Trinta anos após o primeiro transplante, podemos dizer que Portugal começou com atraso mas está hoje entre os melhores? T.Estamos a fazer cá o que fazem os parceiros na Europa Ocidental e em quantidade semelhante. Portugal começou com dez anos de atraso mas temos de pensar o que era o país nessa altura. O atraso na medicina era igual ao existente a nível social, económico. Hoje estamos em bom nível no número de doentes transplantados, no número de unidades e no tipo de procedimentos realizados..Houve evoluções importantes?.Há vários tipos de transplantes e hoje há maior diversidade. Podemos fazer com células do próprio doente ou de dador. Aplica-se não só em doenças oncológicas, com a leucemia como principal, mas também nas doenças congénitas, em deficiências de imunidades. O espetro de doenças é maior..Como se chega ao transplante e se toma a decisão? O futuro é haver mais transplantes?.É uma decisão médica. Mas diria que é uma proposta médica colocada à equipa de transplantes e que depende da bondade do doente que tem sempre palavra. Hoje, fazemos transplantes em mais doenças e transplantamos em faixas etárias mais velhas, devido aos procedimentos mais seguros, o que antes não era feito. E o número de dadores aumentou muito, antes estava limitado a irmãos, hoje tem quase 300 mil inscritos que podem dar células para qualquer parte do mundo..Há grande percentagem de dadores que servem transplantes?.A maior parte dos dadores não são chamados. As dádivas utilizadas por ano não devem chegar às 500. E falamos da sua utilização em Portugal e no mundo. Temos uma grande diáspora e isso leva a que haja pedidos dos EUA, França e outros porque há doentes lá com genes portugueses. Mas foi verdadeiramente impressionante o crescimento. No ano 2000 só tínhamos 5000 dadores..Os IPO de Lisboa e Porto concentram os transplantes?.Sim, mais de metade são realizados nos IPO, 100 em Lisboa e 150 no Porto por ano. Mas temos ainda os hospitais de Santa Maria, dos Capuchos, temos em Coimbra e no São João no Porto. Por ano realiza-se uma média de 500..Qual o número de crianças?.São 30 a 35% dos doentes. Aumentou e isso tem que ver com o alargamento a doenças não oncológicas, como o tratamento a tumores do sistema nervoso..Quem faz transplante da medula tem sempre recuperação difícil?.Com dadores, é mais complicado e as limitações são mais significativas. Há quem o tenha feito há 20 anos e tenha uma vida normal. Infelizmente nem sempre sucede. É um procedimento muito complicado e a primeira conversa com os doentes é dura. É preciso frontalidade e capacidade de luta dos doentes. A equipa, o trabalho em conjunto, é a chave do sucesso..Há a ideia de que os transplantes são muito caros?.Não é verdade. Os medicamentos são baratos, os grandes custos é com médicos e enfermeiros. Há áreas da cirurgia muito mais caras e com taxas de sucesso muito menores. Não é o custo o principal motor das unidades, é ser eficaz no tratamento dos doentes.