escalão ou estamos no início de carreira e sonhamos com algo mais ou quando já temos muitos anos disto temos de conciliar com uma profissão", desabafou ao DN..Ainda assim foram vários os empregadores que libertaram os jogadores para o "jogo das suas vidas". "Muitos tiveram de meter férias ou algumas horas para poderem ir já hoje (ontem) para cima. Não é comum estágios, mas este é um jogo diferente e muitos entenderam e deram o dia, noutros casos não foi possível. Ainda quis marcar uma reunião com o capitão de manhã, mas ele foi dar aulas, tal como o treinador que também teve de ir trabalhar", confessou ao DN o presidente do Caldas, Jorge Reis..Almoço e confiança na bagagem.É assim a vida da maioria dos novos heróis da cidade. Levantar cedo, trabalhar e ao final do dia treinar. Não há praticamente dias de descanso, pois ao fim de semana realizam-se os jogos do Campeonato de Portugal. Ainda no último fim de semana jogaram nos Açores e regressaram na madrugada de ontem, com alguns jogadores a terem de ir trabalhar bem cedo. "É a nossa vida, estamos habituados. Eu, por exemplo, costumo trabalhar de manhã e só depois faço a respetiva recuperação física", descreveu Pedro Emanuel, o herói dos quartos-de-final, que apontou dois dos golos com que o Caldas afastou o Farense, por 3-2..Cumpriram as suas obrigações, mas depois ao almoço tiveram tempo de confraternizar, num repasto oferecido pela Escola de Hotelaria das Caldas da Rainha. "Foi o início do estágio, fora do comum, mas entendemos que este jogo merecia uma atenção especial e temos de agradecer a quem nos ajudou, nomeadamente os patrocinadores", alegou o presidente..A confiança reina no balneário do Caldas. Todos sabem que não será fácil afastar uma equipa da I Liga da final da Taça de Portugal, mas garantem que também não será fácil para o Desportivo das Aves. "É o jogo mais importante das nossas carreiras e queremos demonstrar isso dentro de campo. Será complicado, mas a esperança existe e vamos fazer tudo para chegar ao Jamor", disse Rui Almeida. Do lado da direção, a confiança também é grande.."Agora que chegámos aqui temos ainda mais esperança. A cabeça dos jogadores está neste jogo. No fim de semana, quando perdemos nos Açores, viu-se isso. Não há volta a dar. Conheço-os e sei que querem chegar ao Jamor e confio neles", afirmou o líder do emblema das Caldas..Há direito a prémio de jogo.Os jogadores "ainda não sabem", mas Jorge Reis admitiu ao DN que em caso de triunfo os futebolistas terão direito a um prémio "fora do normal". "O Caldas não paga prémios de jogo. Preferimos cumprir as nossas obrigações financeiras com os jogadores e para isso temos de ser rigorosos. Mas este jogo é diferente. Em caso de vitória também temos direito a um prémio financeiro e assim a direção entendeu que os futebolistas também. Oxalá consigamos oferecer-lhes", salientou o presidente, que em janeiro segurou alguns dos principais jogadores que já eram cobiçados.."É claro que esta campanha fez alguns clubes olharem para os nossos jogadores, mas entendemos que não era a altura para saírem. As ofertas também não iriam ajudar o clube no imediato, pelo que, e como cumprimos as nossas obrigações, os jogadores que têm um compromisso até final da temporada também teriam de o fazer", salientou..Hoje, o Caldas joga o primeiro de dois rounds rumo a uma presença histórica na final do Jamor. O segundo jogo, em casa, está marcado para 18 de abril.