Histórico. Supertaça Europeia vai ser apitada por uma mulher
A Supertaça Europeia, que vai colocar frente a frente a 14 de agosto o vencedor da Liga dos Campeões, o Liverpool, e o da Liga Europa, o Chelsea, vai ser arbitrado por uma mulher, a francesa Stéphanie Frappart.
Será a primeira vez que uma árbitra vai dirigir um encontro de uma das principais competições da UEFA, com o Besiktas Park, em Istambul, na Turquia, uma partida que será histórica - a suíça Nicole Petignat, entre 2004 e 2009, apitou três jogos da fase de qualificação da Taça UEFA.
Frappart apitou a final do recente Campeonato do Mundo de futebol feminino, entre os Estados Unidos e a Holanda, na cidade francesa de Lyon. Em abril, a francesa de 35 anos já tinha feito história ao tornar-se a primeira mulher a arbitrar na I Liga do seu país, um jogo entre o Amiens e o Estrasburgo, depois de cinco anos na II liga francesa.
O presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, congratulou-se pela decisão: "Disse em várias ocasiões que o potencial do futebol feminino não tem limites e estou encantado por Stéphanie Frappart ter sido nomeada para arbitrar o jogo da Supertaça Europeia deste ano com as assistentes Manuela Nicolosi and Michelle O'Neal."
Além dos cinco anos de experiência no segundo escalão gaulês, a árbitra de Val-d"Oise, nos arredores de Paris, esteve no Mundial feminino de 2015, no torneio feminino dos Jogos Olímpicos de 2016, no Campeonato da Europa feminino de 2017 e dirigiu a final do Mundial feminino sub-20 no ano passado.
A paixão pelo futebol surgiu em tenra idade e a curiosidade em aprender mais sobre o jogo levou-a para arbitragem. "Comecei a jogar futebol no pátio da escola quando tinha nove ou dez anos. Depois foi a um clube para praticar e rapidamente quis aprender as regras. Depois tirei o curso e comecei a arbitrar jogos de futebol feminino e de futebol de formação em Val-d'Oise. Na altura, jogava e apitava", contou, numa entrevista concedida em setembro de 2016 ao Le Nouvelle République .
Porém, perante o pouco desenvolvimento do futebol feminino quando tinha 18 anos, optou definitivamente pela arbitragem. Daí para cá, tem subido a pulso e confessa sentir-se respeitada. "Há respeito. Provavelmente a abordagem e as palavras são diferentes por ser mulher. A contestação existe, mas talvez os jogadores tenham mais paciência comigo do que com outros árbitros", admitiu.
Agora, vai realizar um sonho, o de arbitrar na principal liga francesa, um objetivo de longa data. Na entrevista concedida há quase três anos, assumiu o objetivo, mas não mostrou ter pressa. "A velocidade, o impacto e a cobertura da comunicação social são diferentes. É preciso muita experiência", frisou a única mulher, entre mil, capaz de viver da arbitragem, graças a um salário fixo ao qual se juntam subsídios de jogo.
Antes dela, apenas três mulheres arbitraram na liga francesa, mas como árbitras assistentes: Nelly Viennot, Corinne Lagrange e Ghislaine Perron-Labbé.
A notícia da estreia de Stéphanie Frappart na liga francesa surge quase dois anos depois de a alemã Bibiana Steinhaus se ter tornado a primeira árbitra a atuar num grande campeonato profissional, durante a partida entre o Hertha Berlim e o Werder Bremen. "Alguém teria de ser a primeira. Tocou-me a mim, podia ter sido outra. Mas trata-se de um bonito desafio para alguém cujo maior sonho era apitar na Bundesliga", afirmou na altura, em setembro de 2017.
Comissária da polícia e companheira do ex-árbitro inglês Howard Webb, não deu grande importância à questão do sexismo. "Nunca foi o meu objetivo ser um exemplo da emancipação das mulheres, mas sim arbitrar bem. Isso é o que me importa", afirmou, três anos depois de se ter imposto perante Pep Guardiola, quando este lhe agarrou a mão e lhe pôs a mão no ombro, avisando-o para não o fazer e ordenando para que o então treinador do Bayern Munique se afastasse.
Porém, nem tudo são rosas para a arbitragem feminina. Em 2015, Bibiana eu ordem de expulsão ao jogador Kerem Demirbay, num jogo entre o Fortuna de Dusseldorf e o Estugarda, e este fez-lhe um gesto feio, além de a ter criticado no final do jogo: "As mulheres não têm nada que apitar jogos de futebol."